A cinco anos de iniciado um dos projetos de democratização de Cuba mais importantes da última década, Oswaldo Payá Sardiñas, o dissidente católico líder do Movimento Cristão Liberação (MCL), anunciou esta semana o relançamento do "Projeto Varela", que procura a mudança do sistema político na Ilha pela via pacífica.

Em uma carta aberta, Payá lembra que "antes de que se cumprissem seis meses do encarceramento injusto dos que chamamos Os Prisioneiros da Primavera de Cuba, em 3 de Outubro de 2003, apresentávamo-nos nos escritórios da Assembléia Nacional do Poder Popular para ratificar a petição do Referendo do Projeto Varela. Esta vez com 14,384 assinaturas de cidadãos, acompanhadas de seus endereços, nome completos e número de identidade em cada documento que continha a íntegra do Projeto Varela".

Payá lembra que os cidadãos que apóiam esta iniciativa legal, "fazem-no em uso de seu direito constitucional"; "mas quase todos foram visitados e ameaçados pela segurança do Estado", e "não poucos destes eleitores foram reprimidos, assinalados, expulsos de seus trabalhos, universidades e marcados pelos múltiplos mecanismos de repressão, vigilância e controle do estado totalitário em cada bairro, escola, centro de trabalho e em todos os âmbitos da vida".

O líder do MCL assinala que o que se busca é que "não se fale, que não se mencione, que o projeto se trate como algo do passado que já não existe". "E entretanto o Projeto Varela renasce!"

Em efeito, Payá anuncia que o projeto, batizado em memória do sacerdote católico independentista Félix Varela –cujo processo de beatificação se iniciou– "volta agora com a coleta de assinaturas porque é a campanha pelos direitos dos cubanos".

"Nestes momentos de tantas manobras, especulações, repressões, humilhações contra o povo de Cuba, o Projeto Varela diz a todos, cubanos e não cubanos: As únicas mudanças que aceitamos e pelos que lutaremos até obtê-los, são as mudanças que garantam todos os direitos para todos os cubanos e a liberação dos prisioneiros políticos. Esta é a meta e a determinação e nessa determinação nossa esta a esperança que também renasce".

Payá adverte logo que "se a União Européia dialogar com o estado cubano, está bem, mas que saibam que nenhum diálogo é moralmente válido se não ter esta perspectiva claramente definida: a liberação dos prisioneiros políticos e o respeito aos direitos dos cubanos, ou de nada serve ao povo cubano esse diálogo".

"O que pede e seguirá pedindo o Projeto Varela, é o que diferencia ao totalitarismo da democracia, à liberdade da opressão", diz Payá; mas adiciona que "o Projeto Varela é o projeto da paz e não do ódio. Porque quando dizemos aos capitalistas do poder em Cuba que com seu controle absolutista: Seus privilégios e sua vida de ricos, com sua cegueira e sua intolerância, comportam-se como uma oligarquia frente a uma maioria pobre que nem sequer na calamidade, por medo, atreve-se a denunciar sua pobreza. Isto o dizemos sem ódio, mas sem medo".