O Bispo Prelado de Ayaviri, Dom Kay Schmalhausen S.C.V, recordou aos paroquianos do sul andino do Peru que a Igreja não pode calar quando a vida humana é atacada porque "sente como próprio o dever de levantar a voz quando se trata das questões fundamentais do homem".

Perante o debate suscitado nas últimas semanas sobre a despenalização do aborto no país, Dom Schmalhausen explicou que a Igreja não pode calar "quando se trata das questões fundamentais do homem, quando está em jogo o bem de um povo ou da humanidade mesma, de seu presente e futuro, dos direitos fundamentais e inalienáveis do homem, assim como dos deveres e responsabilidades inalteráveis da sociedade".

Depois de recordar que "a vida humana é um dom a ser recebido e acolhido no seio de nossas famílias", explicou que "ninguém, nenhum homem, nenhuma autoridade humana, está por cima de outro homem para decidir sobre a vida de outro. Na origem de todo debate que busca implantar o aborto e relativizar o direito primordial à vida de todo concebido, encontra-se indiscutivelmente a lógica de Caim, que às ocultas, embora sempre culposamente, mata a seu irmão".

O Bispo adicionou que "o argumento, totalmente falacioso, de que a Igreja seriam os sacerdotes e bispos, e que eles menos que ninguém tem direito de opinar e muito menos decidir sobre a sorte da mulher grávida, é pouco menos que razoável. Não; a Igreja somos todos os batizados".

"Ela fala precisamente, em uma matéria tão sensível como esta, em defesa de todos seus filhos, mais ainda, de toda mulher. Ela mais que ninguém sabe do gozo e dos sofrimentos de suas famílias, dos gozos e dramas de seus jovens; conhece perfeitamente a situação inumeravelmente confessada de suas filhas, as mulheres em estado e como não!, daquelas que viveram a tragédia do aborto", indicou.

"Possivelmente Ela mais que ninguém conhece a trama de secreta angústia e desespero que se urde em torno de cada história de aborto. Sabe, na verdade, que o drama da mulher ante tal situação não só deve ser escutado e compreendido, mas sim resolvido para seu autêntico bem; e também o bem, que não está em oposição ao seu, do filho que leva em suas entranhas, e que tem direito à vida", assinalou.

Também assinalou que as leis penais "existem para punir o mal, não para justificá-lo sob sutis argumentações, como viemos escutando. O princípio fundamental do ‘não matarás’, transgredido igualmente com o aborto em casos de violação ou do aborto terapêutico, não é tanto um assunto de matéria religiosa, quanto uma grave fronteira ética e moral, que uma vez transpassada não terá retorno".

"Uma sociedade que, sob qualquer argumentação artificial, é capaz de justificar a matança de seus filhos, terminará por corromper-se a si mesma e se fará culpada da difusão ameaçadora de uma cultura de morte", indicou e recordou que "para ninguém é desconhecido o fato de que a estratégia por parte de grupos e instituições tão nacionais como internacionais pró abortistas é que as primeiras concessões legislativas favoráveis ao aborto abram, com o passado do tempo e engenhosos mecanismos de pressão, a brecha para uma liberalização legal, e ao fim, a uma posterior prática institucionalizada do aborto nos países do terceiro mundo".

Dom Schmalhausen manifestou a necessidade de impulsionar no setor público "efetivas políticas e ações que fortaleçam a rede de segurança social para as mães gestantes e famílias expostas a situações sociais extremas e portanto em risco de sofrer em seu seio o aborto".

Neste sentido, esclareceu que "a Igreja não foi, como alguns insinuaram, indiferente a esta sensível problemática. Hoje ela quer e de fato já vem há tempos contribuindo com sua laboriosa experiência no campo da vida humana, por exemplo, com os Centros de Ajuda para a Mulher ou o Projeto Esperança , que procuram ajudar a mulheres em risco de abortar ou curar as feridas daquelas que sofrem a síndrome pós-aborto".