A Nunciatura Apostólica na Nicarágua publicou no dia 18 de fevereiro um comunicado que explica por que o Papa Francisco suspendeu as sanções impostas a Ernesto Cardenal, sacerdote de 94 anos suspenso a divinis por João Paulo II em 1984, devido à sua participação política no governo sandinista, algo proibido pela lei canônica.

"O Santo Padre concedeu com benevolência a absolvição de todas as censuras canônicas impostas ao Rev. Padre Ernesto Cardenal, aceitando o pedido que ele havia apresentado recentemente, através do Representante Pontifício na Nicarágua, para ser readmitido no exercício do ministério sacerdotal", afirma o comunicado assinado pelo Núncio Apostólico na Nicarágua, Dom Waldemar Stanislaw Sommertag.

"Padre Cardenal esteve 35 anos sob suspensão do exercício do ministério devido a sua militância política. O religioso aceitou a pena canônica imposta, atendo-se a ela sem levar adiante nenhuma atividade pastoral. Além disso, abandonou há muitos anos todo e qualquer empenho político", conclui o texto.

O pedido de Ernesto Cardenal marca uma mudança de posição do sacerdote, que em janeiro de 2017, entrevistado pelo jornalista argentino Enrique Vázquez, afirmou que não queria receber esta graça, concedida alguns dias antes a Miguel D'Escoto que também havia sido suspenso em 1984.

"Isso é falso, isso aconteceu apenas no caso de Miguel D'Escoto! Nunca levantaram minha suspensão sacerdotal e eu não estou interessado em que isso aconteça", disse na época.

Cardenal está internado em um Centro Médico de Manágua desde o dia 4 de fevereiro devido a uma infecção renal.

Ernesto Cardenal, junto com seu irmão Fernando e outros dois sacerdotes, Miguel D'Escoto e Edgard Parrales, foram suspensos a divinis por fazer política partidária, algo incompatível com o ministério sacerdotal, conforme estabelecido pelo Código de Direito Canônico.

O nicaraguense colaborou ativamente como parte da revolução da Frente Sandinista de Libertação Nacional, que terminou com a ditadura de Anastasio Somoza. Foi nomeado ministro da Cultura no mesmo dia em que os sandinistas venceram, em 19 de julho de 1979. Ocupou esse cargo até 1987.

Cardenal foi repreendido publicamente por São João Paulo II quando este visitou a Nicarágua em 1983. Na foto que entrou para a história, vê-se o Papa polonês sério diante do nicaraguense em posição de genuflexão e sorridente.

Algum tempo depois, Cardenal diria que João Paulo II lhe pediu que regularizasse sua situação.

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