Nov 6, 2025 / 15:57 pm
O papa Leão XIV pediu paciência aos acusadores do ex-jesuíta padre Marko Rupnik enquanto o julgamento sobre os supostos abusos cometidos pelo sacerdote começa no Vaticano.
“Um novo julgamento começou recentemente, juízes foram nomeados. E os processos judiciais levam muito tempo. Sei que é muito difícil para as vítimas pedir que tenham paciência, mas a Igreja precisa respeitar os direitos de todas as pessoas”, disse o papa, respondendo a uma pergunta de Magdalena Wolinska-Reidi, da EWTN News, em frente da Villa Barberini, residência pontifícia em Castel Gandolfo, Itália, na última terça-feira (4).
“O princípio da presunção de inocência também se aplica à Igreja”, disse Leão XIV. “Espero que esse julgamento, que só está começando, possa trazer alguma clareza a todos os envolvidos”.
O papa respondeu a perguntas de jornalistas ao sair de Castel Gandolfo para voltar ao Vaticano. Ele passou quase todas as terças-feiras no retiro papal, a 29 km ao sul de Roma, desde o início de setembro.
O gabinete de doutrina da Santa Sé anunciou no mês passado que um painel de cinco juízes foi nomeado para decidir o caso disciplinar contra o padre Rupnik, acusado de abuso sexual e psicológico de mulheres consagradas sob seus cuidados espirituais.
O padre Rupnik — que é artista e tem mosaicos e pinturas em centenas de santuários e igrejas católicas ao redor do mundo como o Santuário Nacional de Nossa Senhor Aparecida, em Aparecida “SP) — é acusado de ter cometido abusos sexuais, psicológicos e espirituais contra dezenas de religiosas nas décadas de 1980 e 1990.
O Dicastério para a Doutrina da Fé começou a investigar as acusações de abuso contra o padre Rupnik em outubro de 2023, depois que o papa Francisco revogou o prazo de prescrição.
Em maio de 2019, a então Congregação para a Doutrina da Fé instaurou um processo administrativo criminal contra o padre Rupnik, devido à Companhia de Jesus ter relatado à Santa Sé denúncias críveis de abuso cometido pelo sacerdote.
Um ano depois, a Santa Sé declarou o padre Rupnik em estado de excomunhão latae sententiae por ter absolvido um cúmplice de um pecado contra o sexto mandamento. Sua excomunhão foi revogada pelo papa Francisco duas semanas depois.
A Companhia de Jesus expulsou Rupnik da congregação religiosa em junho de 2023 por sua "recusa obstinada em cumprir o voto de obediência".
Arte
O papa Leão XIV disse a jornalistas na última terça-feira que está ciente dos apelos para remover ou encobrir as obras de arte do padre Rupnik feitos por alguns sobreviventes de abuso e por defensores dos sobreviventes.
“Certamente, em muitos lugares, justamente pela necessidade de sermos sensíveis àqueles que apresentaram casos de vítimas, as obras de arte foram encobertas”, disse o papa. “As obras de arte foram removidas de sites. Esse problema é algo que certamente estamos cientes”.
Segundo o Centro Aletti, escola de arte e teologia com sede em Roma, fundada em 1993 e antes dirigida pelo padre Rupnik, a oficina já concluiu 232 projetos de mosaico e outras obras de arte em todo o mundo — inclusive em alguns dos mais importantes santuários católicos internacionais e o Santuário de Nossa Senhora de Lourdes, na França.
A Santa Sé tem pelo menos três mosaicos originais do padre Rupnik, como os da capela Redemptoris Mater no Palácio Apostólico, no Vaticano; os da capela do Dicastério para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos e os do edifício de San Calisto, no bairro de Trastevere, em Roma.
Algumas pessoas que defendem a remoção ou o ocultamento das obras dizem que vê-las em locais de culto pode ter um efeito traumático nas vítimas de abuso, especialmente porque acusadoras do padre Rupnik dizem que ele as abusou sexualmente enquanto elas o auxiliavam no processo de criação de sua arte.
O bispo de Lourdes, França, Jean-Marc Micas, anunciou no início do ano que o santuário cobriria os mosaicos do padre Rupnik nas entradas da igreja principal do santuário.
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Em junho, o portal oficial de notícias da Santa Sé removeu de seu site as imagens das obras características do padre, inspiradas nas tradições artísticas do cristianismo oriental, depois de anos de críticas pelo uso delas para ilustrar páginas dedicadas a santos e dias festivos.
No ano passado, o Centro Aletti classificou a pressão para a remoção de obras de arte pelo estúdio como parte da "cultura do cancelamento" e da "criminalização da arte".
No ano passado, a Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores enviou uma carta a altos funcionários da Santa Sé, instando-os a não exibir obras de arte, como de Rupnik, "que pudessem sugerir tanto a exoneração quanto uma defesa velada" daqueles acusados de abuso.
O papa Leão XIV disse em julho ao jornal católico Crux que como responder à crise de abusos na Igreja — inclusive como equilibrar a justiça para as vítimas com os direitos dos acusados — é "um dos muitos desafios” com os quais “está tentando encontrar uma maneira de lidar".
E embora a questão permaneça sem solução, não pode ser o único foco da Igreja, disse ele.
O papa também falou sobre a dificuldade de encontrar um equilíbrio entre fornecer ajuda e justiça às vítimas e respeitar os direitos dos acusados. "Estamos numa situação delicada", disse ele.
Leão XIV contextualizou a questão do abuso sexual clerical dentro de suas opiniões sobre o papel mais amplo da Igreja no mundo: "Não podemos fazer com que toda a Igreja se concentre exclusivamente nessa questão, porque isso não seria uma resposta autêntica ao que o mundo busca em termos da necessidade da missão da Igreja".
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