Com uma solene Missa na Basílica de São Pedro, o Papa Francisco encerrou o Sínodo da Família, que aconteceu entre os dias 4 e 25 de outubro, sobre o tema “A vocação e a missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo”.

Durante sua homilia, o Pontífice comentou as leituras da liturgia do dia que “apresentam-nos a compaixão de Deus, a sua paternidade, que se revela definitivamente em Jesus” e assinalou que “somente o encontro com Jesus dá ao homem a força para confrontar as situações mais graves”. Além disso advertiu acerca do risco de cair em uma “espiritualidade da miragem” e em “habituais da graça”.

O Santo Padre citou o povo hebreu deportado a Babilônia e afirmou: “A sua paternidade abre-lhes um caminho desimpedido, um caminho de consolação depois de tantas lágrimas e tantas amarguras. Se o povo permanecer fiel, se perseverar na busca de Deus mesmo em terra estrangeira, Deus mudará o seu cativeiro em liberdade, a sua solidão em comunhão: e aquilo que o povo semeia hoje em lágrimas, recolhê-lo-á amanhã com alegria”.

“O crente é uma pessoa que experimentou na sua vida a ação salvífica de Deus. E nós, pastores, experimentamos o que significa semear com fadiga, por vezes em lágrimas, e alegrar-se pela graça duma colheita que sempre ultrapassa as nossas forças e as nossas capacidades”, acrescentou.

“Jesus é o Sumo Sacerdote grande, santo, inocente, mas ao mesmo tempo é o Sumo Sacerdote que tomou parte nas nossas fraquezas e foi provado em tudo como nós, exceto no pecado. Por isso, é o mediador da nova e definitiva aliança, que nos dá a salvação”.

Em seguida, o Papa disse: “O Evangelho de hoje fala da cura do cego do Jericó, Bartimeu, foi libertado graças à compaixão de Jesus. Uma passagem através da qual Jesus se comove pelo seu pedido, se interessa pela sua situação. Não se contenta em dar-lhe uma esmola, mas quer encontrá-lo pessoalmente”.

“Não lhe dá instruções nem respostas, mas faz uma pergunta: ‘Que queres que eu faça?’. Poderia parecer uma pergunta inútil: que poderia um cego desejar senão a vista? E, todavia, com esta pergunta feita ‘cara a cara’, de maneira respeitosa, Jesus manifesta que deseja escutar as nossas necessidades”.

O Pontífice sublinhou: “Deseja um diálogo com cada um de nós, feito de vida, de situações reais, que nada exclua diante de Deus. Depois da cura, o Senhor diz àquele homem: ‘A tua fé te salvou’. Em efeito, somente o encontro com Jesus dá ao homem a força para enfrentar as situações mais graves”.

“Os discípulos de Jesus, isto é, os cristãos, estão chamados a pôr o homem em contato com a Misericórdia compassiva que salva”.

Continuou: “Quando o grito da humanidade se torna, como o de Bartimeu, ainda mais forte, não há outra resposta senão adotar as palavras de Jesus e, sobretudo, imitar o seu coração. As situações de miséria e de conflitos são para Deus ocasiões de misericórdia. Hoje é tempo de misericórdia! ”.

Francisco explicou que “existem algumas tentações para quem segue Jesus. O Evangelho de hoje põe em evidência pelo menos duas. Nenhum dos discípulos pára, como faz Jesus. Continuam a caminhar, avançam como se nada tivesse acontecido. Se Bartimeu é cego, eles são surdos: o seu problema não é problema deles. Pode ser o nosso risco: face aos contínuos problemas, o melhor é continuar para diante, sem se deixar perturbar. Desta maneira, como aqueles discípulos, estamos com Jesus, mas não pensamos como Jesus”.

Pois “estão dentro do seu grupo, mas perdem a abertura de coração, perdem a admiração, a gratidão e o entusiasmo e corre-se o risco de tornar-se ‘consuetudinários da graça’. Podemos falar d’Ele e trabalhar para Ele, mas viver longe do seu coração, que Se inclina para quem está ferido”, expressou o Santo Padre.

Esta é a tentação de uma “’espiritualidade da miragem’: podemos caminhar através dos desertos da humanidade não vendo aquilo que realmente existe, mas o que nós gostaríamos de ver; somos capazes de construir visões do mundo, mas não aceitamos aquilo que o Senhor nos coloca diante de olhos. Uma fé que não sabe radicar-se na vida das pessoas, permanece árida e, em vez de oásis, cria outros desertos”, destacou.

O Pontífice ainda disse em sua homilia que “existe uma segunda tentação: cair numa ‘fé de tabela’. Podemos caminhar com o povo de Deus, mas temos já a nossa tabela de marcha, onde tudo está previsto: sabemos aonde ir e quanto tempo gastar; todos devem respeitar os nossos ritmos e qualquer inconveniente os perturba. Corremos o risco de nos tornarmos como ‘muitos’ do Evangelho que perdem a paciência e repreendem Bartimeu. Mas Jesus, pelo contrário, quer incluir, sobretudo quem está relegado para a margem e grita por Ele”.

As últimas palavras do Papa estiveram dedicadas ao agradecimento aos participantes do Sínodo:

“Agradeço-vos pela estrada que compartilhámos tendo o olhar fixo no Senhor e nos irmãos, à procura das sendas que o Evangelho indica, no nosso tempo, para anunciar o mistério de amor da família. Continuemos pelo caminho que o Senhor deseja. Peçamos-Lhe um olhar são e salvo, que saiba irradiar luz, porque recorda o esplendor que o iluminou. Sem nos deixarmos jamais ofuscar pelo pessimismo e pelo pecado, procuremos e vejamos a glória de Deus que resplandece no homem vivo”, concluiu.