Ao encerrar a 89º Assembléia Ordinária, a Conferência Episcopal da Venezuela deu a conhecer nessa sexta-feira um comunicado no qual chamam as forças políticas e sociais do país a ingressar em uma nova etapa de reconciliação nacional.

 

O documento, titulado "Caminhos de Reconciliação e Esperanças" lido ao final da Assembléia por Dom Mariano José Parra Sandoval, Bispo de Cidade Guayana, assinala que  os prelados da Venezuela "queremos contribuir com a nossa visão cristã para iluminar as consciências e assinalar caminhos de reconciliação e esperança à luz do Evangelho, a fim de obter unidos uma Venezuela em paz".

 

"Os bispos consideramos que o melhor serviço que devemos oferecer a nossa pátria, nestes momentos de antagonismos entre os venezuelanos, é o de nos manter unidos, de ser fiéis em anunciar ao país o Evangelho da Reconciliação, de estabelecer pontes de entendimento e contribuir com valores e princípios éticos para a construção de uma cultura da paz e da solidariedade", acrescenta o comunicado de cinco páginas.

 

Os bispos recordam que "os venezuelanos desejamos profundamente nos encontrar de novo como irmãos e irmãs em torno do que mais temos em comum: a vida e a dignidade sagrada de toda pessoa humana"; e destacam que "é inegável que  nosso povo avançou em sua auto-estima e na consciência de sua dignidade; sua participação política se incrementou e encontramos um aumento sensível da organização comunitária".

 

Também vêem "com esperança o despertar de uma juventude com consciência social e política, animada por desejos autênticos de liberdade, verdade, justiça e solidariedade".

 

Entretanto, denunciam "a persistente situação de injustiça pela pobreza das maiorias, perante a riqueza e indiferença de uma minoria"; assim como "a delinqüência, o seqüestro, o crime e o narcotráfico", que "criaram um clima de desorientação".

 

"Preocupa também –prossegue o comunicado– a persistência da insegurança civil e jurídica, a lentidão na administração da justiça, a precária situação dos presos por motivos políticos, as condições infra-humanas de vida dos processados e condenados nas reservas e centros penitenciários do país e o crescente e incontrolável flagelo da corrupção".

 

Propostas

"A Igreja na Venezuela unida ao Papa deseja manifestar, com valentia e esperança a verdade que transformou o mundo: 'Deus é Amor'", adiciona o comunicado; no que os bispos chamam a "defender e promover à família como núcleo fundamental da sociedade e santuário da vida; fortalecer a autonomia dos poderes públicos; melhorar a qualidade da educação em todos seus níveis e favorecer a transmissão de valores cidadãos, morais e religiosos, através dos meios de comunicação social, a formação cidadã para a paz e a reconciliação e a continuidade dos programas de Educação Religiosa Escolar".

 

Na parte central do documento, os bispos assinalam que "temos que apostar pelo bem comum do país, promover o diálogo e o reencontro". "Para reconstituir as boas relações entre setores e grupos enfrentados, precisamos voltar para um diálogo franco, afável, confiável e prudente", adicionam.

 

Por isso, advertem que "se queremos conseguir uma paz estável e duradoura, é imprescindível que todos tenhamos a vontade de escutar ao outro, de dialogar e de trabalhar conjuntamente pelo bem comum".

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Para avançar pelo caminho do diálogo e da reconciliação, advertem os bispos, "deverá ser evitado o insulto, a desqualificação e a agressão a pessoas e instituições, tanto civis como eclesiásticas".

 

"Reiteramos nossa convicção de que o lema 'Pátria, socialismo ou morte' ou outros semelhantes, contrários ao valor da vida, não ajudam ao urgente trabalho do reencontro de todos os venezuelanos".

 

Reconciliação Nacional

"Os venezuelanos –assinala o comunicado– queremos avançar por caminhos democráticos e não sob sistemas que limitem as liberdades fundamentais, rechaçando a violência, o ódio e a luta de classes".

 

A reconciliação não é volta ao passado para assumir uma praxe pouco transformadora; aponta mas bem a superar a luta que tenta eliminar ao adversário, cria as condições objetivas que se compartilham e exige compromisso a favor do bem comum. Ela exige uma profunda mudança de nossa mente, coração e estilo de vida", dizem os bispos.

 

O documento assinala taambém que "um positivo gesto de reconciliação por parte do Governo, foi promover medidas de graça. Neste sentido, esperamos medidas a favor de outros venezuelanos processados ou condenados por supostos delitos vinculados com posições políticas"; mas advertem que "não contribuiria à paz nacional a tentativa de voltar a propor uma reforma que foi rechaçada por uma significativa parte do povo; além disso, a Carta Magna vigente não permite que seja apresentada em um mesmo período constitucional".

 

O documento exorta finalmente "a todos os católicos e pessoas de boa vontade a orar e trabalhar pela paz e a reconciliação, pela solidariedade e a conversão de todos nós e a realizar um projeto comum de País sem exclusão".

 

"Como Pastores, estamos comprometidos a caminhar com nosso povo, a melhorar nossa disposição para o encontro, a ser instrumentos de reconciliação sobre a base da solidariedade e a conversão", dizem os bispos, que concluem o documento encomendando "este caminho de Reconciliação Nacional a Santa Maria de Coromoto", padroeira da Venezuela.