Pegar a estrada, parar em um posto para abastecer o veículo, para descansar, se alimentar é algo comum para quem viaja. Em algumas dessas paradas pelo Brasil, o viajante católico pode também viver a sua fé, participar da missa, confessar-se e ter alguns uns instantes de oração diante do Santíssimo Sacramento. Isso porque uma rede de postos mantém em suas instalações capelas, com Jesus Eucarístico presente no sacrário.

“Hoje, temos sete capelas, mas queremos continuar construindo onde não tem. Nós queremos, cada vez mais, que o Santíssimo esteja ali, porque percebemos que há uma diferença muito grande. Ter a capela é um privilégio, mas ter o Santíssimo na capela é um grande privilégio, é uma grande bênção”, disse em entrevista à ACI Digital Janeth Vaz, diretora da Rede Marajó, que possui 19 unidades, entre os estados de Pará, Tocantins, Goiás, Mato Grosso e Minas Gerais.

Segundo Janeth, tudo começou em 1992. Ela vem de uma família católica, mas participava “esporadicamente” das missas. Até que começou a participar de um grupo da Renovação Carismática Católica (RCC). “Eu me envolvi muito, fiquei apaixonada pela nossa Igreja”, contou. Aos poucos, passou a participar cada vez mais e coordenar outros grupos da RCC.

“Até então, meu marido era resistente, tinha um pé atrás e dizia que um dia ia construir uma igreja para mim no quintal de casa, porque eu ia muito à igreja. Eu falei para ele: você vai fazer sim, mas quem vai participar será mais você do que eu. E foi o que aconteceu”, recordou.

Janeth Vaz na inauguração da capela Nossa Senhora de Guadalupe e Sagrado Coração, em Santana do Araguaia (PA) / Rede Marajó

Em 1992, construíram a primeira capela no posto de Nova Olinda (TO), às margens da BR-153. “Naquela época a diocese (de Tocantinópolis) estava sem bispo, mas o administrador apostólico permitiu que o Santíssimo já estivesse na capela logo a partir da inauguração. A partir daí, em todas as nossas capelas, quando começamos a construir, a primeira coisa que fazemos e ir até o pároco, que pede ao bispo a permissão para ter o Santíssimo”, afirmou.

Depois de Nova Olinda, outras capelas foram sendo construídas em Aparecida de Goiânia (GO), Belém (PA), Frutal (MG), Centralina (MG), Várzea Grande (MT) e Santana do Araguaia (PA). As capelas têm missas semanais e, em algumas, um padre vai em outro dia para atender as pessoas, seja para um aconselhamento, conversa, oração e confissão.

Para Janeth Vaz, “o coração da Marajó é a capela e sabemos que quem está na capela é o Santíssimo”.

Além disso, segundo ela, a construção das capelas passou a ser muito voltada para os caminhoneiros, profissionais que passam muito tempo nas estradas. “Começamos a perceber como o caminhoneiro entra na capela. Parece que, para eles, é um oásis no meio do deserto, meio da estrada”, disse.

Esse oásis já salvou pelo menos dois caminhoneiros do suicídio. “O primeiro foi em Nova Olinda, na capela Nossa Senhora das Graças”, conta Janeth. “Um dia, chegou um caminhoneiro muito desesperado, com uma arma e queria tirar a própria vida. O guarda da noite percebeu o estado dele e o orientou a ir para a capela. Ele entrou na capela e ficou lá por um tempo. Um dos meninos que trabalham lá conversou muito com ele. Quando saiu, já estava totalmente diferente e não tinha mais a intenção de se matar e disse que ia inclusive se desfazer da arma”.

“Outro caso foi recente, em Belém, na capela Nossa Senhora de Nazaré. O padre que nos deu o testemunho. Em um dia que estava lá pelo posto para atender as pessoas, passando em frente à capela, achou que a luz do sacrário estava apagada. Então, entrou para acender. Quando entrou, viu que a luz estava acessa, mas tinha um homem na capela, chorando. O padre se identificou e perguntou se podia ajudar. O homem falou que tinha entrado ali com o pensamento de se matar, mas tinha falado para Deus: ‘se eu encontrar um padre aqui que vai atender minha confissão, vou mudar de ideia’. Foi justamente na hora que o padre entrou e conversou, rezou com ele e ele mudou de ideia”, contou Janeth.

A diretora da Rede Marajó disse ainda que percebe entre os caminhoneiros “que eles amam Nossa Senhora, eles têm uma devoção, porque sentem o cuidado de Nossa Senhora com eles”. “Geralmente, quando os padres vão celebrar a missa, levam terços para distribuir para os caminhoneiros e é possível perceber o quanto eles ficam felizes”, disse. Além disso, ela própria é devota de Nossa Senhora. Por isso, as capelas são dedicadas a diferentes títulos marianos.

Missa na capela Nossa Senhora Desatadora dos Nós e Sagrada Família, em Várzea Grande (MT) / Rede Marajó

Oração diária

Além das capelas, Janeth contou que na empresa buscam viver a fé também entre os funcionários. Por isso, todos os dias, em todas as unidades da rede, das 8h às 8h30, tudo para e há a oração diária, sempre feita com a liturgia do dia. “Mesmo que alguns funcionários não queriam participar, e eles não são obrigados, tudo para até acontecer a oração”, disse, ressaltando que a grande maioria participa das orações e que “há grande unidade entre católicos e não-católicos”.

Além disso, em todas as unidades, mesmo nos postos onde ainda não há capela, é celebrada a missa mensal.

“Eu vejo tudo isso como uma graça. No início, eu até pensava: ‘Como vamos conseguir que estas pessoas sejam fiéis?’. Eu vejo como uma graça, uma força do Espírito Santo. Sem essa graça nada acontece, porque é fácil iniciar alguma coisa, mas manter a perseverança não é tão simples”, disse Janeth, ressaltando que “se não fosse de Deus, se fosse só da nossa vontade humana, acredito que não estaria aí firme nesses 30 anos. Não são três dias, um mês. É muito tempo para estar firme com essa perseverança”, declarou.

Atualmente, segundo Janeth Vaz, são os filhos dela que “estão à frente” da Rede Marajó, “na presidência, nas diretorias”. “E eles, muito mais do que eu, desejam essas capelas e que a oração aconteça. Foi algo que incutimos e ficou no coração deles”.

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“A fé é o primeiro valor da nossa empresa”, concluiu.

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