Um sacerdote católico no norte da China foi preso no Domingo de Ramos, início da Semana Santa, e foi o terceiro clérigo a ser preso pelas autoridades na diocese em menos de um mês.

Segundo informa UCANews, Pe. Peter Zhang Guangjun, da Diocese de Xuanhua, foi preso no dia 14 de abril depois de celebrar a Missa do Domingo de Ramos. O sacerdote faz parte da Igreja clandestina ou subterrânea, não reconhecida pelo governo.

Uma testemunha chamada Paul disse à UCANews que os agentes do regime tiraram o sacerdote do seu carro para prendê-lo sem informar o motivo da prisão.

Um grupo de católicos da Diocese se reuniu em frente à sede do governo regional de Xuanhua para rezar e pedir às autoridades que libertem o sacerdote e outras cinco pessoas, incluindo a irmã do presbítero.

Alguns fiéis puderam se encontrar brevemente com o sacerdote que lhes disse que o que aconteceu "serve para dar testemunho de Cristo", indicou outro fiel identificado por UCANews como John.

Os outros dois membros do clero que foram detidos naquela localidade são o Bispo Augustine Cui Tai e seu Vigário Geral, Pe. Zhang Jianlin, que foram presos no final de março.

John explicou que o governo prendeu o bispo e seu vigário para eliminar a liderança diocesana e que, com a prisão de Pe. Zhang Guangjun, as autoridades teriam decidido fazê-lo agora no nível paroquial.

Pe. Zhang Guangjun é responsável por cerca de 10 mil fiéis. Já havia sido preso por dois meses em 2011, quando foi torturado por se negar a receber um certificado que o apresentaria publicamente como um seguidor das autoridades.

John disse que nos últimos dias as autoridades teriam mostrado aos fiéis um certificado falso. "Se o padre tivesse o certificado, o governo não teria criado esse problema. Por isso que eles o sequestraram agora", denunciou.

A situação dos católicos na China

Pe. Bernardo Cervellera, especialista em Igreja Católica na China e editor da agência de notícias Asia News informou em 3 de abril que, " em muitas dioceses, a Associação Patriótica e o Departamento de Assuntos Religiosos continuam exigindo que todos os sacerdotes se inscrevam na associação e mantenham a 'Igreja independente'. A este respeito, o Vaticano manifestou uma tímida reserva em uma entrevista do Cardeal Fernando Filoni concedida ao (jornal do Vaticano) L'Osservatore Romano, destacando que a pertença à Associação segundo lei chinesa deveria ser facultativa".

Na China existe a Associação Católica Patriótica Chinesa, controlada pelo governo, e a Igreja clandestina ou subterrânea, que sempre permaneceu fiel à Santa Sé.

O editor de AsiaNews disse que, por exemplo, "na Diocese de Mindong, o Departamento de Assuntos Religiosos está chamando todos os sacerdotes clandestinos ou subterrâneos (fiéis à Santa Sé), que são a maioria, um por um, e exigindo que se inscrevam na Associação Patriótica. Caso contrário, devem deixar suas paróquias e seu ministério".

Na prática, afirma Pe. Cervellera, ao invés de "reconciliação" entre a Associação Patriótica e a Igreja clandestina ou subterrânea, com o acordo entre a China e o Vaticano, "há uma grande pressão sobre a comunidade subterrânea com forte interferência na vida da Igreja".

O Acordo Provisório

Em 22 de setembro, o Vaticano anunciou a assinatura do Acordo Provisório com a China para a nomeação de bispos.

Alguns manifestaram a sua oposição ao acordo, como o Bispo Emérito de Hong Kong, Cardeal Joseph Zen, que em um artigo publicado em ‘The New York Times’ em 24 de outubro, escreveu: "Aos bispos e sacerdotes clandestinos (fiéis) da China, apenas posso lhes dizer: por favor, não comecem uma revolução. Eles (as autoridades) tomam suas igrejas? Já não podem celebrar? Vá para casa e reze com suas famílias. (...) Esperem um tempo melhor. Voltem às catacumbas. O comunismo não é eterno".

No voo de regresso de sua viagem à Lituânia, Letônia e Estônia no final de setembro, o Papa Francisco disse aos jornalistas: “Eu sou o responsável” pelo acordo.

Mais em

Sobre os sete bispos que não estavam em comunhão com a Igreja até antes do acordo, como Dom Guo Jincai que participou do Sínodo em outubro de 2018 no Vaticano, Francisco disse que “foram estudados caso por caso. Para cada bispo fizeram um expediente e estes expedientes chegaram à minha escrivaninha. E eu fui o responsável por assinar cada caso dos bispos”.

Sobre o acordo, Francisco indicou que “a coisa se faz em diálogo, mas, quem nomeia é Roma, quem nomeia é o Papa. Isto é claro. E rezamos pelos sofrimentos de alguns que não entendem ou que têm em suas costas muitos anos de clandestinidade”.

No dia 26 de setembro de 2018, o Pontífice dirigiu uma mensagem aos católicos da China e à Igreja universal na qual solicitou “gestos concretos e visíveis” aos bispos aos quais levantou a excomunhão.

Confira também: