O Arcebispo de Granada (Espanha), Dom Javier Martínez, precisou que "o que com freqüência se chama 'o Jesus da história', por contraposição ao também chamado 'Cristo da fé', não é mais do que uma construção ideológica da modernidade ilustrada ou post-ilustrada, para justificar mediante uma construção com o 'halo' de científica, seu rechaço à fé e à tradição cristãs".
Em uma entrevista logo depois de sua exposição "Cristo da história, Jesus da fé", pronunciada na inauguração do Simpósio dedicado ao livro "Jesus de Nazaré" do Papa Bento XVI na Universidade de Nottingham, Inglaterra, o Prelado espanhol explicou que o ruim dos livros que fazem esta oposição "não é que vão contra a tradição da Igreja, mas sim, do ponto de vista histórico, sejam tão ruins, e estejam tão carregados de ideologia moderna".
Seguidamente assinalou que "esse é, no fundo, o problema principal de um livro que se difundiu muito recentemente na Espanha, como é o de José Antonio Pagola (igual ao de tantos outros que tiveram as mesmas pretensões antes dele): que são 'reconstruções' que, aproveitando do prestígio de que goza entre a gente singela a pretensão, tipicamente ilustrada, de que alguém está fazendo 'ciência histórica', e como as reconstruções que se oferecem encaixam tão perfeitamente nas categorias dominantes da cultura atual, a gente não percebe que o que se lhes oferece não é absolutamente 'história', senão uma construção humana ao serviço de uma ideologia (geralmente de moda)".
O Arcebispo indica logo que diante desta situação é necessário lembrar que o Papa Bento XVI precisa constantemente no prólogo de seu livro que "a verdade cristã está de tal modo ligada à história que a Igreja não pode prescindir absolutamente do estudo e da investigação histórica" por isso "a alternativa às pretendidas 'reconstruções históricas modernas' do Jesus não é uma leitura ou uma interpretação 'literal' da Escritura. Também isso, que às vezes chamamos 'fundamentalismo', é, como tendência, um pouco tipicamente moderno, igual de 'moderno' que as 'reconstruções históricas'".
O Prelado espanhol lembra também que "a Igreja nem tem medo nem rechaça absolutamente todo tipo de investigação histórica, filológica, literária ou lingüística que possa ajudar a compreender melhor, seja o testemunho dos Apóstolos, ou o modo como se constituíram e formaram os Evangelhos. Muito pelocontrário, a mesma fé cristã exige essa investigação, a reclama".
Dom Martínez destaca depois que "para que um estudo ou uma 'aproximação' seja realmente 'histórica' tem que renunciar a julgar os testemunhos históricos da medida, as categorias  e os preconceitos (religiosos, filosóficos, ideológicos) de uma cultura tão diversa da dos mesmos testemunhos e tão incomensurável com ela como é a cultura moderna".
"Uma verdadeira ciência histórica, hoje, para que possa ser considerada verdadeiramente ciência, tem que ser muito menos pretensiosa, e muito mais consciente de seus próprios pressupostos filosóficos e teológicos implícitos, isto é, de seus próprios limites.
Em resumo, o 'Jesus Cristo' dos evangelhos e da tradição cristã é muito mais 'histórico', muito mais científico, que o suposto 'Jesus da história' do livro de Pagola (e de outros semelhantes), que, no melhor dos casos, não nos conta mais do que a fé de Pagola", finaliza.