A Congregação da Legião de Cristo respondeu hoje com dois comunicados às dramáticas revelações realizadas por uma mulher e três homens em um programa de alta sintonia no México, que reclamam ser respectivamente esposa e filhos que o Pe. Marcial Maciel, fundador da congregação, teria tido em sua vida paralela.

As revelações de Blanca Estela Lara Gutiérrez e seus três filhos se realizaram em uma entrevista de uma hora transmitida ao vivo por rádio e televisão pela jornalista Carmen Aristegui.

A entrevista coincidiu com a visita que realiza o Pe. Álvaro Corcuera L.C., atual Diretor Geral dos Legionários, às comunidades da Legião no México. Durante a entrevista, Lara Gutiérrez revelou que conheceu o Pe. Maciel com o nome de "Raúl Rivas" em 1970, quando ela tinha 19 anos e ele 56.

Embora nunca tenha contraído matrimônio, o Pe. Maciel teria tido dois filhos e adotado um terceiro que a mulher tinha de uma relação prévia.

Os meninos foram registrados como Omar, José Raúl e Cristian González Lara, e dois deles falaram pela primeira vez em público na quarta-feira.

Durante a longa entrevista, retransmitida na quinta-feira pela CNN em Espanhol para toda a América Latina, os filhos deram detalhes intensamente dramáticos sobre como teriam sido abusados sexualmente em sua infância por "Raúl Rivas", como conheceram a verdadeira identidade de seu pai e como reagiram às acusações apresentadas contra o Pe. Maciel na Santa Sé.

Ao final do programa, os González Lara reclamaram a atenção tanto dos Legionários de Cristo como do Vaticano.

Na quinta-feira, a Legião de Cristo no México deu a conhecer dois comunicados simultâneos, através dos quais expressam sua dor e solidariedade para com a suposta família de Maciel, sem confirmar ou negar as acusações. Os comunicados também revelam que Raúl González, que atua como porta-voz da família, teria solicitado um pagamento de 26 milhões de dólares para silenciar a história.

O primeiro comunicado assinala que os Legionários "compartilhamos o sofrimento e pena dos membros da família González Lara, compreendendo as difíceis circunstâncias que viveram e estão vivendo".

"Os Legionários de Cristo nos últimos anos têm conhecido progressivamente, com surpresa e com grande dor aspectos ocultos da vida do Pe. Maciel. Confirmamos nosso compromisso de fazer a verdade na caridade. Renovamos nosso pedido de perdão às pessoas afetadas, por todo o sofrimento causado e pelo escândalo que seguiu", acrescenta o comunicado.

O mesmo texto faz pública a carta que o Pe. Carlos Skertchly, L.C. escreveu a Raúl González Lara no último dia 12 de janeiro.

"Ante a impossibilidade de que o Pe. Álvaro Corcuera viesse ao México nestas datas e se encontrasse com você como era seu desejo, pediu-me que, como representante dele, estivesse à sua disposição, me reunisse com você e o escutasse", diz a carta.

"Nossa intenção, como membros da congregação dos Legionários de Cristo, é fazer quanto seja possível por conhecer a verdade sobre a vida de nosso fundador, procurar –com caridade evangélica– as melhores soluções às complexas situações que estão se apresentando, sair ao encontro pastoralmente de todas as pessoas que sofreram ou que possam ver-se afetadas", acrescentava o Pe. Skertchly em sua carta.

"No dia 8 de janeiro pela tarde recebi sua chamada telefônica na qual você confirmou seu pedido afirmando ‘se vocês me dão os 26 milhões de dólares, calo a verdade’, e pediu uma resposta para o próximo dia 13, como máximo prazo", revela a carta.

O Pe. Skertchly respondeu "não podemos em modo algum ceder frente a este pedido de pagar dinheiro em troca de silêncio. Embora demos valor a toda a dor e ao sofrimento que você nos relatou, e deploramos o mal que possa surgir do escândalo, jamais acolheremos pedidos deste gênero, que além disso, são ilícitos".

No segundo comunicado, o Pe. Jesús Quirce Andrés, L.C., Reitor da Universidade Anáhuac no norte do México, mencionado pelos González na entrevista, revela que sustentou diálogos com Raúl González desde o 18 de abril de 2008 a pedido deste último, que se apresentou na Universidade de propriedade dos Legionários pedindo falar "com alguma autoridade".

"Ao início de outubro de 2008 você me manifestou que seu pai havia indicado que a vontade dele era deixar um legado de seis milhões de dólares para ele (Raúl), seu irmão menor e sua mãe".

"Você nunca me referiu que você havia sido objeto de abusos por parte do seu pai", diz o segundo comunicado; no qual o Pe. Quirce assinala também que "não tinha feito públicos estes fatos para respeitar a privacidade que o próprio Raúl me pediu em diversas ocasiões".

"Eu ignorava que nossas conversações teriam sido gravadas por Raúl, o que me surpreende e desilude, já que ele mesmo solicitou absoluta reserva e discrição a respeito".

O Pe. Quirce deixou de ter contato pessoal com Raúl González a partir de fevereiro de 2009.