Esgotada sem êxito a via administrativa, o Bispado de Ávila solicitará ante as autoridades judiciais espanholas que a Biblioteca Nacional (BN) devolva-lhe, depois do espólio do arquivo catedralicio abulense na segunda metade do século XIX, os mais de dois mil manuscritos, livros, incunábulos e documentos, entre os quais destaca a Bíblia de Ávila, um volume miniado (pintado) do século XII.

Assim o anunciou na quarta-feira passada o Bispo abulense, Dom Jesús García Burrillo, no transcurso da apresentação do livro "Em plúteos estranhos" do autor Julián Martín Abade sobre as obras de Ávila que se encontram na BN.

A Bíblia de Ávila, elaborada na Itália, encontrava-se na Catedral diocesana até que em 1869 foi levada a BN junto a 400 pergaminhos e códices a conseqüência de um decreto do Governo provisório depois da queda da Rainha Isabel II.

"Se não houver resposta -disse o Prelado referindo-se à instância administrativa-, a via judicial é a única que fica". Trata-se, explicou, de um "direito de Ávila e dos abulenses" porque recolhem a vida deste povo. "Se se concederam trasvases de documentação bem recentes, acredito que todos os povos têm os mesmos direitos", acrescentou.

O Conselho de Ávila pediu reiteradas vezes a devolução destes documentos, pois durante o reinado do Alfonso XIII o Estado reconheceu que o espólio de 1869 era ilegal. Entretanto, nunca pôde realizar-se devido à não existência de inventário algum confiável.

Em 2004, com motivo da amostra "As Idades do Homem" realizada na Catedral abulense, a BN se negou a dar em empréstimo a Bíblia de Ávila solicitada pela organização da exposição argumentando razões de conservação.