Dec 22, 2025 / 15:27 pm
A primeira missa do padre Júlio Lancellotti depois que o arcebispo de São Paulo, cardeal Odilo Scherer, proibiu-o de transmitir a celebração pelo Youtube virou manifestação de protesto. Contra o Ocidente "prepotente", o Norte global, lar dos poderosos, em contraposição ao Sul global, "os lugares mais iluminados de São Paulo" onde "não entra Jesus, lá não entram os pobres", e, principalmente, contra dom Odilo.
“O amor ao próximo não pode ser silenciado”, dizia uma faixa foi erguida por um grupo de homens que se identificam como mulheres.
Dom Odilo Scherer proibiu o padre de continuar a transmitir a celebração da missa dominical que ele reza na capela da Universidade São Judas Tadeu, uma escola privada sem ligação com a Igreja. A missa costumava ser transmitida ao vivo pela Rede TVT (TV dos Trabalhadores), mantida por sindicatos, pelo portal Instituto Conhecimento Liberta (ICL) e pelo YouTube.
O padre, que é pároco de São Miguel Arcanjo, na Mooca, também foi instruído a não se manifestar mais nas redes sociais. Prometeu acatar as ordens com “espírito de obediência”.
“Não quero ser exemplo para ninguém, só quero ser irmão de todos vocês, especialmente irmão dos mais pobres, dos abandonados. Se amar os pobres incomoda, amemos até o fim”, disse, sob aplauso dos presentes, que incluíam outros sacerdotes e membros de movimentos sociais. Vários carregavam cartazes e lemas contra a decisão de dom Odilo, usavam camisas com o rosto do padre estampado.
No início da celebração, os presentes foram convocados a assinar um abaixo-assinado direcionado ao arcebispo. “À Sua Eminência reverendíssima Dom Odilo Pedro Scherer, cardeal arcebispo metropolitano de São Paulo, apresentamos o presente abaixo-assinado em apoio ao padre Júlio Lancellotti e sua manutenção na Paróquia São Miguel Arcanjo”, dizia o texto.
Padre Júlio, que continua sendo vigário episcopal para a Pastoral do Povo da Rua, agradeceu a presença “de cada um, principalmente a presença dos nossos irmãos e irmãs em situação de rua, que sabem muito bem o que passam”.
Na transmissão da missa do dia 14 de dezembro, padre Júlio anunciou que não faria mais a transmissão e suspenderia sua atuação nas redes sociais. Dois dias depois, o sacerdote disse à coluna de Mônica Bergamo da Folha de S. Paulo que dom Odilo lhe “pediu para dar um tempo”.
Apesar da determinação do arcebispo para que padre Júlio suspendesse as transmissões e a sua atuação nas redes sociais, outras páginas nas redes sociais gravaram vídeos da celebração de ontem e foi feita uma transmissão pelo perfil Jornalistas Livre, uma rede que surgiu em 2015, segundo seu site, “da necessidade urgente de enfrentar a escalada da narrativa de ódio, antidemocrática e de permanente desrespeito aos direitos humanos e sociais”.
A missa também contou a cobertura a imprensa. Pelo menos os jornais Folha de S. Paulo e O Globo enviaram repórteres para o evento.
Padre Júlio disse, na celebração, que “não saberia o que dizer, pois tudo o que você disser, poderá ser usado contra você”. “Não desanimemos. Muitas vezes é difícil, mas a gente vai para um caminho sem volta, que não tem como voltar atrás. Até o fim eu estarei com os irmãos e irmãs em situação de rua”, disse.
“Assim como nós nos juntamos para dizer que somos irmãos, muitos se juntam para conspirar para fazer formas de destilar seu ódio. E nem sempre é fácil reconhecer o ódio”, acrescentou.
“Uma luta é irmã de todas as lutas. Mesmo que em alguns momentos sejamos diminuídos, alvejados e feridos, mesmo machucados e sangrando, nós amaremos até o fim”, disse o padre.
O porta-voz da Pastoral da Comunicação da paróquia chefiada pelo padre Júlio Lancellotti, Raul Huerta, leu um texto em defesa dele. “Quando atacam o nosso querido padre Júlio, atacam toda a nossa comunidade”, disse Huerta, ao comentar que a comunidade dá suporte ao padre no trabalho da pastoral nas ruas.
“Quando sancionam o padre Júlio por pregar o Evangelho, sancionam toda a nossa comunidade. O padre é nosso guia espiritual, a nossa estrela-guia, o caminho da luz de ouro. Quando ferem o pároco, ferem também a nossa paróquia. Ferem as vidas que dependem dele e da obra sustentada por suas mãos”, acrescentou.
Entre os presentes na missa, alguns classificaram a proibição de o padre Júlio transmitir missa e de atuar nas redes sociais como “perseguição” por parte do arcebispo Odilo Scherer. “É um cara ligado à extrema direita, sempre foi”, disse à Folha de S. Paulo a professora Teresinha Pinto, 68 anos.
Para ela, “não tem nenhum sentido você proibir um padre que tenha um trabalho consistente na rua, que tenha um trabalho de evangelização, de transmitir uma mídia”. “A missa é muito bonita, vêm pessoas que nem são católicas”, acrescentou.
As melhores notícias católicas - direto na sua caixa de entrada
Inscreva-se para receber nosso boletim informativo gratuito ACI Digital.
Nossa missão é a verdade. Junte-se a nós!
Sua doação mensal ajudará nossa equipe a continuar relatando a verdade, com justiça, integridade e fidelidade a Jesus Cristo e sua Igreja.
Doar