A Fundação Konrad Adenauer, agência social cristã alemã que ajuda os processos de desenvolvimento da democracia no mundo, publicou uma análise sobre a junta da Venezuela que elogia a recente Exortação Pastoral da Conferência Episcopal Venezuelana e destaca a resistência pacífica de amplos setores nacionais à agenda chavista.

Segundo a fundação, o documento dos bispos, aprovado em sua recente Assembléia Plenária, "impactou pela lucidez na apresentação da realidade, a marcação dos fatores que a determinam e o vigoroso chamado ao diálogo e à reconciliação como premissas indispensáveis para abrir caminhos de superação à crise do país".

"O documento defende a diversidade ideológica, declara inaceitável a pretensão de dividir os venezuelanos em dois bandos irreconciliáveis e clama –fazendo-se eco do movimento estudantil– que se termine com os ódios, os insultos e as desqualificações. Ninguém, e muito menos o Presidente, tem o direito de insultar e agredir pessoas ou instituições que dissentem de suas opiniões e projetos. Sem uma cultura de respeito, de tolerância e de aceitação do outro, estará em risco a paz interna. A solução de nossos problemas vai mais à frente do populismo e aos militares não corresponde o protagonismo em uma sociedade civil. Impõe-se diálogo que procure o consenso sobre o que deve assentar a vida política e social de toda nação que se considere democrática", explica a fundação.

Segundo esta entidade, "a mensagem da Igreja teve o apoio do país civil, sem restrição de credos religiosos ou políticos. É natural, pois emana da Instituição que goza de maior respeitabilidade e porque traduz à realidade o que pensa Sua Santidade sobre a Venezuela. Segundo analistas de variadas tendências, tem o peso, além disso, da veracidade no diagnóstico da situação e na pertinência do chamado ao diálogo e à conciliação".

A Fundação Konrad Adenauer também repara na junta venezuelana, adverte o perigo de que a agenda de governo considere um conflito armado, e destaca os protestos pacíficos que ocorrem no país.

"A Copa América, evento esportivo de futebol que Chávez tratou de instrumentar como show de propaganda política, terminou por convencer esportistas, aficionados e jornalistas estrangeiros, que agora são poucos os que falam da egolatria do Presidente", sustenta a fundação.

"Os estádios foram tomados por forças militares e o acesso aos mesmos, fortemente restringido, para evitar eventuais manifestantes. Os jovens pensaram como burlar o governo. Entravam com flanela vermelha, reversível, ao vi-las-á nas tribunas aparecia um fundo branco com a palavra Liberdade, igual às boinas vermelhas, ao serem viradas para o avesso luziam com a cor branca que tomaram como emblema", assinala.

Do mesmo modo, indica que "o efeito contagiante do protesto pacífico iniciado pelos estudantes, estendida a jornalistas, intelectuais, artistas e organizações da sociedade civil determinou a reativação das forças políticas que, unidas, enfrentaram Chávez nas eleições de dezembro. Sociais democratas, democratas cristãos e centro esquerda levam adiante uma agenda de trabalho cujo objetivo é a unidade de todos os fatores de oposição".

"O diálogo que inclui representação qualificada da sociedade civil, procura definir uma estratégia comum e concretizar ações que possam frear e derrotar a ofensiva de Chávez para manter-se indefinidamente no poder. No mundo civil se pensa que a reforma constitucional anunciada por Chávez se propõe não só sua perpetuação na Presidência, mas também para abrir passo a um sistema marxista leninista, como o assinalou a Igreja, caracterizado pela concentração de todo o poder em sua pessoa, com a eliminação ou substancial redução dos direitos políticos, os de propriedade, de liberdade educacional, de federalismo, de autonomia universitária e outros direitos essenciais para a convivência civilizada", adverte.