Dec 26, 2025 / 13:32 pm
O padre Júlio Lancellotti teve a missa de Natal transmitida ontem (25) pelo xeque muçulmano Rodrigo Jalloul e pelo deputado estadual Eduardo Suplicy (PT-SP), em suas respectivas redes sociais. O arcebispo de São Paulo (SP), cardeal Odilo Scherer, proibiu o padre de fazer transmissões ao vivo de missas e de atuar nas redes sociais. O padre disse aceitar a decisão com “espírito de obediência”.
“Padre Júlio fica! Ninguém pode banir que a palavra de Deus seja propagada!”, escreveu em seu Instagram Rodrigo Jalloul. O xeque trabalha com pessoas em situação de rua, como Lancellotti, que continua sendo vigário episcopal para a Pastoral do Povo da Rua da arquidiocese de São Paulo.
“Missa de Natal ao vivo rezada pelo querido padre Júlio Lancelotti”, escreveu Suplicy. “Participei hoje cedo da missa tão bonita rezada pelo @padrejulio.lancellotti e fiz questão de transmitir ao vivo pelas minhas redes para que todas e todos tivessem a oportunidade de participar desse momento de reflexão e oração tão importante!”
Dom Odilo Scherer proibiu o padre Júlio Lancellotti de continuar a transmitir a celebração da missa dominical que ele reza na capela da Universidade São Judas Tadeu, uma escola privada sem ligação com a Igreja. A missa costumava ser transmitida ao vivo pela Rede TVT (TV dos Trabalhadores), mantida por sindicatos, pelo portal Instituto Conhecimento Liberta (ICL) e pelo YouTube.
O padre, que é pároco de São Miguel Arcanjo, na Mooca, também foi instruído a não se manifestar mais nas redes sociais. Prometeu acatar as ordens com “espírito de obediência”.
No domingo passado (21), a missa celebrada por Lancellotti já tinha sido transmitida pelo perfil Jornalistas Livres, uma rede que surgiu em 2015, segundo seu site, “da necessidade urgente de enfrentar a escalada da narrativa de ódio, antidemocrática e de permanente desrespeito aos direitos humanos e sociais”.
A publicação da transmissão da missa de Natal ontem por Jalloul no Instagram foi feita em colaboração com a página Jornalistas Livres.
“Não acredito que há uma justificativa para privar uma missa, a palavra de Deus, seja qualquer religião”, disse o xeque Jalloul ao site Metrópoles. “Ainda mais de uma figura como o padre Júlio, que tem um alcance imensurável em São Paulo, no Brasil e no mundo”.
O xeque disse que, “como defensor da liberdade religiosa”, acha que a proibição das transmissões das missas “é uma forma de censura”.
“Então, eu respeito dom Odilo, mas eu acredito que nesse aspecto foi uma decisão equivocada”, acrescentou.
Segundo Metrópoles, o muçulmano contou ter decidido transmitir a missa de Natal como um ato de fraternidade e irmandade entre as religiões. “É uma forma de demonstrar que não dá para calar a palavra de Deus e que os religiosos unidos, independentemente da religião, conseguem sim fazer o bem e não tem quem segure”, disse.
Negar ajuda a pobre é rejeitar Deus
O padre Júlio Lancellotti citou o papa Leão XIV em sua homilia. “Ontem, na missa da noite, o papa Leão fez uma frase que hoje a mídia toda está reproduzindo: quem nega ajudar o pobre, rejeita a Deus”, disse o sacerdote. “A gente vai poder até fazer camiseta com essa frase do papa Leão: Não ajudar os pobres é rejeitar a Deus”.
Em sua homilia na missa da véspera de Natal, o papa Leão XIV disse, citando Bento XVI: “Para iluminar a nossa cegueira, o Senhor quis revelar-se como homem ao homem, sua verdadeira imagem, segundo um projeto de amor iniciado com a criação do mundo. Enquanto a noite do erro obscurecer esta verdade providencial, então ‘não há espaço sequer para os outros, para as crianças, para os pobres, para os estrangeiros’. Estas palavras do papa Bento XVI, lembram-nos que na terra não há espaço para Deus se não houver espaço para o homem: não acolher um significa não acolher o outro”.
Continuando com sua homilia ontem, o padre Lancellotti disse que as pessoas podem negar ajuda aos pobres “por vários motivos”, como “por indiferença, por preconceito, por rejeitar”. “Porque ajudar o pobre numa sociedade tão desigual como a nossa é quase que um crime”, disse.
Para o padre, “Jesus foi rapidamente parar na cruz porque ele se fez pobre com os pobres”.
O padre também contou que estavam presentes na missa o xeque muçulmano, também um judeu e o deputado estadual Eduardo Suplicy. E chamou a “perceber que nas diferentes visões do mundo, do judaísmo, do islamismo, nós todos nos fazemos irmãos e nos fazemos próximos para servir aos pobres, aos fracos, aos pequenos”.
Ao final da celebração, Júlio Lancellotti chamou o advogado Marcio Rachkorsky, judeu, a falar para os presentes sobre o projeto Condomínio do Bem, que quer conscientizar moradores de condomínios para ajudar pessoas em situação de rua.
O sacerdote também abriu espaço para Eduardo Suplicy falar. Com uma camisa vermelha com a inscrição: “Renda Básica Universal & Incondicional & Cannabis Medicial”, o deputado estadual aproveitou a ocasião para falar de seu projeto que institui a renda básica de cidadania universal e incondicional. Segundo o site do deputado, é “um pagamento mensal universal, suficiente para cobrir despesas essenciais de vida, entregue a todos os cidadãos do país sem condições prévias”.
Em seguida, quem tomou a palavra foi o pastor luterano Mozart Noronha. Ele disse representar “um pequeno movimento dentro do luteranismo chamado Pastoral Popular Luterana” (PPL), que “fez uma carta de apoio” a Júlio Lancellotti.
“Eu sou pastor no Rio de Janeiro e vim procurando a estrela. Como diz o poeta Olavo Bilac, somente os que amam podem ter ouvido capaz de ouvir e entender estrela. O nosso irmão Júlio Lancellotti é nossa estrela”, disse.
Depois da missa, todos participaram da distribuição de café da manhã para cerca de 400 pessoas em situação de rua no Centro Comunitário Santa Dulce dos Pobres, na Mooca.
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