7 de dezembro de 2025 Doar
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Bispo da Nigéria é criticado por minimizar perseguição a cristãos

O bispo de Sokoto, Nigéria, Matthew Hassan Kukah. | Diocese Católica de Sokoto

O discurso do bispo de Sokoto, Nigéria, Matthew Hassan Kukah, no recente lançamento do Relatório Mundial 2025 da Ajuda à Igreja que Sofre (ACN) sobre Liberdade Religiosa no Mundo atraiu muitas críticas. Alguns dizem que o que o bispo disse em Roma sobre a perseguição em seu país não leva em conta aborda a angústia dos cristãos no país.

Em seu discurso em 21 de outubro no Instituto Pontifício Patrístico Agostiniano em Roma, Kukah reconheceu a deterioração da segurança na Nigéria, mas disse que não são só os cristãos que estão sendo perseguidos em todo o país.

Ele disse que as "enxurradas de sangue na Nigéria" hoje "não têm fronteiras" e que os "grupos terroristas e assassinos" que surgiram inicialmente, visando estruturas da Igreja, sequestrando padres, religiosos, seminaristas e outros agentes pastorais, enquanto "invocavam palavras como Allahu Akbar (Alá é grande)", agora também estão matando muçulmanos que não acreditam em sua vertente do islã.

O bispo disse: "Não estamos lidando com pessoas que andam por aí empunhando facões e me procurando para me matar porque sou cristão".

Ele falou contra classificar a Nigéria como país de preocupação especial pelos EUA, dizendo que tal medida "prejudicaria as iniciativas em que estamos trabalhando com o governo atual para resolver coletivamente os problemas persistentes da perseguição aos cristãos".

Kukah elogiou o governo do presidente da Nigéria, Bola Ahmed Tinubu, pelas “medidas de fomento da confiança” que, segundo ele, demonstram “um governo disposto a ouvir”.

Seus comentários não foram bem recebidos por alguns líderes da Igreja na Nigéria, que consideraram que, embora o bispo buscasse “equilibrar a busca pela verdade com a construção de pontes”, ele ignorou “a profunda angústia dos fiéis que vivem sob a sombra da violência e do medo” na Nigéria.

“Em essência, o bispo Kukah… reconheceu o sofrimento cristão, mas o inseriu numa tragédia nacional mais ampla que afeta todos os nigerianos. Contudo, ao fazer isso, ele ignorou a profunda angústia dos fiéis que vivem sob a sombra da violência e do medo”, disse o padre Stan Chu Ilo, coordenador da Rede Pan-Africana de Teologia e Pastoral Católica (PACTPAN).

No relatório Os cristãos nigerianos são perseguidos? o padre descreveu a Igreja na Nigéria como “um púlpito dividido numa nação ferida”. O padre Stan justapôs a perspectiva do bispo Kukah com a do bispo de Makurdi, Wilfred Chikpa Anagbe, que tem se manifestado veementemente sobre o que diz ser um genocídio contra cristãos na Nigéria.

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Anagbe tem falado extensivamente sobre a perseguição aos cristãos na Nigéria, em meio ao fechamento de paróquias católicas em toda a sua diocese e aos vários deslocamentos populacionais devido ao aumento dos ataques de milícias islâmicas dos pastores fulani.

O bispo Anagbe pediu que a Nigéria seja redesignada como país de especial preocupação devido ao aumento dos ataques islamistas contra cristãos no país da África ocidental.

Em seu apelo de 12 de março ao Subcomitê da África do Comitê de Relações Exteriores da Câmara dos Representantes dos EUA, o bispo Anagbe disse que os EUA designar a Nigéria como um pa´si de preocupação especial vai garantir que o governo nigeriano preste contas da situação dos cristãos no país.

As palavras do bispo Kukah, que o padre Stan disse terem sido uma tentativa de apelo pastoral ao diálogo e à harmonia nacional, “expuseram, em vez disso, as fraturas dentro da Igreja nigeriana”.

Ele disse que, de um lado, há “pastores que preferem a diplomacia com os poderes constituídos” e, do outro, aqueles que falam em nome daqueles que “habitam as periferias existenciais da vida”.

O padre Stan disse que, por seu testemunho, o bispo Anagbe foi assediado e investigado por agentes do governo federal da Nigéria.

