Os Bispos da Bolívia lamentaram mediante um documento a animosidade com a que o Presidente Evo Morales atacou à Igreja Católica durante o encerramento de sua campanha para promover o voto pelo "sim" à controvertida Constituição Política de Estado (CPE), que será submetida a referendum este domingo.

Na terça-feira, durante um ato na Prefeitura de La Paz, Morales demandou aos bispos definir uma posição "clara" a favor da Constituição "Para mim, é simples entender ao escutar algumas declarações de alguns cavalheiros por aí, dizem: ‘Com a metade estou de acordo e com a outra metade não estou de acordo’, aqui são duas coisas: estamos de acordo ou não estamos de acordo! Não há metades, há homens ou há mulheres, não há a metade ou há? Que eu saiba, não há", em direta alusão aos Bispos do país.

Na quarta-feira, Morales demandou ao Cardeal Júlio terrazas, Arcebispo de Santa Cruz, "dizer a verdade" ao povo e "admitir" que a Igreja Católica "participou da redação" do projeto de Constituição aprovado em Oruro em 9 de dezembro de 2007 e compatibilizado no Congresso Nacional em 21 de outubro de 2008.

"Os pais da Igreja, especialmente a Conferência Episcopal, até redigiram alguns artigos e alguns foram incluídos (na nova Constituição)", disse Morales.

A Conferência Episcopal Boliviana respondeu com um documento expressando seu "estranheza e preocupação pelos persistentes ataques e desqualificações que realiza a Primeira Autoridade do país contra a pessoa de nosso Cardeal Júlio Terrazas. trata-se de alusões e insultos que não correspondem com sua alta investidura e que tratam de menosprezar a autoridade moral do representante da Igreja Católica".

"Com respeito às alusões que realiza o Presidente assinalando que o Senhor Cardeal ou os Bispos seriam co-autores de alguns artigos do texto constitucional proposto, a Igreja Católica lembra que sua participação com o passar do processo constitucional foi sempre de conhecimento público, através de documentos, reflexões e exortações oportunas".

"A CEB vê com preocupação que enquanto a Igreja Católica contribui com análise serenas, objetivas e respeitosas a um clima eleitoral pacífico, crítico e responsável, algumas autoridades de governo vão ao insulto e a desqualificação", conclui o documento.

Respondendo a consultas da imprensa local, o porta-voz do Cardeal Terrazas, o Pe. Marcial Chupinagua, assinalou que "empregando essa mesma lógica, digo o mesmo: há o bem e há o mal, não há ponto intermédio, há mentira e há verdade, assim como há Deus e há o diabo, se se tratar de decidir-se, terá que decidir-se com quem está o Presidente, com Deus ou com o diabo".

A CEB expressou sua preocupação porque no projeto do CPE não se reconhece o direito à vida da concepção, o que poderia dar via livre ao aborto; e questionou a "ambigüidade" dos direitos sexuais e reprodutivos, entre outros pontos, mas destacou o reconhecimento dos direitos de povos indígenas e dos setores "historicamente" marginalizados.