Em um artigo assinado por Gaetano Vallini, o jornal do Vaticano, L’Osservatore Romano, considerou que a última entrega dos prêmios Oscar demonstra que o último ano, Hollywood esteve dominado por filmes escuros, sem esperança.

Os filmes "Não country for old men" e "There will be blood", ganhadores dos principais prêmios da Academia, apresentam "duas visões confrontadas do mal, duas formas de mostrar a maldade através das imagens".

 

Segundo L’OR, além dos prêmios –quatro entregues à primeira e duas à segunda cinta-, Hollywood esteve dominado este ano por "filmes escuros, cheios de violência e principalmente de desesperança".

O autor da coluna questiona se isto não é "um sinal dos tempos". "Talvez. Considerando que na corrida haviam filmes capazes de expressar distintas emoções, com abertura valente, como ‘Juno’, dirigida por Jason Reitman, que conta a história de uma adolescente decidida a levar a término uma gravidez não desejada, ou ‘O Escafandro e a Mariposa’, de Julian Schnabel, um hino secular à vida apesar das graves discapacidades", indica Vallini.

De uma perspectiva cinematográfica, o autor encontra "Não Country for old Men", "bem feita, com um roteiro sólido e um ritmo premente".

No filme, os irmãos Cohen narram uma história "assinada por atos violentos absurdos e sem sentido, um mundo no que não há lugar para os velhos valores".

"No filme, há uma ausência talvez deliberada da consciência moral, que apenas aparece no xerife. Muito pouco para tanta violência gratuita", sustenta o crítico.

O jornal precisa que estas produções apagam "o sonho americano, descrito pelos diretores em traços grossos, sem oferecer uma âncora de esperança, nenhuma esperança para o futuro", a diferença da novela original "em que o autor deixa aberta certa margem para a esperança".

Vallini diz que "claramente esta visão pessimista que os Estados Unidos se oferece a si mesmo através dos filmes" parece ser compartilhada pelo jurado dos prêmios da Academia, que outorgou o galardão a um filme que não deixa dúvidas sobre seu objetivo: mostrar a decadência da sociedade moderna, a decadência dos valores".

O jornal, não obstante, expressa seu otimismo no fato de que "os 'Oscars' dos filmes independentes, que não têm que responder aos grandes produtores de Hollywood, consideraram o filme ‘Juno’ como melhor filme e melhor roteiro original (com  Ellen Page como melhor atriz), e ao Escafandro e a Mariposa’ a melhor direção e fotografia".

"Em resumo, são prêmios para quem, contra a corrente principal, falam da beleza da vida", indica o jornal.