O Papa Francisco enviou uma carta felicitando o sacerdote peruano e propulsor da Teologia da Libertação, Pe. Gustavo Gutiérrez, por ocasião do seu 90º aniversário, celebrado no dia 8 de junho.

“Uno-me à sua ação de graças a Deus, e agradeço-lhe pela sua contribuição à Igreja e à humanidade através do seu serviço teológico e do seu amor preferencial pelos pobres e descartados da sociedade”, afirma o Pontífice em uma carta enviada no dia 28 de maio, dirigida ao sacerdote que atualmente é professor de Teologia na cátedra John Cardinal O'Hara, na Universidade de Notre Dame (Estados Unidos).

Francisco também escreve: “Obrigado por todos os seus esforços e pela sua maneira de questionar a consciência de cada um, para que ninguém permaneça indiferente diante do drama da pobreza e da exclusão”.

“Com esses sentimentos, encorajo a continuar a sua oração e o seu serviço aos outros, oferecendo o testemunho da alegria do Evangelho”, concluiu o Papa.

Em janeiro de 2017, o jornal espanhol ‘El Pais’ publicou uma entrevista com o Papa Francisco, que disse que “a teologia da libertação foi uma coisa positiva na América Latina. Foi condenada pelo Vaticano a parte que optou pela análise marxista da realidade. O Cardeal (Joseph) Ratzinger escreveu duas instruções quando era Prefeito do Dicastério da Doutrina da Fé”.

“Uma muito clara sobre a análise marxista e a outra olhando para os aspectos positivos. A teologia da libertação teve aspectos positivos e desvios, especialmente na análise marxista da realidade”, disse o Pontífice.

Desde que Pe. Gutiérrez publicou seu livro “Teologia da Libertação. Perspectivas” em 31 de dezembro de 1971, a Santa Sé e um grande número de bispos lhe pediram para retratar e esclarecer a influência marxista deste libro.

Depois de vários anos, Pe. Gutiérrez apresentou o documento exigido pelo Cardeal Joseph Ratzinger (Bento XVI), quando ainda era Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé.

Entretanto, este texto intitulado “A Koinonia eclesial”, foi observado pelo Dicastério vaticano e o sacerdote peruano teve que fazer uma segunda versão, que foi concluída em 2004.

Por sua parte, durante o pontificado de São João Paulo II, a Congregação para a Doutrina da Fé realizou uma investigação. No final, foram publicadas duas instruções sobre a teologia da libertação.

A primeira foi emitida em agosto de 1984, intitulada "Libertatis Nuntius" e responde aos postulados de Pe. Gutiérrez em seu livro "Teologia da Libertação. Perspectivas". A segunda instrução se chama “Libertatis Conscientia” e foi publicada em março de 1986.

Em 2013, o sacerdote jesuíta argentino Juan Carlos Scannone – conhecido representante da teologia da libertação na América Latina e um dos professores do jovem Jorge Mario Bergoglio –, afirmou que a teologia do Papa Francisco não é a do Pe. Gutiérrez.

No livro "Francisco nosso irmão, nosso amigo", do diretor do Grupo ACI, Alejandro Bermúdez, Scannone explicou que a teologia da libertação tem uma corrente argentina.

Pe. Scannone indicou que segundo Pe. Gutiérrez, esta é “uma corrente com características próprias da teologia da libertação, que nunca usou categorias do tipo marxista ou a análise marxista da sociedade, mas sem desprezar que a análise social privilegia uma análise histórica cultural”.

“A linha argentina da teologia da libertação, que alguns chamam ‘teologia do povo’, ajuda a compreender a pastoral de Bergoglio como bispo; assim como muitas de suas afirmações e ensinamentos”, explicou Scannone.

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