A Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN) sofreu diversas mudanças em seu trabalho caritativo por causa das restrições impostas para combater a pandemia de covid-19. Segundo a entidade, além de queda no apoio a projetos, as medidas sanitárias também levaram à paralisação das visitas de seus representantes aos projetos realizados em todo o mundo.

Segundo a diretora de projetos da ACN Internacional, Regina Lynch, em 2020 foi registrada uma “redução de 20% no apoio a projetos” em comparação ao ano anterior. Com isso, “tivemos que focar o auxílio a projetos que cresceram em urgência e exigiram toda a nossa atenção, como enviar ajuda a irmãs religiosas e supervisionar a manutenção dos seminaristas”, disse.

Além disso, por causa das restrições às viagens aéreas, parceiros de projetos não puderam visitar a sede da ACN em Königstein, na Alemanha, entre março de 2020 e junho de 2021, e os representantes da fundação também não puderam fazer suas visitas regulares aos projetos em diferentes países. Estas visitas, segundo Lynch, são “muito importantes” para o trabalho da ACN, pois ajuda a “obter uma visão verdadeira de sua situação e poder oferecer incentivo mais adequado a cada realidade”. “Nossos parceiros de projeto apreciam quando fazemos isso", disse.

Segundo o chefe do departamento da Europa, Marco Mencaglia, as visitas de representantes da ACN aos locais onde estão desenvolvendo projetos “são muito mais do que regular e verificar se está tudo indo de acordo com o plano”. “Conhecer parceiros de projetos em seus habitats diários é, sim, olhar juntos para o futuro: descobrir o plano pastoral e delinear a visão da igreja local. Entender os desafios que estão sendo enfrentados envolve mais do que apenas ouvir pedidos. Ele inclui muito que não é dito, mas que só pode ser notado por estar no local”, declarou.

Estas visitas também ajudam a encontrar soluções para desafios. Para a chefe do departamento da África, Kinga von Schierstaedt, só é possível “trabalhar juntos em uma solução quando você está lá, no local, para realmente ver o que pode ser feito”. Ela contou que, durante uma visita, um dos “parceiros de projeto expressou sua tristeza pela falta de dinheiro para comprar uma cruz simples para uma das capelas do campo”. Tiveram, então a “ideia de fazer uma cruz de dois galhos”. O bispo, que estava presente, pegou os galhos e “pregou imediatamente uma cruz na parede da capela”.

Além disso, Von Schierstaedt afirmou que a comunicação on-line não é funcional em todos os países. “Há uma falta de internet estável nessa região (África), com muitos locais sem cobertura básica”. Contou ainda que “muitos bispos não passam muito tempo no escritório, pois estão em campo constantemente para interagir e ajudar as pessoas. Isso significa que pode levar tempo para marcar uma reunião adequada”.

Entretanto, disse que há casos em que a comunicação remota colabora. “As videoconferências on-line nos ajudaram a estabelecer contato com bispos recém-eleitos no Sudão e na Costa do Marfim, por exemplo. Uma chamada de vídeo nos ajuda a ver o rosto do nosso interlocutor e nos familiarizar uns com os outros; mas depender apenas de áudio e vídeo é limitador, especialmente quando há um número maior de pessoas participando”, disse.

Segundo a ACN, desde 2013 a fundação usa a comunicação por e-mail, além das correspondências impressas, para receber solicitações de projetos. Mas, essa prática se desenvolveu durante a pandemia, quando a maior parte de sua comunicação com parceiros internacionais de projetos foi via e-mail. Além disse, aumentou o uso de reuniões e conferências on-line e uso de aplicativos de mensagem.

Para o secretário-geral da ACN, Philipp Ozores, essa mudança pode promover efeitos em longo prazo para a fundação. “Em primeiro lugar, os bispos, nossos principais parceiros de projeto, agora se acostumaram a usar ferramentas para bate-papo on-line e videoconferências. Este é um desenvolvimento muito positivo. Se ocorrer uma súbita crise humanitária emergente, informações adequadas podem agora chegar-nos muito mais rapidamente, com uma discussão subsequente e resolução de problemas ocorrendo quase imediatamente”, disse. Além disso, “agora é mais fácil manter contato e atendimento, em coordenação com nossos parceiros e benfeitores, permitindo-nos organizar a comunicação interna da ACN com as equipes nacionais”. E, por fim, “essas ferramentas podem ser muito úteis durante qualquer tipo de crise de imagem ou gerenciamento para distribuir informações adequadas e precisas à mídia e à equipe”, disse.

Regina Lynch comentou que o desafio da pandemia acelerou a implantação e melhorou a organização da digitalização de dados. Também levou ao desenvolvimento de novos métodos de recrutamento de pessoal por causa de entrevistas preliminares realizadas on-line. Afirmou ainda poderia servir como um impulso para a ACN se comunicar mais por celulares e videoconferências, algo que tem sido a opção de cada vez mais parceiros. “Nossa experiência mostra, no entanto, que esses encontros internacionais devem ser limitados idealmente a apenas sete ou oito participantes se quisermos ter uma chance de uma discussão frutífera”, disse.

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