O Prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos da Santa Sé, Cardeal valenciano Antonio Cañizares, advertiu esta quinta-feira da "forte quebra da humanidade" e destacou que a Igreja "não pode permanecer alheia aos problemas que se expõem no campo social, cultural, econômico e político" porque, tal como sublinhou, "nada verdadeiramente humano é alheio" à Igreja.

O Cardeal Cañizares pronunciou estas palavras durante sua investidura como Doutor Honoris Causa da Universidade Católica de Valência São Vicente Mártir (UCV) na presença de autoridades da universidade e civis. Também participaram da cerimônia, que se celebrou no Palau dos Arts Rainha Sofia, o Arcebispo de Valência e grande chanceler da UCV, Dom Carlos Osoro; o reitor da universidade, José Alfredo Peris, e o vice grande chanceler, José Tomás Raga, que foi o padrinho da investidura, por isso se encarregou que ler a 'laudatio'.

O Cardeal Cañizares lamentou a "gravíssima quebra econômica e social" atual, assim como os "ideais" do homem ocidental atual, como "o bem-estar, o dinheiro, o sexo, a evasão, o gozo narcisista, o viver bem e desfrutar, o consumo e o gozar do corpo e da vida em liberdade onímoda e a permissividade".

Desta forma, "a própria transcendência e a expressão religiosa ficam, com freqüência, nos limites da casca da pele, na superfície", criticou. Assim, manifestou que "Deus fica relegado às margens da vida" e, neste sentido, considerou "inaceitável" a pretensão de alguns de "reduzir a religião católica ao âmbito estritamente privado".

Na sua opinião, "a fé cristã é para a totalidade da vida", por isso "não se pode reduzir a experiência cristã à esfera da intimidade ou vivê-la de um modo individualista ou desencadeado".

Nesta linha, incidiu em que "com pleno respeito à autonomia da ordem temporária, sem ingerências abusivas que transpassariam sua própria missão e o papel que lhe corresponde", a Igreja "não pode permanecer alheia aos problemas que se expõem".

O Cardeal Cañizares assegurou que "em meio à noite escura do ateísmo coletivo" sente "o dever premente e a chamada urgente a assinalar" que "o único necessário para o homem é Deus".

Neste sentido, lamentou que o "abandono" atual de Deus é "o acontecimento mais grave destes tempos de indigência no Ocidente" aos que, em sua opinião, "não se pode comparar a outros em radicalidade e em suas gravíssimas conseqüências desumanizantes".

"Estamos assistindo a momentos de não pouca confusão" nos quais "tudo vale, tudo é opinável em relação à fé", advertiu o Cardeal valenciano, quem criticou que, em algumas ocasiões, "dá-se mais credibilidade àquilo que que dizem certas correntes ou criadores de opinião ao que se costuma dar ao Papa ou aos bispos".

O Cardeal frisou que "honra" poder pertencer ao claustro de doutores da UCV pela Faculdade de Ciências Sociais e Jurídicas "em atenção à defesa" que faz de "direitos humanos inalienáveis e liberdades fundamentais", entre as quais citou "o direito à vida em todas suas fases, o amparo da família e sua verdade, a liberdade de ensino e a liberdade religiosa em toda sua amplitude".