O Arcebispo de Toledo e Primáz da Espanha, Cardeal Antonio Cañizares, assegura que a Igreja seguirá defendendo "os valores que estão em perigo" e, em concreto, lutará "contra a ampliação da lei do aborto e contra a eutanásia".

Cañizares fez estas declarações em uma entrevista publicada hoje no jornal italiano IL Correr della Sera, dois dias depois da vitória do PSOE nas eleições gerais.

"Não temos nada a reprovar" já que seria "uma traição se renuncirmos a defender a vida, da concepção até a morte natural", assinala em resposta à postura adotada pela Igreja na passada legislatura diante da aprovação de determinadas leis.

"Não estamos contra a democracia mas a favor dela. Quem nega o direito à vida está contra a democracia e conduz à sociedade para o desastre", assegura, advertindo que nestes momentos, "está em curso uma revolução cultural, não só na Espanha mas também em todo o Ocidente", onde rege "a ditadura do relativismo", denunciada pelo próprio Bento XVI ao início de seu Pontificado.

Neste contexto, "Espanha representa a ponta mais avançada desta revolução", sobre tudo depois das leis aprovadas pelo Governo de Zapatero, "que negam a evidência da natureza e da razão, que confiam ao Estado a formação moral dos jovens, que se propõem fundar uma nova cultura apoiada em uma concepção falsa da liberdade", assegura.

Em relação com o tema do aborto, Cañizares explica que a Igreja pedirá "a plena aplicação da lei em vigor" já que, se assim se fizer, "estou convencido de que se evitariam muitos dos 100.000 abortos que cada ano se realizam na Espanha". Do mesmo modo, adere-se à iniciativa para impulsionar uma moratória contra o aborto no mundo que está liderando o jornalista italiano Giuliano Ferrara. "Lutarei pela abolição do aborto, que é a pior degradação da história da humanidade", assegura o cardeal espanhol.

Contudo, Cañizares renova sua felicitação a Zapatero atrás de sua reeleição como presidente da Espanha e assegura que os bispos estão "dispostos a colaborar com ele", a condição de que "persiga o bem comum". "Nós não estamos contra o Governo", reitera.

Em relação com a alta tensão a que chegaram as relações entre o Governo e a Igreja durante a campanha eleitoral, afirma que é algo que ainda não entendeu e que as "agressões verbais" que tanto Zapatero como outros expoentes socialistas dirigiram contra alguns bispos "apoiavam-se em palavras manipuladas ou reproduzidas pelos meios de comunicação de modo incompleto".

Perguntado sobre se o PP deveria ter arriscado mais durante a campanha em temas como a defesa da vida ou da família, Cañizares se nega a dar indicações a um partido em concreto. "Digo que o futuro de nossa sociedade se joga em uma grande batalha cultural e que nenhum católico, seja qual seja o partido no que milite, pode dissertar", senão pelo contrário, "o parlamentar, o médico, o docente universitário, todos e cada um deve fazer a sua parte".