“A defesa apaixonada do sofrimento da comunidade de fé feita por ele contrasta fortemente com a transmissão desse mesmo sentimento pelo bispo Kukah”, disse o padre Stan.

Segundo o padre Stan, o testemunho do bispo Anagbe é “profético e denunciatório”, enquanto o do bispo Kukah é “diplomático e conciliatório”, e ambos os testemunhos “revelaram a dolorosa tensão dentro da Igreja nigeriana sobre como falar a verdade ao poder em tempos de sangue, ansiedade e raiva nacional”.

Segundo o representante da PACTPAN, ambas as perspectivas revelam uma questão mais profunda sobre como os pastores devem falar “quando seu rebanho sangra”.

Ele disse que, embora o bispo Kukah tenha sido um defensor consistente de um engajamento robusto da Igreja na política nigeriana, seus esforços têm tido pouco resultado.

“É difícil enxergar os frutos evangélicos de tal envolvimento para a comunidade cristã na Nigéria”, disse Stan, em referência ao líder religioso homenageado pelo presidente Bola Tinubu em seu 73º aniversário. “A familiaridade com o poder muitas vezes leva a concessões que podem trazer alívio temporário aos líderes religiosos, mas que potencialmente causam danos permanentes à missão cristã, mesmo quando essa não é a sua intenção”.

“É por isso que a Igreja, em sua sabedoria, é cautelosa em sua relação com o Estado, especialmente com líderes corruptos e exploradores que destroem o bem comum”, disse ele.

O padre Stan disse que, embora a perseguição aos cristãos na Nigéria persista, os líderes da Igreja no país não podem dar a impressão, aos olhos dos cristãos nigerianos, de que estão apaziguando o governo vigente.

Ele disse que, enquanto as prioridades e os interesses do Estado e dos políticos “mudam como o tempo”, a missão da Igreja, por outro lado, tem “um ritmo mais profundo e duradouro”.

“Confundir essas ordens temporais ou alinhar a missão eterna da Igreja com as ambições transitórias do poder político por meio de apaziguamento ou de uma relação confortável com a classe dominante corrupta da Nigéria é trair o próprio coração do Evangelho”, disse Stan.

A crítica às declarações do bispo Kukah feita pela Sociedade Internacional para as Liberdades Civis e o Estado de Direito (Intersociety) foi mais severa, com a entidade de pesquisa católica na Nigéria dizendo que o discurso do bispo em Roma é uma “distorção dos fatos”.

Num relatório que revelou o assassinato de 100 cristãos na Nigéria entre 10 de agosto e 26 de outubro, a Intersociety também se manifestou sobre os comentários do bispo Kukah sobre a situação de perseguição aos cristãos no país da África ocidental.

A Intersociety criticou o bispo e outros líderes nigerianos que, segundo a organização, “também são vítimas de perseguição aos cristãos”, mas “optaram por lutar contra suas consciências por meio da deturpação dos fatos relativos à liberdade religiosa, à tolerância e à responsabilidade”.

“Até onde sabemos, o bispo Kukah era um bispo católico altamente respeitado e atuante na Nigéria, além de defensor dos cristãos perseguidos desde 2015”, disse a Intersociety. “No entanto, o venerado chefe episcopal católico da diocese de Sokoto tem sido amplamente criticado por aqueles que o acusam de inconsistência, atribuindo a culpa principalmente à sua suposta proximidade com o poder político central na Nigéria”.

A Intersociety criticou o bispo por dizer que o governo liderado por Tinubu havia implementado “medidas de fomento da confiança” para o diálogo, visando conter a insegurança.

Pesquisadores dizem ter feito investigações que revelaram que cerca de 22 mil cristãos indefesos foram mortos desde que Bola Tinubu assumiu a presidência da Nigéria em 29 de maio de 2023.

Eles disseram que, sob o governo de Tinubu, igrejas, “em número de centenas”, foram atacadas, fechadas ou incendiadas.

O padre Stan exortou os líderes religiosos para que continuem se manifestando contra a perseguição em curso na Nigéria.

“Quando os cristãos clamam por liberdade religiosa e proteção em meio ao fundamentalismo islâmico radical, o silêncio se torna cumplicidade, palavras impensadas podem inflamar a frágil paz e a desunião pode prolongar nossa longa noite”, disse ele.

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