Dec 17, 2025 / 14:44 pm
Políticos de partidos de esquerda criticaram o fim das transmissões ao vivo das missas celebradas por padre Júlio Lancellotti e pelo afastamento dele das redes sociais, por determinação do arcebispo de São Paulo (SP), cardeal Odilo Scherer.
O próprio padre Lancellotti confirmou ontem (16) por meio de nota pública que “as transmissões estão temporariamente suspensas” e que “as redes sociais não estão sendo movimentadas por um período de recolhimento temporário”. Ele já tinha anunciada o fim das transmissões na missa celebrada no domingo (14). “Mesmo que a gente fique sem ar, vai aparecer um tubo de oxigênio. E o tubo de oxigênio é o amor de Deus por todos nós”, disse ao final da celebração.
À coluna de Mônica Bergamo da Folha de S. Paulo, o sacerdote disse que dom Odilo lhe “pediu para dar um tempo”. “Ele acha que é uma forma de recolhimento e de proteção”, disse.
Na nota publicada ontem, padre Júlio reafirmou sua “pertença e obediência à arquidiocese de São Paulo”.
Erika Hilton (PSOL-SP) disse em sua conta do X que estava “oficiando a Embaixada do Vaticano, assim como o próprio Arcebispo Dom Odilo Scherer, pedindo para que a suspensão das transmissões das missas seja reconsiderada”.
“Não sou católica, mas enquanto alguém que teve criação cristã, sei o quanto é importante para os fiéis o catequismo [sic], a comunhão espiritual, a orientação, o acolhimento, o acesso à liturgia e à Palavra de Deus, e até mesmo a formação, mesmo que à distância, de uma rede de apoio mútuo”, disse.
Para Hilton, a suspensão das transmissões das missas prejudica pessoas “com mobilidade reduzida e que trabalham aos domingos, que, por uma decisão da Arquidiocese de São Paulo, não poderão mais acompanhar as missas”.
“A acessibilidade é importante e, assim como a expressão da fé e a participação em uma comunidade religiosa, ela é um direito”, disse.
O senador Fabiano Contarato (PT-ES) publicou em suas redes sociais uma foto sua ao lado do padre Júlio Lancellotti e disse que, “com seu silenciamento imposto, ecoa ainda mais forte uma de suas frases mais verdadeiras: Eu não luto para vencer. Luto pra ser fiel até o fim”.
A deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) disse que, “como católica e como cidadã, dói ver a arquidiocese de São Paulo silenciar uma voz que anuncia o Evangelho com coragem, humanidade e acolhimento aos mais excluídos da nossa sociedade”. Para ela, “a Igreja do papa Francisco é a Igreja que se reconectou com os que mais sofrem a exclusão social” e “padre Júlio Lancellotti é inspiração viva desse compromisso com os pobres e os menos favorecidos”.
A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) manifestou sua solidariedade ao padre Júlio Lancellotti que, para ela, “é um grande exemplo de solidariedade e amor ao próximo” e “é constantemente atacado e difamado pela extrema direita”. “Espero que o padre volte logo às redes e não seja afastado das ruas”, completou.
O deputado estadual Eduardo Suplicy (PT-SP) disse ontem no X que tinha conversado com o padre Júlio, “que está tranquilo”. “Ele entende que o cardeal arcebispo de SP, dom Odilo Scherer, optou por preservá-lo ao pedir a suspensão da transmissão online da missa e da exposição em redes sociais”.
Proteção ao padre Júlio
O vereador de Cotia (SP), Toninho Kalunga (PT), escreveu uma carta aberta "direcionada, particularmente, aos militantes e agentes de pastoral que, pela distância, enxergam este momento como sendo uma perseguição política contra padre Júlio em razão de sua atuação pastoral, por parte da Igreja. Não é!"
Para ele, “a chave correta de leitura é o cuidado com uma pessoa, que do alto de seus 77 anos, precisa de proteção diante de riscos reais, de agentes internos que se aproveitam da imagem de padre Júlio e externos que estão usando estas pessoas para atacar as obras sociais e atividades pastorais da Igreja e por consequência, atacando padre Júlio”.
Toninho Kalunga, ex-morador de rua que foi assistido por padre Júlio Lancellotti, cita na carta a atuação pastoral do padre, vigário episcopal para a Pastoral do Povo da Rua. Segundo ele, o sacerdote é “perseguido, caluniado e difamado” por sua atuação pastoral.
Kalunga, que é membro da Fraternidade Leiga Charles de Foucault e participa da paróquia São Miguel Arcanjo e do Núcleo Nacional da Teologia da Libertação Política e Religião, disse que os “ataques” a Júlio Lancellotti “tem como finalidade um projeto de engajamento político e manutenção de poder de uma ideologia de extremistas católicos e político de extrema direita”.
Para ele, a determinação de dom Odilo “é um ato de discernimento pastoral para preservar a vida e a integridade de um presbítero que é um símbolo vivo de uma Igreja samaritana”.
ONGs enviam carta a dom Odilo
Segundo Mônica Bergamo, um grupo de mais de 40 organizações que atuam com população em situação de rua enviou ontem a dom Odilo uma carta pedindo que revise sua decisão de suspender as transmissões ao vivo de missas celebradas por padre Júlio Lancellotti e a atuação do sacerdote nas redes sociais.
A carta enviada ao arcebispo é liderada pelo Instituto GAS, uma ONG que, segundo seu site, “ajuda a população de rua, seus animais e comunidades em situação de risco na Capital de SP, Região Metropolitana e Rio de Janeiro”.
No texto, as entidades dizem que a decisão do cardeal afeta não apenas o padre Júlio, mas todos os voluntários e coletivos que atuam no acolhimento da população em situação de rua e que a medida pode ser vista como um obstáculo à livre circulação de vozes comprometidas com a proteção dos mais pobres.
As entidades dizem que a carta não é um questionamento à autonomia da Igreja, mas se concentra no impacto social da decisão.
As organizações também convocaram as lideranças e voluntários para participarem da missa celebrada por padre Júlio Lancellotti, no domingo (21), às 10h, horário de missa que era transmitido ao vivo.
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Auditoria financeira
Ainda segundo Bergamo, a arquidiocese de São Paulo determinou uma auditoria financeira na paróquia São Miguel Arcanjo, liderada pelo padre Júlio Lancellotti.
A decisão teria sido tomada pelo arcebispo de São Paulo, cardeal Odilo Pedro Scherer, “em função de informações que o cardeal arcebispo teria recebido sobre o funcionamento da paróquia”, liderada pelo padre Júlio há mais de 40 anos, diz a colunista.
O padre Júlio disse à coluna de Bergamo que se trata de um procedimento de rotina, feita todos os meses em várias paróquias. “Auditoria financeira tem sempre”, disse o padre.
ACI Digital entrou em contato com a arquidiocese de São Paulo para confirmar a informação. Por meio de sua assessoria de imprensa, a arquidiocese disse que isso “diz respeito às questões tratadas no diálogo entre o arcebispo e o padre e, portanto, dizem respeito ao âmbito interno da Igreja”.
“O padre Júlio já falou a respeito isso na reportagem mencionada. Essa é a informação no momento”, completou.
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