Oswaldo Payá Sardiñas, fundador do Movimento Cristão Libertação (MCL) e um dos mais proeminentes dissidentes cristãos em Cuba, fez um dramático chamado à esquerda política espanhola a tomar partido a favor dos direitos humanos dos cubanos, por cima de ordens ideológicas.

Respondendo à decisão do Congresso espanhol, onde o voto dos socialistas e comunistas impediu que se aprovasse uma moção em que se expressava o apoio à libertação dos prisioneiros políticos pacíficos cubanos, Payá escreveu o passado fim de semana um dramático artigo no jornal espanhol ABC, no que assinalava que a moção apresentada por alguns deputados espanhóis procurava o apoio da Espanha à declaração de diversos grupos dissidentes cubanos chamada "Unidade pela Liberdade".

"'Unidade pela Liberdade' –escreve Payá– é positiva toda e tem sua motivação, somente, na vontade da maioria da oposição democrática e pacífica cubana de explicar ao povo de Cuba e ao mundo que estamos unidos na solidariedade e nos objetivos de democracia, soberania, reconciliação e liberdade".

Em seu artigo, Payá agradece aos deputados que "se tomaram interesse ou falaram com respeito de nosso povo e de nossos direitos, qualquer tenha sido seu voto".

"Respeitamos o direito e a faculdade dos deputados espanhóis a votar como em consciência criam que devem fazê-lo, embora seja para negar-se a si mesmos a oportunidade de ser solidários com seus irmãos cubanos, isso não tem discussão", diz Payá.

Entretanto, o líder do MCL adverte que "quando um estado que se diz democrático mantém relações políticas, culturais e econômicas com outro estado, tem a obrigação de ser conseqüente nessas relações, com os valores e princípios da democracia e com os Direitos humanos universalmente reconhecidos".

"Se a Espanha não for solidária com o povo cubano nestes aspectos, essas relações se convertem em cumplicidade com a exclusão que sofrem os cubanos em seu próprio país".

Payá assinala que "é escandaloso que alguns se sintam agredidos só porque se propõe demandar o respeito dos direitos dos cubanos e a libertação dos prisioneiros políticos pacíficos. É como uma confissão de identificação com a opressão. Reagem assim por definição, acusando aos proponentes e reafirmando sua adesão ao regime que viola nossos direitos com gritos de 'viva a revolução'. por que contrapõem 'a revolução' aos direitos humanos? É como gritar: 'viva a tirania que nega os direitos humanos e assim os ideais da revolução'".

O líder opositor cubano recorda além que "acusar de instrumentos do estrangeiro aos opositores, têm-no feito todas as ditaduras, incluindo a de Franco. As ditaduras não são de esquerda, nem de direita, são ditaduras, e em Cuba o mesmo dá que alguém seja de direita ou de esquerda para ser reprimido, sempre que este apóie a liberdade e os direitos dos cubanos".

"Acreditam que os muitos homens e mulheres de esquerda e de outras correntes políticas que amam a democracia e ao povo cubano devem tomar sua própria voz e enviar mensagens esclarecedoras ao povo de Cuba", diz Payá; ao assinalar que "sinceramente, no caso da esquerda, sua voz, tal como está chegando a Cuba sistematicamente, parece ter sido usurpada pelos que apóiam o regime de não direitos para os cubanos sempre e em qualquer circunstância".

"Não acreditam que esse seja o espírito do Governo da Espanha. Não quisesse que estas palavras fossem usadas para mais confrontação. Temos a esperança de que, por amor a seus irmãos cubanos, possa-se chegar ao consenso na solidariedade", esclarece, entretanto, o líder político cristão.

"O diálogo com Cuba é bom: se não for excludente, se busca o respeito aos direitos dos cubanos e a libertação dos prisioneiros políticos pacíficos e se propuser como meta transparente apoiar o diálogo entre cubanos. A solução pacífica entre cubanos a seguimos procurando aqui, demandando a libertação dos prisioneiros políticos pacíficos e promovendo o diálogo nacional, a reconciliação, o reconhecimento legal dos direitos e a consulta em um Plebiscito sobre o Projeto Varela, para que o povo tenha voz e possa decidir", conclui.