“Eu gosto de abençoar as mãos dos médicos como sinal de reconhecimento a esta compaixão que se torna carícia de saúde”, expressou o Papa Francisco nesta quinta-feira ao receber os diretores dos Conselhos de Medicina da Espanha e da América Latina, a quem convidou ser como o bom samaritano “que não passa distante da pessoa ferida ao longo do caminho”.

Durante o encontro na Sala Clementina, o Santo Padre denunciou que “em nossa cultura tecnológica e individualista, a compaixão nem sempre é bem vista. Em algumas ocasiões é desprezada porque significa submeter quem a recebe a uma humilhação. Inclusive não faltam aqueles que se escondem atrás de uma suposta compaixão para justificar e aprovar a morte de um doente. Mas não é assim”.

Francisco assinalou que “a verdadeira compaixão não marginaliza ninguém, não humilha e nem exclui, muito menos considera como algo bom o seu desaparecimento. Vocês sabem muito bem que isso significaria o triunfo do egoísmo, dessa cultura do descarte que rejeita e despreza as pessoas que não atendem a determinados padrões de saúde, beleza e utilidade”.

O Pontífice indicou que “a identidade e o compromisso do médico não se apoia somente em sua ciência e competência técnica, mas principalmente em sua atitude compassiva e misericordiosa aos que sofrem no corpo e no espírito. A compaixão é de alguma forma a alma da medicina. A compaixão não é lástima, é padecer-com”.

O Papa recordou que “a saúde é um dos dons mais preciosos e desejados por todos. Na tradição bíblica sempre se destacou a proximidade entre salvação e saúde, bem como suas implicações mútuas e numerosas”.

Por isso, afirmou, os Padres da Igreja costumam denominar Cristo e sua obra de salvação com o título de “Christus medicus”.

“Ele é o Bom Pastor que cuida da ovelha ferida e conforta a enferma. Ele é o Bom Samaritano que não passa distante da pessoa ferida ao longo do caminho, mas viu, teve compaixão, aproximou-se dela e fez curativos. A tradição médica cristã sempre se inspirou na parábola do Bom Samaritano. É um identificar-se com o amor do Filho de Deus que ‘passou fazendo o bem e curando todos os oprimidos’”, indicou.

Nesse sentido, assegurou que “a compaixão é a resposta adequada ao valor imenso da pessoa enferma, uma resposta feita de respeito, compreensão e ternura, porque o valor sagrado da vida do doente não desaparece e não se escurece nunca, mas brilha com mais esplendor em seu sofrimento e desamparo”.

Francisco aconselhou a entender bem a recomendação de São Camilo de Lellis ao tratar os doentes: “Ponham mais coração nas mãos”.

“A fragilidade, a dor e a enfermidade são uma provação dura para todos, inclusive para os médicos, são um chamado à paciência e ao padecer-com. Por isso, não se pode ceder à tentação funcionalista de aplicar soluções rápidas e drásticas, movidos por uma falsa compaixão ou por meros critérios de eficiência e redução de custos. Está em jogo a dignidade da vida humana. Está em jogo a dignidade da vocação médica”, advertiu.

Acrescentou que “embora no exercício da medicina, tecnicamente falando, é necessária a assepsia, no centro da vocação médica a assepsia vai contra a compaixão, a assepsia é um meio técnico necessário no exercício, mas não deve afetar nunca o essencial desse coração compassivo. Nunca deve afetar o ‘ponham mais coração nessas mãos’”.

O Papa se despediu dos médicos assegurando a eles as suas orações e seu agradecimento pelos “esforços que realizam para dignificar todos os dias a sua profissão e acompanhar, cuidar e valorizar o dom imenso que as pessoas significam”.

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