Dançarinos, uma oração das "quatro direções" dos nativos americanos e uma figura vestida de roupas coloridas semelhante a representações tradicionais de um demônio asteca, marcaram a missa de inauguração da fase diocesana do Sínodo da Sinodalidade na diocese de San Bernardino, Califórnia, EUA. Segundo a diocese, as novidades buscaram celebrar a “rica diversidade cultural” da Califórnia e dar as boas-vindas aos que estão na periferia da Igreja.

“Paganismo em pleno florescimento”, diz um comentário no vpideo da missa no YouTube. “Isso é uma vergonha absoluta para Deus e para a sua Santa Igreja”, acrescentou outro.

O Sínodo sobre Sinodalidade é um processo consultivo global que o papa Francisco iniciou no início deste mês para reunir contribuições de católicos e de outras pessoas ao redor do mundo sobre a Igreja. Muitas dioceses em todo o mundo celebraram missas no fim de semana passado para iniciar um ano de sessões de escuta e outros meios de obter comentários.

Dom Alberto Rojas, bispo de San Bernardino, foi o celebrante principal da missa, que durou cerca de duas horas na Igreja Rainha dos Anjos em Riverside, Califórnia. O bispo emérito de San Bernardino, dom Gerald Barnes, concelebrou.

A liturgia multilíngue transmitida ao vivo começou de forma dramática. Um ministro leigo que trabalhava em uma reserva indígena próxima conduziu a procissão até o santuário, agitando uma grande pena de pássaro em uma das mãos enquanto carregava uma cesta na outra, ao som de tambores.

Depois de rodear o altar e chegar ao púlpito, Michael Madrigal, que a diocese identificou como ministro leigo na Igreja Católica da Missão de São José na Reserva Indígena de Soboba, pegou um chocalho de madeira da cesta e sacudiu enquanto cantava em um idioma nativo americano. Em seguida, ele recitou a "oração dos nativos americanos das quatro direções" em inglês.

“Começamos pelo norte. É a direção das neves frias e do gelo do inverno. É a direção de nossos medicamentos de cura de onde recebemos as orações, a cerimônia e as bênçãos de nosso Criador. Nesta direção, rezamos por todos os nossos líderes espirituais”, começou Madrigal.

“Rezamos pela fortaleza e bênçãos para o papa Francisco - continuou - já que ele nos convocou para este ano do Sínodo. Rezamos por todos os nossos bispos, padres, religiosos e líderes comunitários. Pedimos que lhes dê sabedoria, força para o caminho”.

Orações semelhantes dirigidas ao leste, sul e oeste invocavam a Trindade e pediam a orientação, cura e proteção a Deus.

Você pode assistir a missa sinodal completa no vídeo do YouTube abaixo: https://www.youtube.com/watch?v=D6f6du2hv0g&t=1s. A missa começa no minuto 7:53. A procissão de entrada no 11:15 e os dançarinos aparecem às 2:03:13.

Porcurado pela CNA, agência em inglês do grupo ACI, um porta-voz da diocese disse por e-mail que o sentido da oração é duplo. Em primeiro lugar, a oração quer "refletir o caráter multicultural da diocese e dar voz às expressões católicas que podem ser vistas na periferia".

Em segundo lugar, “esta oração, por sua natureza, ajuda os fiéis a refletir sobre toda a rede da vida que Deus criou, uma ideia central na Laudato si do papa Francisco”.

Para o padre Daniel Cardó, professor da Cátedra Bento XVI de Estudos Litúrgicos no Seminário Teológico St. John Vianney, em Denver, expressões culturais durante a missa possam desviar o foco apropriado da eucaristia. “Muitas são as ocasiões na vida de uma diocese ou paróquia de expressão cultural e pessoal, mas a missa não é o lugar para elas”, disse o padre Cardó por e-mail à CNA. “A unidade eclesial verdadeira e duradoura vem da eucaristia, não de nossas experiências humanas bem-intencionadas. Celebrar os sacramentos segundo as rubricas e o seu espírito é a forma ordinária e simples de uma participação genuína nas graças que Deus oferece por meio deles”.

Em sua homilia, dom Rojas descreveu a caminhada sinodal como um convite a ouvir e acolher “todas as pessoas que estão à margem da sociedade”. “Guiados pelo Espírito Santo, nos reunimos de diferentes culturas e idiomas ao redor do mundo, mas unidos em Cristo como uma família de famílias para rezar e nos escutar uns aos outros. Queremos que todas as pessoas marginalizadas da sociedade saibam que são bem-vindas em nossas comunidades porque todos são filhos de Deus criados à mesma imagem e semelhança de Deus nosso Pai”, continuou.

Perto do final da missa, dom Rojas explicou o simbolismo da procissão de entrada.

“Vocês perceberam que quando entramos na igreja a procissão de entrada foi um pouco diferente do que fazíamos no passado. Normalmente, o padre ou o presidente ou os bispos vem ao fundo, no final do processo. Perceberam que desta vez estávamos no meio, simbolizando o caminhar juntos”, disse o bispo.

Momentos depois, dançarinos indígenas mexicanos, chamados matachines, com sinos em suas roupas e altos cocares de penas, desfilaram em frente ao altar. Depois de uma bênção final, intercalada com fortes batidas de tambor, eles deixaram a igreja dançando.

Um dos dois tocadores de tambor ao pé da escada que conduz ao altar parecia estar vestindo uma fantasia de jaguar, que alguns espectadores associaram ao demônio jaguar asteca Tezcatilpoca. A diocese não respondeu a um e-mail enviado pela CNA pedindo uma explicação.

A inculturação da liturgia tem uma longa história, mas ganhou especial importância desde que a constituição do Concílio Vaticano II sobre a sagrada liturgia incluiu normas para adaptar a liturgia à cultura e às tradições dos povos.

Fazendo eco da Sacrosanctum concilium e dos recentes documentos da Congregação para o Culto Divino, a Instrução Geral do Missal Romano indica que “a procura da inculturação não pretende de modo algum a criação de novas famílias rituais, mas sim responder às exigências de determinada cultura, de tal modo, porém, que as adaptações introduzidas, quer no Missal quer nos outros livros litúrgicos, não sejam prejudiciais à índole própria do Rito Romano”.

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