5 de dezembro de 2025 Doar
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Leão XIV critica lentidão da justiça no caso de abuso em sua diocese no Peru: Sinto-me muito mal por isso

Papa Leão XIV. | Crédito: Vatican Media.

O papa Leão XIV disse em uma entrevista que tentou "compreender e estar próximo" das vítimas de um caso de abusos em Chiclayo, diocese de que foi bispo no Peru até 2023, e lamentou que a lentidão da justiça canônica tenha tornado o processo mais "doloroso".

"A quantidade de tempo que todo esse processo levou o tornou muito doloroso", disse ele em uma entrevista com a correspondente do Crux em Roma, Elise Ann Allen, que foi incluída no livro Leão XIV: Cidadão do Mundo, Missionário do Século XXI. Honestamente, me sinto muito mal com isso

O volume, que inclui outra entrevista ao final sobre o futuro da Igreja, foi publicado ontem (18) em espanhol pela Penguin, no Peru. Edições em inglês e português estão previstas para o início de 2026.

O caso ao qual o papa se refere envolve a denúncia apresentada por três irmãs que se reuniram com ele quando era bispo de Chiclayo em 2022 para relatar os abusos sofridos por um padre anos antes, quando eram menores de idade. Segundo as denunciantes, o então bispo Robert Prevost, agora papa Leão XIV, não iniciou uma investigação canônica eficaz e, como consequência, o padre acusado continuou celebrando missa.

O papa Leão XIV recordou que, desde o primeiro momento, ouviu pessoalmente e lhes assegurou que acreditava em seus testemunhos. "Quando você vê alguém sofrendo, sabe que a dor vem de algum lugar. Não é inventada", disse.

Ele explicou que a diocese criou um centro de atendimento com profissionais, advogados, psicólogos e um médico, para oferecer atendimento psicológico e jurídico. "Queríamos que tivessem todo o apoio possível e soubessem a quem recorrer a qualquer momento", disse.

O papa esclareceu que o processo é complicado porque o padre acusado "afirma que é inocente". "Eu disse a elas que acredito nas vítimas quando elas vêm falar comigo. [Mas] o padre [acusado] afirma ser inocente. Portanto, a Igreja precisa defender os direitos das vítimas e dos acusados, e isso não é fácil", acrescentou.

Essa foi a primeira vez que Leão XIV falou sobre este processo judicial, que está atualmente em andamento no Dicastério para a Doutrina da Fé. No entanto, disse que não quer "dizer muito" porque é "o papa agora".

"Não é só Robert Prevost dizendo: 'Achei que fiz a coisa certa'", disse à jornalista.

O livro também inclui declarações de uma das três denunciantes, Ana María Quispe, nas quais ela afirma que a diocese abriu o caso, mas não conduziu uma investigação. Ela ainda acusa a Igreja de usar o fato de os tribunais civis do Peru terem encerrado o caso para encerrá-lo também em Roma.

Quispe também insiste que existe só "uma página", segundo cita o livro, nesse processo, o que significa, segundo ela, que não houve uma investigação adequada. No entanto, o caso continua sob segredo de justiça e não está claro a qual processo as denunciantes se referem.

Ainda assim, o papa também reconheceu que a lentidão dos processos judiciais, tanto na Igreja quanto no sistema de justiça civil do Peru, causou sofrimento adicional.

"Esses procedimentos são muito longos. Neste caso, a situação se complicou ainda mais porque fui transferido da diocese logo depois das denúncias terem sido feitas. O tempo que passou tornou tudo muito mais doloroso", disse o papa, que, poucos meses depois de ouvir as vítimas, foi nomeado prefeito do Dicastério para os Bispos em janeiro de 2023.

Caso "manipulado" pela mídia

Leão XIV também lamentou que o caso tenha sido manipulado pela mídia, o que, em sua opinião, expôs ainda mais as vítimas e amplificou sua dor.

"Elas foram vitimizadas e revitimizadas. Foi muito difícil para elas ver como tudo se tornou tão público, quando a diocese não queria essa exposição", disse.

Depois de reconhecer que a crise dos abusos sexuais é "uma crise real" que "não está resolvida", também revelou que, em seus dois primeiros meses de pontificado, começou um estudo para determinar por que, juridicamente, os casos de abuso demoram tanto para serem resolvidos.

"A justiça é muito lenta. É uma questão que já comecei a abordar desde os meus dois primeiros meses como papa, para começar a examinar alguns dos problemas jurídicos envolvidos: por que esses processos demoram tanto? Como garantir os direitos de todos?", disse ele na entrevista.

Os acusados também têm direitos

Na entrevista completa, que ocupa as últimas 32 páginas da biografia publicada ontem, o papa Leão XIV também afirma que os acusados ​​têm direitos. No entanto, ele defende em todo momento que acredita nas vítimas quando elas vêm falar com ele, embora acrescente que "houve casos comprovados de algum tipo de falsa acusação".

"Sacerdotes cujas vidas foram destruídas por isso. A lei existe, e podemos falar de direito civil ou de direito da Igreja, mas a lei existe para proteger os direitos de todas as pessoas", disse.

O papa disse que "seria ingênuo" pensar que basta dar-lhes "algum tipo de compensação financeira" ou que "o sacerdote seja demitido, como se essas feridas simplesmente desaparecessem por causa disso" para alcançar a reparação.

Por isso, ele pediu que as vítimas sejam tratadas "com grande respeito e compreensão" e admitiu que muitos na Igreja Católica podem se comportar como "novatos" em aprender a acompanhar essas pessoas e precisam da ajuda de profissionais.

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