Um conhecido analista eclesial diz que a eleição de Dom Timothy Dolan como presidente da Conferência Episcopal dos EUA é uma confirmação de que os bispos querem um líder forte e abertamente claro para guiar a Igreja em uma cultura cada vez mais polarizada e secular. O especialista é Rocco Palmo, que escreve o blog Whispers in the loggia, sobre a Igreja nos EUA e foi entrevistado pela agência Catholic News Agency, do grupo ACI.

Poucos especialistas teriam previsto que o arcebispo Dom Timothy M. Dolan, de Nova Iorque seria escolhido como presidente da Conferência Episcopal dos EUA. Ele ganhou a eleição em um segundo turno disputado com Dom Gerald Kicanas de Tucson, no Arizona, e que era o vice-presidente da conferência. A eleição produziu resultados divididos como antes antes se havia observado, especialmente considerando o fato de que a escolha do vice-presidente atual como cabeça da conferência é praticamente unânime. Esta foi a primeira vez que um atual vice-presidente não foi eleito presidente da Conferência Episcopal norte-americana, explica a nota escrita por Marianne Medlin na matéria da Catholic News Agency.

O analista de temas da Igreja nos EUA Rocco Palmo chamou a movida de uma "mudança sísmica", em uma entrevista concedida à Catholic News Agency (CNA). Ele afirmou que a eleição do arcebispo Dolan indica um desejo por parte dos bispos de continuar a tendência de uma liderança forte e aberta.

Dado que uma maioria de 50 por cento é exigida para um candidato ser eleito, a votação teve que ser feita três vezes antes que o presidente fosse escolhido.

Os contendores com mais chances entre os 10 candidatos à presidência eram o arcebispo Dolan e Bispo Dom Kicanas. Na terceira votação, o prelado de Nova Iorque obteve 128 votos (54 por cento) e o Bispo Kicanas recebeu 111 votos (46 por cento).

A votação para vice-presidente foi igualmente disputada. Os dois principais candidatos ao cargo eram o arcebispo Joseph Kurtz de Lousiville, Kentucky, que venceu com 147 votos sobre o arcebispo Charles Chaput, de Denver, que obteve 91.

Assim esta eleição de 16 de novembro foi histórica posto que os bispos têm, tradicionalmente, eleito o vice-presidente para servir como o próximo presidente do organismo.

Segundo a nota da CNA Dom Kicanas havia enfrentado polêmica por supostamente permitir que um seminarista, com uma história de má conduta sexual com um menor de idade fosse ordenado durante seu período como reitor do Seminário Mundelein na Universidade de St. Mary of the Lake, no estado de Illinois. O então Padre Kicanas tornou-se encarregado do seminário em 1984 e o sacerdote em questão, o Pe. Daniel McCormack, foi ordenado em 1994.

O Pe. McCormack, mais tarde, foi acusado de abusar sexualmente de 23 meninos. Em 2006 ele foi suspenso do ministério ativo por acusações de que ele abusou sexualmente de outros dois menores de idade. O Pe. McCormack foi condenado à prisão por cinco anos em 2007.

Dom Kicanas negou as alegações de que ele conhecia o histórico do sacerdote antes de sua ordenação.

Em um comunicado após a sua derrota em 16 de novembro, Dom Kicanas disse: "Eu respeito a sabedoria de meus irmãos bispos para escolherem o seu novo presidente e vice-presidente."

"Dom Timothy Dolan tem sido um amigo de muitos anos desde o nosso trabalho conjunto no seminário", acrescentou. "Eu sei da sua grande inteligência, o espírito jovial, grande habilidade em se relacionar com pessoas de uma maneira profundamente pessoal e as suas qualidades excepcionais de liderança."

Audíveis suspiros foram ouvidos na sala enquanto a votação para a presidência se reduziu entre o arcebispo Dolan e Dom Kicanas, na manhã de terça-feira.

"Ainda estou sem fôlego", disse Rocco Palmo, autor do respeitado blog Whispers in the Loggia à CNA, logo após a eleição. "Nunca antes na história" um atual vice-presidente deixou de ser eleito presidente da conferência.

A única ocasião na existência da conferência, onde o vice-presidente não foi eleito como presidente foi um caso em que o candidato em questão, o Cardeal John Carberry de St. Louis, teria se aposentado antes do final de seu mandato de três anos como presidente.

"Isso representa uma mudança sísmica", disse Palmo. "Acima de tudo, é uma indicação de tudo o que o Cardeal George tem sido e feito durante o seu mandato nos últimos três anos no sentido de elevar o nível de franqueza dos bispos em clareza e coragem moral, especialmente na luta pela reforma da saúde. Os bispos norte-americanos, na pessoa do Cardeal George, repudiaram consistentemente a reforma que o presidente Obama impulsionou na área da saúde pública, pois esta, como está atualmente desenhada, a lei da reforma da saúde deixa a portar aberta para a realização do aborto com fundos públicos. Os bispos são a favor de que todos tenham planos de saúde, mas não podem aceitar o financiamento do aborto entre as propostas da nova legislação.

É também uma indicação da posição de ascensão do arcebispo Dolan, disse Palmo. O arcebispo de Nova Iorque "tem sido sumamente forte em sua defesa do Santo Padre e na defesa do direito dos católicos a serem tratados de forma justa na imprensa, como ele o vê".

"Literalmente, parece que o mundo está observando", Palmo acrescentou. "A notícia já está sendo espalhada ao redor."

Palmo também disse que a eleição mostra um desejo por parte da conferência de manter uma "nova tradição" de "liderança forte".

Devido ao papel do arcebispo Dolan como chefe da que é uma das arquidioceses mais importantes do mundo, Palmo disse que vai valer a pena assistir o período do novo presidente da USCCB.

Dom Dolan, que lidera uma arquidiocese de 2,5 milhões de católicos em Nova Iorque, mostrou-se sereno e aberto em apresentar a posição da Igreja sobre questões polêmicas desde a sua nomeação para o cargo no início de 2009. Um crítico regular do New York Times, o arcebispo Dolan não teve nenhum escrúpulo de expressar sua opinião francamente.

O líder da Igreja Católica de Nova Iorque também tem efetivamente utilizado a tecnologia durante seu período no cargo, ao começar por criar o seu próprio blog chamado "O Evangelho na Era Digital." Ele foi uma figura de destaque na cidade de Nova Iorque, que se ofereceu recentemente para reunir-se com líderes políticos e moderar o debate altamente controvertido sobre o Centro Islâmico e a Mesquita previstos para serem construído perto do “Ground Zero” – o local dos ataques terroristas de 2001 onde estavam as Torres Gêmeas.

Nascido em 1950, o arcebispo é o primeiro dos cinco filhos de Shirley Radcliffe Dolan e o falecido Robert Dolan. Em 1964, ele começou sua formação sacerdotal no seminário menor em Shrewsbury, em Missouri.  Após estudar no Colégio Cardeal Glennon e depois no Pontifício Colégio Norte-Americano, em Roma, Dom Dolan foi ordenado sacerdote em 19 de junho de 1976.

Em 19 de junho de 2001, foi nomeado Bispo Auxiliar de Saint Louis, pelo Papa João Paulo II. Foi então nomeado Arcebispo de Milwaukee pelo mesmo João Paulo II em 2002. O arcebispo Dolan assumiu a Arquidiocese de Nova Iorque ao ser nomeado pelo Papa Bento XVI para o cargo em fevereiro de 2009.