O papa Francisco disse que há um “restauracionismo que chegou para amordaçar o Concílio’’. “O número de grupos ‘restauradores’ - por exemplo, existem muitos nos Estados Unidos - é impressionante” disse o papa em entrevista aos editores de revistas jesuítas da Europa. A entrevista, feita em 19 de maio, foi publicada hoje (14),

“Um bispo argentino me disse que lhe havia sido pedido para administrar uma diocese que havia caído nas mãos desses ‘restauradores’. Eles nunca haviam aceitado o Concílio. Há ideias, comportamentos que nascem de um ‘restauracionismo’ que basicamente não aceitou o Concílio”, disse o papa, também ele jesuíta.

Na entrevista, foi perguntado ao papa sobre o "caminho sinodal que alguns pensam ser herético". O Caminho Sinodal Alemão começou em dezembro de 2019 e reúne bispos e leigos da Alemanha para abordar o exercício do "poder" na Igreja, a moral sexual, o sacerdócio e o papel da mulher na Igreja. Um documento aprovado pelo Caminho Sinodal Alemão propõe a mudança da dutrina moral da igreja sobre sexo, especialmente sobre homossexualismo, o fim do celibato sacerdotal e a ordenação de mulheres.

“O problema surge quando o caminho sinodal provém das elites intelectuais, teológicas, e é muito influenciado por pressões externas. Há algumas dioceses onde o caminho sinodal está sendo feito com os fiéis, com o povo, lentamente”, disse o papa.

Francisco também disse que falou ao bispo de Limburg  e presidente da Conferência Episcopal Alemã, dom Georg Bätzing, que “na Alemanha há uma Igreja evangélica muito boa. Não precisamos de duas".

Guerra na Ucrânia

Na entrevista, o papa disse que é “monstruoso” que a Rússia use mercenários para lutar no conflito.

“Aquilo que estamos vendo é a brutalidade e a ferocidade com que esta guerra está sendo conduzida pelas tropas, geralmente mercenárias, usadas pelos russos. E os russos realmente preferem enviar chechenos, sírios, mercenários”, disse Francisco.

"Mas o perigo é que só vemos isso, o que é monstruoso, e não vemos todo o drama que está se desenrolando por trás desta guerra, que talvez tenha sido de alguma forma provocada ou não impedida. E registro o interesse em testar e vender armas. É muito triste, mas no final é isso que está em jogo”, disse o papa.

“Alguém pode me dizer neste momento: mas o senhor está a favor do Putin! Não, não estou. Seria simplista e errado afirmar uma coisa do gênero. Sou simplesmente contrário em reduzir a complexidade à distinção entre os bons e os maus, sem raciocinar sobre as raízes e os interesses, que são muito complexos”, disse Francisco.

Em seguida, o papa disse que esperava encontrar o líder ortodoxo russo, patriarca Kirill, no Cazaquistão em setembro: “Espero poder cumprimentá-lo e conversar um pouco com ele como pastor”, disse.

Francisco disse que “o que está acontecendo agora na Ucrânia, nós o vemos dessa forma porque está mais próximo de nós e toca mais a nossa sensibilidade. Mas há outros países distantes - pensemos a algumas partes da África, ao norte da Nigéria, ao norte do Congo - onde a guerra ainda está em curso e ninguém se importa".

“Pensem em Ruanda 25 anos atrás. Pensemos em Mianmar e nos Rohingya. O mundo está em guerra. Alguns anos atrás me ocorreu dizer que estamos vivendo a terceira guerra mundial em pedaços e em bocados. Então, para mim, hoje, a Terceira Guerra Mundial foi declarada”, disse.

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