Aug 12, 2025 / 13:43 pm
O mosteiro e o túmulo do antigo santo viram vários saqueadores do deserto ao longo dos últimos 16 séculos. Quando os conquistadores muçulmanos apareceram pela primeira vez, no século VII, Mar Elian ("Mar" significa santo em siríaco), perto da cidade síria de al-Qaryatayn, no deserto, tinha pelo menos dois séculos de existência. Soldados enviados por Maomé, pelos "califas bem guiados", pelos omíadas e abássidas, teriam passado por esse santuário e ponto de abastecimento de caravanas várias vezes e seguido em frente, deixando o local intocado.
Mas, no início de agosto, há dez anos, esses saqueadores muçulmanos eram diferentes. Em 6 de agosto de 2015, o grupo terrorista Estado Islâmico tomou a cidade vizinha de al-Qaryatayn e sequestrou centenas de cristãos enquanto outros fugiam. Anteriormente, eles tinham sequestrado o padre local em Mar Elian, o padre Jacques Mourad, cujo paradeiro era desconhecido e temia-se que ele estivesse morto.
Em 21 de agosto daquele ano, o Estado Islâmico (ISIS) divulgou fotos e vídeos de propaganda mostrando seus combatentes destruindo o mosteiro católico siríaco de Mar Elian e o túmulo do santo usando tratores e dinamite. Algumas das imagens mostravam ossos espalhados no chão entre os destroços de um antigo sarcófago romano de mármore decorado com cruzes esculpidas.
Muitos meios de comunicação ocidentais noticiaram essa atrocidade na época, embora muitos não tenham compreendido quem era Mar Elian ou a história do local. A província de Homs, na Síria, ostenta não um, mas dois santos Elian ("Elian", não Elias). A própria cidade de Homs abriga o túmulo de Mar Elian (são Juliano de Emesa), médico cristão do século III — um dos "santos não mercenários" — que foi martirizado em 284 sob o imperador romano Numeriano.
A 80 km de distância, Mar Elian, cujo santuário foi profanado em al-Qaryatayn, era Eliano, o Eremita ou Eliano, o Velho, um santo siríaco, asceta e milagreiro originário da cidade de Edessa (hoje Urfa, na Turquia), que morreu no ano 367 e mestre de santo Efrém, o Sírio, um dos Doutores da Igreja. Santo Efrém, a "Harpa do Espírito Santo", escreveu uma série de poemas sobre seu santo mestre Eliano.
Esse desastre — um padre e centenas de fiéis sequestrados e mantidos nas mãos de terroristas, um antigo mosteiro e santuário destruídos — exatamente dez anos atrás neste mês, foi só uma pequena parte dos horrores da guerra na Síria e do sofrimento do povo sírio, cristão e muçulmano, desde 2011.
O controle da área pelo Estado Islâmico durou menos de um ano, depois da retomada por uma ofensiva do exército sírio, apoiado pela Rússia, em abril de 2016. Quase todos os cristãos sequestrados em al-Qaryatayn, depois de sofrerem humilhações terríveis e repetidas ameaças de seus sequestradores do Estado Islâmico, foram finalmente libertados. Alguns idosos morreram de causas naturais e alguns foram mortos em ataques aéreos.
Notavelmente, os ossos de Mar Elian foram recuperados, e alguns trabalhos iniciais foram feitos para restaurar o mosteiro e o santuário, um local que outrora atraiu muçulmanos e cristãos locais. O padre Mourad conseguiu escapar do cativeiro com a ajuda de muçulmanos locais depois de cinco meses de sequestro. Desde 2023, ele é arcebispo católico siríaco de Homs.
Em entrevista à ACI MENA, agência em árabe do grupo EWTN, o arcebispo Mourad falou sobre o décimo aniversário dos terríveis eventos de agosto de 2015. Foi em 12 de agosto daquele ano que seus sequestradores o levaram para a capital do Estado Islâmico, Raqqa, e ele se reencontrou com seus paroquianos sequestrados. Mais tarde naquele mês, todos foram autorizados a voltar a al-Qaryatayn, sob rigorosa vigilância e monitoramento do Estado Islâmico, e o medo adicional agora era de serem bombardeados pelas forças aéreas sírias ou russas.
“No terceiro ou quarto dia depois do nosso retorno, decidimos celebrar uma missa secreta num apartamento no centro da cidade. Foi a minha primeira missa em quatro meses, e foi uma sensação extraordinária para mim e para os fiéis, enquanto lágrimas de alegria se misturavam ao medo de sermos descobertos”, disse o arcebispo. “Apesar do medo, todos nós sentimos uma sensação de coragem, e atribuo isso à Virgem Maria, pois a oração do Rosário não me abandonou desde o momento do meu sequestro até o dia da minha fuga, dando-me uma paz interior que superou o meu medo”.
Depois da expulsão do Estado Islâmico em 2016, o lento trabalho de recuperação começou.
Os ossos de Mar Elian e dos monges locais foram recuperados e enviados para Homs para serem guardados em segurança até que pudessem ser devolvidos.
“Em 2021, decidimos restaurar o mosteiro, devolvê-lo ao que era”, disse o arcebispo. Não só houve a destruição causada pelo Estado Islâmico, como também ladrões, sob a proteção de segurança militar, cortaram centenas de oliveiras e outras árvores que haviam sido plantadas uma década antes. “Começamos a cultivar a terra novamente; e então, em 2022, iniciamos a restauração do mosteiro e do santuário do santo. No dia de sua festa, numa celebração com a presença dos arcebispos metropolitanos de Damasco e Homs, tanto ortodoxos quanto católicos, devolvemos os ossos ao santuário em 9 de setembro de 2022, com muçulmanos se juntando a nós na procissão por al-Qaryatayn — uma cena muito emocionante”.
O arcebispo Mourad disse que "restam só cerca de 25 cristãos", mas que "esperamos que, se a situação se estabilizar no país, possamos restaurar o lugar totalmente para que ele se torne novamente um local de peregrinação e retiro espiritual".
Na Síria, muito se perdeu e muita coisa está em perigo. Tanto congregações quanto locais sagrados estão em risco. Mas, assim como Mar Elian foi recuperado e o lento trabalho de restauração começou, o arcebispo Mourad disse recentemente que, apesar das tremendas dificuldades e perigos, "Jesus quer que sua Igreja permaneça na Síria” e “essa ideia de esvaziar a Síria de cristãos certamente não é a vontade de Deus".
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