O Papa Francisco reconheceu o martírio do Servo de Deus Rosario Angelo Livatino, um juiz que foi assassinado pela máfia enquanto trabalhava em um tribunal na Sicília há trinta anos.

Segundo informou a sala de imprensa da Santa Sé, em 22 de dezembro, o Papa recebeu nesta segunda-feira o prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, Cardeal Marcello Semeraro, e autorizou a promulgação de vários decretos, entre os quais o martírio do leigo italiano.

Rosario Angelo Livatino nasceu em 3 de outubro de 1952, em Canicatti, província italiana de Agrigento. Decidiu seguir a mesma carreira de seu pai e ingressou na Faculdade de Jurisprudência de Palermo. Terminou seus estudos de direito aos 22 anos com as melhores notas.

“Hoje, fiz o juramento. A partir de hoje, estou na magistratura. Que Deus me acompanhe e me ajude a respeitar o juramento e a me comportar no modo que exige a educação que meus pais me deram”, escreveu em seu diário quando começou a trabalhar como juiz.

Em 21 de agosto de 1989, foi nomeado juiz da seção de prevenção do Tribunal de Agrigento. Nesse posto, teve sob sua responsabilidade vários processos contra membros da máfia condenados à prisão perpétua.

Em 21 de setembro de 1990, foi interceptado por quatro sujeitos enquanto dirigia seu carro. Em meio aos disparos, Livatino conseguiu sair do carro e tentou correr. Ferido, aproximou-se do acostamento e um dos assassinos se aproximou para matá-lo. Quem acabou com a vida do juiz foi Gaetano Puzzangaro, que deu um dos testemunhos para a causa de beatificação do magistrado.

Após a morte de Livatino, uma Bíblia cheia de anotações foi encontrada em sua mesa, onde sempre guardava um crucifixo.

Em 2018, durante a apresentação do dossiê que será enviado à Congregação para as Causas dos Santos para a revisão do caso de Livatino, o Arcebispo de Agrigento, Cardeal Francesco Montenegro, indicou que a presença do juiz “é como a de um sol que brilha nesta terra, onde estamos habituados a ressaltar a escuridão”.

“Confiamos todo este trabalho ao amor misericordioso de Deus. Querendo recordar uma das frases típicas do juiz Livatino, nós o colocamos ‘sob a tutela de Deus’, sob seu olhar de Pai que segue nos indicando na justiça o caminho seguro para encontrar a salvação”, destacou o Cardeal.

“Sob a tutela de Deus” é uma frase escrita em latim n caderno que foi encontrado junto ao corpo do juiz, assassinado pela Stidda, a máfia que ordenou sua morte.

Livatino costumava se referir a esta frase em alguns documentos com as iniciais “STD” (Sub Tutela Dei, em latim).

O Cardeal indicou que para compreender a herança do juiz é necessário olhar para a "bússola" nas palavras de São João Paulo II, que o definiu como um "mártir da justiça e, portanto, indiretamente, da fé".

O Cardeal ressaltou que o Papa peregrino “orientava a buscar o motor que havia motivado Livatino não só na causa da justiça humana, mas na fé cristã, o líder de sua vida como um operador de justiça. Impulsionado por ela, pôde consumar toda a sua vida”.

O Cardeal indicou que Livatino nos ensina que “para chegar a ser santos, não devemos nos afastar de nossos compromissos, mas devemos sujar as mãos em nossos trabalhos diários, tentando manter limpo a veste batismal”.

“Livatino, para nós, é uma expressão de um cristão baseado na união com Deus e o serviço ao homem, de oração e ação, de silêncio contemplativo e de coragem heroica”, acrescentou.

Antes de sua morte, o juiz Livatino destacou que “a justiça é necessária, mas não suficiente, e pode e deve ser superada pela lei da caridade, que é a lei do amor, do amor ao próximo e a Deus”.

“E mais uma vez, será a lei do amor, a força vivificante da fé, que resolverá o problema de raiz. Lembremo-nos das palavras de Jesus à mulher adúltera: ‘Quem não tem pecado atire a primeira pedra’. Com estas palavras indicou o motivo profundo de nossa dificuldade: o pecado é uma sombra; para julgar é preciso luz, e nenhum homem é luz absoluta”, ressaltou.

Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.

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