O Responsum publicado no último dia 15 de março pela Congregação para a Doutrina da Fé não parece ter colocado um fim aos debates sobre a impossibilidade de que a Igreja Católica abençoe uniões homossexuais na Alemanha. Três párocos estão convocando para o próximo 10 de maio uma jornada de bênçãos para uniões homossexuais em suas igrejas e contam com o apoio do Comitê Central de Católicos Alemães (ZdK) e de um bispo diocesano.

Cerca de 2.600 párocos, diáconos, agentes pastorais se uniram em um abaixo assinado e estão convidando outros padres de todo o território da República Federal da Alemanha para se juntarem a um dia de bênçãos para "todos as uniões de pessoas que se amam" que acontecerá em 10 de maio. O evento foi lançado nas redes sociais com o slogan "Não negamos uma bênção" e pode ser encontrado nas hashtags: "abençoe com coragem" (#mutwilligSegnen) e o “amor vence” (#liebegewinnt).

Além da bênção, os organizadores convidam os católicos a "enviarem sinais criativos" para que "muitas pessoas ao interior da Igreja entendam como uma bênção e um enriquecimento a multiplicidade colorida de projetos de vida e histórias de amor".

A iniciativa foi lançada no 15 de março, o mesmo dia da publicação do "Responsum da Congregação para a Doutrina da Fé sobre um dubium (dúvida) sobre a bênção das uniões do mesmo sexo", por um pároco da localidade de Hamm, Monsenhor Bernd Mönkebüscher, junto do pároco de Würzburg, Pe. Burkhard Hose, e o Pe. Carsten Leinhäuser, um sacerdote da diocese de Speyer.

A iniciativa conta ainda com o respaldo da revista Publik Forum que está promovendo um anúncio do evento em suas publicações.

No último sábado, Pe. Hose – que chamou o Responsum de "quase bizarro" e "fora deste mundo" – entregou a lista de assinaturas dos peticionários ao Bispo de Aachen, Dom Helmut Dieser, e da encarregada de políticas familiares do Comitê Central dos Católicos Alemães (ZdK), Birgit Mock.

A escolha dos dois destinatários não é acidental, já que Dom Dieser e Birgit Mock presidem o fórum do Caminho Sinodal dedicado à moralidade sexual e são abertamente favoráveis a que a Igreja tenha um ritual de bênçãos para essas uniões.

"Forçar casais que vivem relações de amor em fidelidade e estima mútua, a negar sua sexualidade não corresponde à nossa imagem de homem e Deus", disse Mock ao receber a lista. O bispo Dieser, por sua parte, admitiu que não gostou do momento em que a Congregação para a Doutrina Fé emitiu a resposta. Segundo ele, “a tomada de uma posição de Roma, precisamente durante os esforços sinodais, causou irritação e rancor”.

Tendo em vista o combate interno de muitos padres em sua diocese de Aachen, divididos entre a fidelidade à Igreja e o desejo de abençoar uniões homossexuais, Dom Dieser diz que esperava “um novo desenvolvimento da doutrina da Igreja” para que as bênçãos das uniões homossexuais pudessem um dia sair desta área cinzenta, já que até então, não havia uma disposição do Vaticano.

O bispo de Aachen não é o único prelado que defende a existência de uma bênção para uniões homossexuais.

Em uma entrevista intitulada "Muitos são feridos pela Igreja", o presidente da Conferência Episcopal Alemã, o bispo Georg Bätzing, disse que "entende e partilha a perplexidade de tantos diretores espirituais" sobre o Responsum.

"O documento de Roma de 15 de Março – afirmou o Presidente dos Bispos Alemães na ocasião– apenas reafirma o atual estado da doutrina” e acrescentou que na Alemanha o mesmo “não receberá ampla aceitação e não será seguido”.

“Um documento que, em seu argumento, se fecha de forma impressionante para o progresso da pesquisa teológica e científica humana, levará a prática pastoral a ignorá-la", afirmou ainda Dom Bätzing.

Finalmente, o prelado disse estar convencido de que "a moralidade sexual da Igreja pode se dar o privilégio de evoluir à luz do conhecimento teológico e das ciências humanas" e que o tema “seguirá sendo discutido” nas reuniões do Caminho Sinodal.

 

Texto originalmente publicado em ACI Stampa, traduzido e adaptado por Rafael Tavares.

Confira: