5 de dezembro de 2025 Doar
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A violência contra as mulheres ‘é uma ferida moral, espiritual e humana’, diz bispo em carta aos homens

Imagem ilustrativa | Shutterstock/Aghavni Shahinyan

“No rosto de cada mulher violentada, vemos o de rosto Cristo Crucificado, da Igreja ferida”, escreveu o bispo de Cachoeiro de Itapemirim (ES), dom Luiz Fernando Lisboa, ontem (4), em uma “carta dirigida aos homens” sobre violência contra as mulheres.

Segundo o bispo, essa violência “é uma ferida moral, espiritual e humana, que marca famílias, destrói vidas, traumatiza crianças e humilha a dignidade dada por Deus a cada mulher”.

“Precisamos, como cristãos, como homens de Deus, ouvir o clamor das mulheres, rezar por suas dores, suas histórias, suas resistências e sua esperança”, disse dom Luiz Fernando. “Pedimos perdão pelo silêncio histórico que tantas vezes tolerou a violência. Não podemos esquecer que crianças expostas à violência doméstica, são vítimas invisíveis. Elas carregam traumas por toda a vida. Proteger a mulher é proteger os filhos”.

Segundo o bispo, seu escrito foi “movido pelo impulso” do Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres, celebrado no dia 25 de novembro passado. A data foi estabelecida pelas Nações Unidas (ONU) em março de 1999 para conscientizar e combater todas as formas de violência contra às mulheres.

A data também homenageia as irmãs Maribal, conhecidas como "Las Mariposas" (As Borboletas), que no dia 25 de novembro de 1960, foram brutalmente torturadas e assassinadas por ordens do então ditador da República Dominicana, Rafael Trujillo. O caso ocorreu porque as irmãs lutavam pela melhoria das condições de vida das mulheres no país.

Violência contra a mulher no Brasil

Atualmente, cerca de duas mil denúncias de violência contra a mulher no Brasil são recebidas por dia no Ligue 180, segundo o Governo Federal. As queixas vão desde agressões menores até estupros, tentativas de violência física, violência política e violência patrimonial. Em 2024, foram registrados 1.492 casos de feminicídio e mais de 3.800 tentativas. Neste ano, já foram registradas 1.177 ocorrências.

Dom Luiz Fernando Lisboa disse em sua carta que “os números oficiais” de violência contra as mulheres “revelam que a gravidade do que enfrentamos é uma realidade que clama aos Céus”. Ele relatou que “em 2024, o Espírito Santo”, Estado de sua diocese, “registrou 15.954 atendimentos por violência contra a mulher no canal Ligue 180 - um aumento de 44% em relação ao ano anterior” e que “as denúncias formais chegaram a 2.670”.

Segundo os atuais dados do Governo do Espírito Santo, “entre janeiro e novembro de 2025, foram registrados 69 homicídios de mulheres, frente a 89 no mesmo período de 2024 — uma redução de 22,5%”. Já os “feminicídios somam 31 casos no ano, contra 37 em 2024, representando queda de 16,2%”.

Para dom Luiz Fernando, os “números não consolam”, “porque, por trás de cada um, há uma mulher com nome, rosto, história — e, muitas vezes, filhos traumatizados pelo que viram ou sofreram”.

“A masculinidade que o mundo ensina - baseada em poder, silêncio, agressividade, descuido e violência fere o Evangelho”, disse o bispo. “Um estilo de masculinidade que gera medo não é cristão. Um homem que levanta a mão para ferir uma mulher, nega o batismo que recebeu”. “O fazer-se cristão começa nas relações cotidianas: no respeito, nos gestos de cuidado, na renúncia ao machismo, na vigilância sobre as atitudes e palavras”.

‘Toda violência é incompatível com o Evangelho’

Segundo dom Luiz Fernando, “toda violência é incompatível com o Evangelho”, visto que “a Sagrada Escritura nos recorda: "Maridos, amai vossas esposas como Cristo amou a Igreja” (Ef 5,25); “Quem quiser ser o primeiro, seja o servo de todos” (Mc 9,35); "Enviou-me para libertar os oprimidos" (Lc 4,18)”.

