O papa Francisco exigiu "tolerância zero no abuso de crianças ou pessoas vulneráveis" e disse que "este problema não se resolve com a transferência do abusador” para outro local. O papa falou hoje (14) aos participantes dos Capítulos Gerais da Ordem da Mãe de Deus, da Ordem Basiliana de São Josafá e da Congregação da Missão no Vaticano.

Em seu discurso, Francisco disse que o Capítulo Geral "é o momento do discernimento comunitário: Com a ajuda do Espírito Santo, busca-se ver em que medida foram fiéis ao carisma e que direção seguir e no que lhes pede para mudar”.

“Esta é uma das experiências mais belas e mais fortemente 'eclesiais' que nos é dada: escutar juntos o Espírito, apresentando-lhe situações concretas, perguntas, problemas...”, continuou Francisco.

“Os carismas, como ensina são Paulo, são todos para a edificação da Igreja, e como a Igreja não é um fim em si mesma, mas sua finalidade é evangelizar, deduz-se que todo carisma, sem exceção, pode e deve cooperar na evangelização. E é preciso levar isso em consideração na hora de discernir”, disse o papa aos religiosos. “Como religiosos, são chamados a evangelizar não só no plano pessoal, como todo batizado, mas também de forma comunitária, com a vida fraterna”.

Para o papa Francisco, isso “requer uma atitude cotidiana de conversão, de colocar-se em discussão e de vigilância sobre as rigidezes, bem como de uma tolerância excessiva e ‘cômoda’. Acima de tudo, requer humildade e simplicidade de coração, que nunca devemos deixar de pedir a Deus, porque vêm d’Ele”.

Francisco também ressaltou que é nas relações “onde nossos corações são peneirados e onde, com o compromisso de cada um, pode tomar forma um belo testemunho de irmãos”.

“Não se trata de manter relações de fachada e sorrisos artificiais, nem uma homogeneidade achatada pela personalidade do superior ou de algum líder. Não. Uma fraternidade livre, com gosto pela diversidade e em busca de uma harmonia cada vez mais evangélica”.

"Como uma orquestra com muitos instrumentos, onde o essencial não é a habilidade dos solistas, mas sim a capacidade de cada um deles ouvir todos os outros para criar a melhor harmonia possível”, disse o papa.

Ele também convidou os presentes a se perguntarem se são felizes em sua vocação, “uma alegria real, não formal, não aquela alegria com o sorriso que não diz nada, o sorriso artificial, 'irmão, irmão' e depois o punhal por trás. Acontece, acontece, a gente sabe", lamentou.

“A alegria informal, não o sorriso artificial. A alegria de pertencer a Cristo e estarmos juntos, com nossas limitações e nossos pecados. A alegria de ser perdoados por Deus e de compartilhar esse perdão com nossos irmãos e irmãs. Essa alegria não pode ser escondida, ela brilha! E é contagiante”, disse em seguida.

Além disso, Francisco pediu "tolerância zero" contra os abusos: "Somos religiosos, somos sacerdotes para levar as pessoas a Jesus, não para 'comer' as pessoas com nossa concupiscência".

“E o abusador destrói, 'come' o abusado com sua concupiscência. Tolerância zero. Não tenha vergonha de denunciar (...). Por favor, peço isso, tolerância zero. Isso não se resolve com uma transferência”, disse.

Finalmente, destacou a importância da “humildade e simplicidade de coração e alegria. Este é o caminho de uma fraternidade evangelizadora. Impossível para os homens, mas não para Deus".

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