Os deputados do Movimento ao Socialismo (MAS) -do Presidente Evo Morales- apresentaram um projeto de lei para eliminar o feriado de Corpus Christi e pôr em seu lugar o "ano novo aymara" porque, segundo seus promotores, a festividade cristã é a "menos importante do ano" e "(nós) adoramos ao sol que nos beneficia".

"Adoramos ao sol porque nos beneficia, traz-nos calor e força e não pede nada", declarou à imprensa Hilario Calisaya (MAS). Para o deputado "já há muitos feriados" e portanto se deve eliminar o Corpus Christi por ser o de menor importância.

O texto apresentado diz que "esse dia (21 de junho) coincide com o reinicio da aproximação do sol a terra e com o início de um novo ciclo agrícola e o agradecimento ao sol e à Pachamama levam consigo os melhores augúrios para o bem-estar dos indígenas e não indígenas de nosso continente".

Entretanto, o arqueólogo e antropólogo Jedu Sagárnaga disse à agência EFE que não existem dados históricos que certifiquem que essa data era festejada no mundo andino pré-colombiano e explicou que o equinócio solar de 21 de junho unicamente "era um marcador de temporada e teve importância no tema agrícola".

O especialista advertiu que propostas como a do MAS não se assentam sobre "feitos verificáveis" e muitas vezes surgem da apropriação de idéias fomentadas por empresas turísticas que "desvirtuam" a cultura andina.

Ferem a maioria católica

Ante esta proposta, o Secretário Geral da Conferência Episcopal Boliviana, Dom Jesús Juárez, pediu para não "ferir os sentimentos religiosos da maioria da população" substituindo uma festa por outra. Esclareceu que a Igreja não está contra o festejo do ano novo aymara, mas recordou que o Corpus Christi "tem uma capacidade em toda a geografia boliviana, portanto responde a um fenômeno religioso nacional".

Nesse sentido, recomendou aos deputados do MAS para ver "o que é a história na Bolívia" para dar-se conta de "o que significa o Corpus para a população que se confessa católica". "É a festa da solidariedade, da dignidade da pessoa humana e a exaltação de seus direitos na pessoa de Cristo que se faz homem como nós e caminha com seu povo para lhe dar esperança", afirmou.

Por isso, depois de exigir "respeito para o sentimento religioso do povo", Dom Juárez particularizou que se o objetivo do MAS é fazer feriado uma data que "responde a um setor do país", dever-se-ia "ter em conta outras efemérides departamentais das distintas regiões, para ser justos e responder aos sentimentos de toda uma nação, que é uma porém diversa".

"Respeitemos o povo, não falemos por ele, que consulte, exige-se respeito ao sentimento religioso", afirmou.