“Como homens cristãos, precisamos nomear claramente o mal que desejamos combater. A violência contra a mulher inclui: violência física: agressões, empurrões, tapas, estrangulamentos, lesões; violência psicológica: humilhações, ameaças, controle, insultos, manipulação emocional; violência sexual: coerção, estupro, abuso, exposição forçada; violência moral: calúnias, difamações, controle público da vida da mulher; violência patrimonial: impedir a mulher de trabalhar, controlar dinheiro, destruir objetos, reter documentos”, pontuou o bispo destacando que  “a violência contradiz diretamente o mandamento do amor”.

‘Ser homem, à luz do Evangelho’

“Como pastor diocesano, também como homem, venho lhes fazer um apelo”, pediu o bispo aos homens: “Em nome de Jesus Cristo, convertamos as nossas atitudes, palavras e comportamentos”.

Ele disse que “a masculinidade de acordo com os princípios cristãos não domina, não humilha, não controla, não grita, não ameaça, não impõe medo” e enfatizou: “Ser homem, à luz do Evangelho, é ser cuidador, guardião, servidor, construtor de paz”.

“Por isso, peço-lhes que examinem o coração. A raiz da violência muitas vezes está na dificuldade de lidar com frustrações, na herança de padrões violentos aprendidos na infância, no alcoolismo e no uso de drogas, na falta de diálogo, na incapacidade de expressar emoções. A conversão passa por reconhecer limites e buscar ajuda quando necessário”, disse o bispo pedindo ainda que, “com firmeza e fraternidade: caso vejam sinais de violência em um amigo, colega, vizinho ou parente, não se omitam” porque “o amor ao Evangelho não nos permite neutralidade”.

“Jesus tomou partido pela vida, sempre. Sigamos os seus passos. Aconselhem-no. Ofereçam ajuda. Mostrem a ele que existe outro caminho. Um homem ajudando outro homem a mudar pode salvar uma família inteira. Um homem cristão, por amor a Cristo, precisa falar com outro homem e dizer: "Isso não é certo." "Procure ajuda." "Pare antes que destrua sua família.” Uma conversa pode salvar vidas”, frisou.

‘Promotores da vida, e não cúmplices da violência’

Lisboa também pediu todos os homens de sua diocese, “jovem, adulto, pai de família” que  participam das pastorais e movimentos da diocese de Cachoeiro de Itapemirim falem sobre esse “assunto”, “assumam essa missão como parte da própria fé vivida no dia a dia” e sejam “todos promotores da vida, e não cúmplices da violência”.

“Uma comunidade que fala sobre o problema é uma comunidade que cura”, disse o bispo. “O silêncio é cúmplice da violência; a palavra liberta. Para que isso aconteça, não é necessário formalidade, é preciso coragem”.

E sugeriu aos seus fiéis que aprendam “a promover rodas de conversa sobre masculinidade saudável e discipulado; cuidado emocional; prevenção à violência; caminhos de superação do machismo; educação dos filhos no respeito; fé e cuidado com a vida. É sinal de maturidade cristã que um homem seja capaz de refletir e dialogar”.

“Proponho que assumamos em nossas comunidades: criar Grupos comunitários e paroquiais de enfrentamento à violência”, disse dom Luiz Fernando recomendando também que sejam produzidos “materiais formativos para homens”.

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Além disso, o bispo propôs “em toda a diocese”, a implementação do “Mês da Proteção da Mulher”, oferecendo “formação para agentes de pastoral acolherem vítimas; promover encontros anuais sobre masculinidade cristã; integrar paróquias à rede municipal e estadual de proteção; fortalecer a Pastoral Familiar, a Pastoral da Escuta e a Pastoral da Mulher”.

“Que são José, homem justo, ensine-nos a amar sem dominar, proteger sem controlar, servir sem esperar retorno. Que o Espírito Santo converta os corações endurecidos. E que o Deus da vida nos envie como defensores da dignidade de cada mulher”, finalizou o bispo.

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