Jesus não traz resposta do alto, mas torna-se companheiro de viagem, diz Leão XIV

Oct 15, 2025 / 09:59 am

"Jesus ressuscitado não faz descer uma resposta do alto, mas torna-se nosso companheiro nesta viagem muitas vezes cansativa, dolorosa, misteriosa”, disse o papa Leão XIV em sua catequese no Vaticano hoje (15). “Só Ele pode encher o nosso cantil vazio, quando a sede se torna insuportável".

O papa continuou sua catequese sobre o mistério de Cristo, que culmina na Ressurreição, mas a relacionou com a realidade humana e histórica atual e suas "interrogações e desafios".

“Da Ressurreição de Cristo brota a esperança que nos faz saborear, apesar do cansaço da vida, uma profunda e alegre quietude: aquela paz que só Ele nos poderá conceder no fim, sem fim”, disse Leão XIV.

O papa disse que as pessoas foram criadas para a “realização”, mas que esse desejo não tem nada a ver com “pensar de modo otimista”, mas sim com a “certeza” de que Deus garante esse “impulso constitutivo da nossa humanidade”.

“Esse anseio abismal do nosso coração pode encontrar a sua resposta última não nos papéis, nem no poder, não no ter, mas na certeza de que existe alguém que se faz garante desse impulso constitutivo da nossa humanidade; na consciência de que essa espera não será desiludida nem frustrada. Essa certeza coincide com a esperança”, disse o papa na catequese da audiência geral de hoje, na praça de São Pedro, no Vaticano.

Leão XIV disse que "muitas vezes o otimismo desilude-nos, vê implodir as nossas expectativas", enquanto a esperança cristã "promete e cumpre".

A existência humana é tecida de contrastes — alegrias, frustrações, esperanças e cansaços — mas só em Cristo Ressuscitado o coração encontra a plenitude que busca, disse o papa.

 

“Nossas vidas são marcadas por inúmeros eventos, repletos de nuances e experiências diferentes”, disse Leão XIV. “Às vezes sentimo-nos alegres, outras vezes tristes, realizados, tensos, gratificados ou desmotivados”.

"Vivemos atarefados, concentramo-nos para obter resultados, até chegamos a atingir metas elevadas, prestigiadas”, disse também o papa. “Vice-versa, sentimo-nos suspensos, precários, à espera de sucessos e reconhecimentos que demoram a chegar, ou que nunca chegam".

Leão XIV disse que essa tensão entre o desejo de realização e a experiência da limitação define grande parte da condição humana: “Experimentamos uma situação paradoxal: gostaríamos de ser felizes, no entanto é muito difícil sê-lo de modo contínuo e sem sombras. Fazemos as contas com o nosso limite e, ao mesmo tempo, com o ímpeto irreprimível de o procurar ultrapassar. No íntimo, sentimos que nos falta sempre algo”.

O papa disse que esse sentimento de “falta” não é o destino do ser humano, mas sim um chamado à realização que encontra resposta no Cristo Ressuscitado: “Na verdade, não fomos criados para a falta”.

"Jesus Ressuscitado é a garantia desta meta”, disse também Leão XIV. “Ele é a fonte que sacia a nossa aridez, a sede infinita de plenitude que o Espírito Santo instila no nosso coração".

Para o papa, a Ressurreição de Cristo não deve ser entendida como um acontecimento do passado, mas como uma realidade viva que transforma a história a partir de dentro: "A Ressurreição de Cristo não é um simples acontecimento da história humana, mas o evento que a transformou a partir de dentro".

 

 

 

 

O papa falou sobre o simbolismo da água como imagem da vida nova que brota de Cristo ressuscitado.

Diante de milhares de fiéis e peregrinos reunidos na praça de São Pedro, o papa disse que a fé em Cristo não é um estado estático porque, como a água, ela “sacia e refresca as criaturas, irriga a terra, as plantas, torna fértil e vivo o que, de outra forma, permaneceria árido".

Leão XIV comparou o dom da água à graça de Cristo Ressuscitado, que é "a fonte viva que não torna árido nem sofre alterações".

"Ela permanece sempre pura e pronta para quem quer que tenha sede", enfatizou o papa, convidando os cristãos a recorrerem a essa fonte inesgotável.

Leão XIV enfatizou que a sede espiritual é uma condição permanente do coração humano: "Quanto mais saboreamos o mistério de Deus, tanto mais nos sentimos atraídos por Ele, sem nunca nos saciarmos completamente".

Assim, ele disse que só Jesus, que morreu e ressuscitou, responde às perguntas mais profundas dos corações das pessoas, tais como: "Existe  realmente um ponto de chegada para nós? A nossa existência tem sentido? E como pode ser resgatado o sofrimento de tantos inocentes?"

Leão XIV disse que sem o amor de Deus, "a viagem da vida tornar-se-ia um perambular sem meta, um erro trágico com um destino fracassado".

“Somos criaturas frágeis! O erro faz parte da nossa humanidade, é a ferida do pecado que nos faz cair, renunciar, desesperar”, concluiu o papa, depois de dizer que levantar-se significa, em vez disso, “levantar-se e pôr-se de pé”.

Por fim, em sua saudação aos fiéis de língua italiana, Leão XIV os exortou a olhar para o exemplo de santa Teresa de Ávila, cuja memória litúrgica é celebrada hoje: "Que o exemplo dessa grande contemplativa seja um convite a todos vocês para revitalizar o espírito a cada dia na oração, fixando o olhar em Jesus Cristo, o único Salvador do mundo".