O destacado polemista e jornalista católico italiano Vittorio Messori advertiu esta semana que o próximo livro do historiador Sergio Luzzatto, "Padre Pio. Miracoli e politica nell’ Italia del 900" (Padre Pio. Milagres e política na Itália de 900), não é em nenhum sentido um ataque à memória do santo; mas sim foi tratado de forma totalmente sensacionalista pela imprensa.

Com efeito, meios de imprensa assinalaram que o próximo livro poria em dúvida a autenticidade dos estigmas do milagroso santo franciscano canonizado pelo Papa João Paulo II e revelaria "episódios ocultos" que supostamente poriam em dúvida a santidade do famoso frade de Pietrelcina.

Alguns meios também assinalaram que existem "severas acusações, que incluem relações com uma mulher, não teriam sido atendidas durante os processos de beatificação e canonização aprovados por João Paulo II".

Mas em um extenso artigo publicado no jornal italiano "Corriere della Sera" Messori afirma que a cada uma das acusações apresentadas pelo Luzzatto em seu livro, os historiadores e as perícias clínicas deram contundentes respostas há anos.

O jornalista começa por assinalar que a obra de Luzzatto "é um livro importante e sério. Por isso, não lhe fazem justiça algumas antecipações jornalísticas que das mais de 400 páginas do livro, extrapolam "revelações" e "escândalos", como o pedido do frade de ácido fenico e de veratrina, como se fossem as substâncias com as quais se produzirá os "estigmas falsos".

"A estas suspeitas -diz o jornalista-, provenientes sobre tudo de ambientes clericais, já deram resposta há décadas não só os hagiógrafos do religioso, não só os peritos e contra peritos de ilustres cientistas, mas sim as investigações implacáveis das comissões vaticanos que levaram adiante a beatificação de 1999 e a canonização de 2002".

A obra, portanto, diz Messori, "é séria, e não merece as manchetes escandalosas; é uma obra nascida de anos de trabalho, de investigações em diversos campos não só em arquivos, de onde surgiram muitos documentos inéditos", mas inclusive "um gosto pela divulgação que não despreza a anedota nem as curiosidades".

Messori adiciona inclusive, sobre o livro de Luzzatto, que "necessitava-se de um jovem mas competente estudioso de tradição hebréia para encher uma lacuna de informação sobre o franciscano que o mesmo Luzzatto define como ‘o italiano mais importante do século passado’".

Mais ainda, Messori acredita que a obra vem "preencher um vazio" que se encontra entre as obras exclusivamente piedosas e devocionais e "as apuradas desqualificações de um anticlericalismo como o daqueles panfletos que se podem encontrar hoje nas livrarias; e dos quais Luzzatto se distancia rapidamente, indicando explicitamente, como exemplo que se deve evitar, os insultos desproporcionados de um ex-seminarista furioso como Piergiorgio Odifreddi".

O artigo do Corriere della Sera assinala também que a obra foi escrita com uma piedade e respeito louváveis. "Existirão momentos e lugares para confrontar e inclusive discrepar sobre a documentação, de primeira mão mas utilizada segundo um traço ‘político’, que se anuncia do título, que faz ao livro de interesse para os laicos, mas que é alheio à perspectiva do santo e à multidão de seus devotos".

Messori assinala que, como não cristão Luzzatto não tem em perspectiva as contradições espirituais próprias do cristão.

"Em todo caso, Luzzatto cai na conta, e o escreve, que ‘o Padre Pio está presente em todos os lados’, que já não podemos prescindir da presença enigmática de um frade que nunca se moveu, durante meio século, de um pobre convento no mais profundo sul (da Itália)".

Finalmente, Messori, logo depois de refletir sobre tantos episódios surpreendentes e milagrosos do santo, conclui com uma pergunta e uma resposta: "O que fazer com um personagem deste tipo? Estudar a história, certamente, mas com a consciência de que existe aqui uma meta-historia que, para dizê-la com o Evangelho ‘é revelada aos pequenos e singelos e oculta aos sábios deste mundo’".