Em uma estranha entrevista concedida ao jornal La Nación (A Nação) da Argentina, o teólogo e sacerdote chileno Sergio Torres, atual presidente do grupo de pressão Ameríndia, reconheceu graves enganos dos teólogos da libertação, anunciou o "fim do desterro" da Ameríndia e criticou o Papa Bento XVI.

Na entrevista concedida a Silvina Premat, a jornalista de La Nación que veio centrando suas reportagens nos teólogos da libertação, Torres assinalou que com a V Conferência "se terminam 27 anos de uma espécie de desterro interior dentro da Igreja" e revelou que o grupo em Aparecida é composto por "23 professores universitários, pesquisadores e párocos da América Latina" que se reúnem diariamente em um hotel de Aparecida "com bispos, sobre tudo brasileiros, para conversar sobre os planejamentos que se fazem da sala onde ocorre a sessão da assembléia".

O "fim do desterro", segundo Torres, começou quando a fins de fevereiro passado, cinco bispos, entre os quais estava o Cardeal Rodríguez Maradiaga, "dialogaram longamente" com cinco teólogos da libertação: os sacerdotes Gustavo Gutiérrez, do Peru; Carlos Mester, Oscar Beozzo e Maria Clara Bimgemer, do Brasil; e Pablo Bonavia, do Uruguai.

Torres assinalou que "nós não somos os mesmos e as coisas mudaram radicalmente: acabou-se a Guerra Fria, desapareceram o socialismo real na Rússia e outros países e há novos desafios. Nós também cometemos enganos em nossos textos e intervenções. Com ingenuidade confiamos em que o socialismo era capaz de fazer as transformações sociais. Também fomos vítimas de enganos de outros, porque nossa gente afirmava e fazia coisas que não eram avalizadas pela teologia da libertação".

Como exemplo de ações desatinadas e aberrantes de agentes influenciados pela teologia da libertação, o sacerdote chileno contou o caso de uma religiosa na Guatemala que "celebrava" a Missa porque, conforme dizia, não ia esperar que a nomeassem.

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"Destacavam-se esses casos dizendo que eram os teólogos da libertação. Esses enganos contribuíram com que se dissesse que fomos marxistas", admitiu Torres na entrevista com La Nación.

O líder da Ameríndia entrou em contradição ao responder com um "não" à pergunta de se alguma vez foram marxistas; para em seguida explicar que "ao utilizar a análise marxista era difícil fazer a distinção entre o materialismo histórico e o materialismo dialético. Tivemos má sorte. A teologia da libertação se desenvolveu em tempos em que cresceu o marxismo e se deram a revolução em Cuba e os movimentos guerrilheiros em vários países". Segundo Torres, "estávamos de acordo em procurar uma mudança radical, mas não com certos métodos. Entre essa teologia da libertação e a de hoje, há uma diferença de contexto e de temas".

Os novos temas da teologia da libertação, segundo o teólogo chileno, são "a teologia da libertação feminista, Índia, afro americana e uma ecoteología". "A teologia da libertação hoje tem que ouvir o grito dos pobres e o grito da terra", adicionou.

O dirigente da Ameríndia criticou ao Papa Bento XVI porque, segundo ele, "demonstrou desconhecimento da América Latina em alguns aspectos, como o dos indígenas e a situação da família"; embora assinalasse que estavam "contentes" em geral com o discurso pela menção à opção pelos pobres" e "sua afirmação sobre a busca de estruturas justas".