O Núncio Apostólico na Venezuela, Dom Aldo Giordano, informou que Dom Claudio Maria Celli – que participou como representante vaticano nos diálogos entre o governo e a oposição – renunciou visitar o país nos próximos dias e, portanto, “não participará das reuniões (da Mesa de diálogo) previstas para estes dias”.

Dom Giordano informou sobre essa decisão em uma carta dirigida a Jesus Chúo Torrealba, Secretário Executivo da Mesa da Unidade Democrática (MUD). “Desejo informar que S.E. Dom Claudio Maria Celli, delegado do Papa para a mesa de diálogo na Venezuela, renunciou a sua visita a Venezuela para os próximos dias, portanto não participará das possíveis reuniões previstas para estes dias”, indicou.

A carta divulgada ontem acrescenta que Dom Giordano “foi designado como delegado da Santa Sé para estes eventuais encontros”.

Em 30 de outubro do ano passado, aconteceu a primeira reunião entre representantes do governo de Nicolás Maduro e da MUD como integrante da Mesa de Diálogo patrocinada pela União de Nações Sul-Americanas (Unasul), na qual Dom Celli participava como facilitador.

Nesta primeira reunião, chegou-se a um acordo – como denunciaram os bispos venezuelanos –, que não foi cumprido pelo governo e que foi advertido pelo Secretário de Estado do Vaticano, Cardeal Pietro Parolin, em uma carta privada no dia 1º de dezembro, a qual posteriormente vazou para a imprensa.

Em sua carta, a autoridade vaticana denunciou, “respeitosamente, mas com firmeza”, para que realizasse o compromisso de melhorar as “medidas para aliviar a grave crise de abastecimento de alimentos e remédios”, que ambos as partes “concordem com o calendário eleitoral que permite que os venezuelanos decidam sem demora o seu futuro”, que sejam “tomadas as medidas necessárias para restabelecer o mais rápido possível a Assembleia Nacional o papel previsto na Constituição” e “sejam aplicados os instrumentos legais a fim de acelerar o processo de libertação dos presos”.

Estes quatro pontos são condições essenciais “para continuar o diálogo”, acrescentou a Conferência Episcopal venezuelana, em 13 de janeiro. A Mesa de Diálogo foi suspensa desde dezembro de 2016.

Por sua parte, em uma carta dirigida a Dom Giordano, Torrealba agradeceu pela MUD a participação de Dom Celli e disse que “hoje compreendemos os motivos que levam a Santa Sé a não enviar, nas circunstâncias atuais, o delegado do Papa para a Venezuela”.

“Tais razões estão nitidamente desenhadas nas quatro reivindicações ao governo venezuelano, contundentes e ainda insatisfeitas, refletidas na carta de S.E. Dom Pietro Cardeal Parolin, Secretário de Estado do Vaticano, datada em 1º de dezembro de 2016”, acrescentou.

Torrealba disse que, “na diplomacia, a ausência pode ser uma forma de exercer presença e o silêncio pode chegar a ser o discurso mais eloquente” e indicou que espera que esta decisão “leve à reflexão os representantes do governo nacional que fizeram colapsar o mecanismo de diálogo com o seu sistemático incumprimentos dos acordos e os oriente a desandar a escalada de repressão e forte intolerância desencadeada pelo poder nas últimas semanas”.

Por sua parte, a Secretaria Geral da Unasul publicou um comunicado no último dia 19 de janeiro, no qual assinala que “os acompanhantes do processo de diálogo” reiteram o seu “compromisso e firme determinação para continuar acompanhando a todas as medidas necessárias a fim de conseguir uma solução pacífica e democrática convivência na Venezuela”.

Do mesmo modo, disse que o Secretário Geral da Unasul, Ernesto Samper, “destacou a mensagem enviada” pelo Cardinal Parolin “com a firme decisão do Vaticano de continuar apoiando o diálogo”.

Confira também: