O Papa Francisco pediu orações "pela conversão das consciências e pelo triunfo de uma cultura da vida, da reconciliação e da fraternidade", ao visitar o epicentro da bomba atômica em Nagasaki durante sua viagem apostólica no Japão.

O Santo Padre visitou o Parque da Paz de Nagasaki neste domingo, 24 de novembro, e rezou no epicentro da bomba atômica lançada em 9 de agosto de 1945.

O Pontífice realizou esta visita histórica em um clima de profunda devoção e com muita chuva. 

Em primeiro lugar, o Papa depositou um arranjo floral no monumento, que recebeu de duas vítimas da bomba atômica. Após colocar a coroa de flores, o Santo Padre permaneceu em silêncio, rezando, e depois acendeu uma vela.

Durante sua mensagem pronunciada em espanhol, o Papa Francisco pediu orações “pela conversão das consciências e pelo triunfo de uma cultura da vida, da reconciliação e da fraternidade; uma fraternidade que saiba reconhecer e garantir as diferenças na busca de um destino comum.”.

“Este lugar torna-nos mais conscientes do sofrimento e do horror que nós, seres humanos, somos capazes de nos infligir. A cruz bombardeada e a estátua de Nossa Senhora, recentemente descobertas na Catedral de Nagasaki, lembram-nos mais uma vez o horror indescritível que sofreram na própria carne as vítimas e suas famílias”, indicou o Papa.

Nesse sentido, o Santo Padre enfatizou que "um dos anseios mais profundos do coração humano é o desejo de paz e estabilidade" e acrescentou que "a posse de armas nucleares e outras armas de destruição de massa não é a melhor resposta a este desejo; antes, parecem pô-lo continuamente à prova”.

 “A paz e a estabilidade internacional são incompatíveis com qualquer tentativa de as construir sobre o medo de mútua destruição ou sobre uma ameaça de aniquilação total. São possíveis só a partir de uma ética global de solidariedade e cooperação ao serviço dum futuro modelado pela interdependência e a corresponsabilidade na família humana inteira de hoje e de amanhã”, expressou.

Além disso, o Pontífice afirmou que a cidade de Nagasaki "é testemunha das catastróficas consequências humanitárias e ambientais de um ataque nuclear" e acrescentou que “nunca serão demais as tentativas de erguer a voz contra a corrida aos armamentos. Esta desperdiça recursos preciosos que poderiam, ao contrário, ser utilizados em benefício do desenvolvimento integral dos povos e para a proteção do meio ambiente natural”.

“No mundo atual, onde milhões de crianças e famílias vivem em condições desumanas, o dinheiro gasto e as fortunas obtidas na fabricação, modernização, manutenção e venda de armas, cada vez mais destrutivas, são um atentado contínuo que brada ao céu".

Portanto, o Papa assinalou que “um mundo em paz, livre de armas nucleares, é aspiração de milhões de homens e mulheres em toda a terra. Tornar realidade este ideal requer a participação de todos: as pessoas, as religiões, a sociedade civil, os Estados que possuem armas nucleares e os que não as possuem, os setores militares e privados, e as organizações internacionais”.

Nesse sentido, Francisco lembrou que o Papa João XXIII solicitou a proibição de armas atômicas em 1963 na Encíclica Pacem in Terris e afirmou que “a verdadeira paz entre os povos não se baseia em tal equilíbrio [em armamentos], mas sim e exclusivamente na confiança mútua".

"É necessário romper a dinâmica de desconfiança que prevalece atualmente e que faz correr o risco de se chegar ao desmantelamento da arquitetura internacional de controle dos armamentos", afirmou o Papa Francisco.

Desse modo, o Santo Padre assegurou que “por sua vez, a Igreja Católica está irrevogavelmente empenhada com a decisão de promover a paz entre os povos e as nações”, porque “é um dever ao qual se sente obrigada diante de Deus e perante todos os homens e mulheres desta terra”.

"Não podemos jamais cansar-nos de trabalhar e insistir com diligência no apoio aos principais instrumentos jurídicos internacionais de desarmamento e não proliferação nuclear, incluindo o Tratado sobre a Proibição de Armas Nucleares", pediu.

Além disso, o Pontífice ressaltou que em julho passado “os bispos do Japão lançaram um apelo à abolição das armas nucleares e anualmente, em agosto, a Igreja japonesa realiza dez dias de oração pela paz”.

“Oxalá a oração, a busca incansável de promover acordos, a insistência no diálogo sejam as ‘armas’ em que deponhamos a nossa confiança e também a fonte de inspiração dos esforços para construir um mundo de justiça e solidariedade que forneça reais garantias para a paz”.

Por isso, o Papa Francisco reafirmou "a convicção de que é possível e necessário um mundo sem armas nucleares" e pediu aos "líderes políticos para não se esquecerem de que as mesmas não nos defendem das ameaças à segurança nacional e internacional do nosso tempo”, porque é “preciso ter em consideração o impacto catastrófico do seu uso, sob o ponto de vista humanitário e ambiental, renunciando ao aumento de um clima de medo, desconfiança e hostilidade, promovido pelas doutrinas nucleares”.

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“É crucial criar instrumentos que garantam a confiança e o desenvolvimento mútuo e poder contar com líderes que estejam à altura das circunstâncias. Mas é uma tarefa que nos envolve e interpela a todos. Ninguém pode ficar indiferente perante o sofrimento de milhões de homens e mulheres que ainda hoje continuam a bater à porta das nossas consciências; ninguém pode ficar surdo ao grito do irmão ferido que chama; ninguém pode ficar cego diante das ruínas de uma cultura incapaz de dialogar”, afirmou o Papa.

Da mesma forma, o Santo Padre fez um chamado à oração: “Peço-vos para nos unirmos em oração diária pela conversão das consciências e pelo triunfo duma cultura da vida, da reconciliação e da fraternidade; uma fraternidade que saiba reconhecer e garantir as diferenças na busca dum destino comum”.

“Sei que alguns dos presentes não são católicos, mas tenho a certeza de que todos podemos fazer nossa esta oração pela paz atribuída a São Francisco de Assis:

Senhor, fazei de mim um instrumento da vossa paz.
Onde há ódio, que eu leve o amor;
Onde há ofensa, que eu leve o perdão;
Onde há dúvida, que eu leve a fé;
Onde há desespero, que eu leve a esperança;
Onde há trevas, que eu leve a luz;
Onde há tristeza, que eu leve a alegria”.

Por fim, o Papa Francisco destacou que “neste lugar de memória, que nos comove e não pode deixar-nos indiferentes, é ainda mais significativo confiar em Deus, para que nos ensine a ser instrumentos eficazes de paz e a trabalhar para não cometer os mesmos erros do passado”.

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