“Ser celibatária gera questionamentos nos jovens” e isso vira “oportunidade de evangelização”, afirmou a missionária Michele Magalhães, que nos últimos anos esteve na missão da comunidade Shalom na Polônia e no mês passado assumiu a missão da Alemanha. “Os jovens têm uma atração pela radicalidade”, disse ela à ACI Digital.

“Nas missões, sempre que alguém dizia que eu era celibatária, era uma oportunidade de evangelização, porque todo mundo quer entender como isso acontece”, afirmou.

Baiana de Senhor do Bonfim, Michele passou grande parte de sua vida em Petrolina (PE). Dos seus 34 anos de vida, 13 foram como missionária da Comunidade Católica Shalom. Nos últimos sete anos, Michele esteve na missão de Cracóvia, na Polônia.

Michele contou que desde a infância participava com sua família da comunidade, mas na adolescência foi se “distanciando um pouco de Deus”. Aos 18 anos, ingressou na faculdade de Medicina e esse distanciamento foi aumentando. Tudo mudou ao final do primeiro ano de faculdade, quando participou de um retiro da Comunidade Shalom, em Fortaleza (CE). Na ocasião, confessou-se, teve “uma experiência muito grande da misericórdia de Deus”, e conversou com outros jovens da comunidade.

A partir de então, começou a estreitar sua relação pessoal com Deus, através da oração, da participação nas missas, vivência dos sacramentos e começou a discernir sua vocação. “Na época, deixar tudo parecia chocante. Mas, dentro de mim, parecia que não havia uma resposta diferente”, disse.

Após o discernimento, contou, pensava em ingressar na comunidade de aliança, quando a pessoa continua em sua vivência familiar e atividades profissionais permanecendo em suas famílias, residências e suas atividades ou trabalhos próprios. Mas, logo percebeu que era chamada à comunidade de vida, quando os membros passam a viver de uma forma mais fraterna morando em uma das casas comunitárias da Comunidade Shalom.

“Eu queria entrar na comunidade de aliança, e Deus me chamou à comunidade de vida. Lembro que entrei para a comunidade de vida e disse: ‘Senhor, está bem, vou entrar para a comunidade de vida, mas se o Senhor me chamar ao celibato, eu saio da comunidade’. Já no primeiro ano, Deus começou a me atrair ao celibato”, lembrou.

A missionária fez seus votos na Comunidade Shalom aos 24 anos, no Rio de Janeiro (RJ), dez dias antes da Jornada Mundial da Juventude, de 2013. “E o Rio de Janeiro é um local onde há um sensualismo muito forte”, disse. Mas, recordou que “até os jovens rapazes, que às vezes tinham aquele movimento de olhar com certo interesse, diziam: ‘você é celibatária, como assim?’”. Segundo ela, este “é sempre um questionamento atraente”. “É impressionante. Alguns querem chamar de louco, mas sempre existe neles um questionamento atraente e acaba virando uma oportunidade de evangelização”.

Michele lembrou uma ocasião em que saiu para evangelizar com outro missionário na Polônia e foram falar com “um jovem que não estava 100% sóbrio”. “Ele chegou me cantando. Eu falei para ele que eu já era casada. Conversamos e ele começou a dizer que queria me ter perto dele e, se não podia ser como esposa, queria me ter como irmã ao lado dele. Depois que comecei a falar, ele me tratava com um respeito tão profundo. No final, me pediu um abraço e eu vi que era um abraço puro. É a graça do celibato que gera um respeito não de distância, mas de amor. Ele se sentia amado”, disse.

Também na Polônia, muitos a apresentavam como “celibatária e feliz”. A missionária recordou o caso de uma polonesa com quem dividiu dormitório durante um tempo em que trabalharam para a JMJ de 2016, em Cracóvia. “Para ela, era um escândalo porque ela sempre me via muito feliz”, disse. “Esse era um dos questionamentos dela, porque, para a maioria das jovens polonesas, a felicidade está em ter um marido. E, é claro que existe uma beleza muito grande no matrimônio. Mas, ela se abriu e percebeu que eu era feliz como celibatária”.

Missão na Polônia

Após sua experiência missionária no Rio de Janeiro, onde também colaborou na Jornada Mundial da Juventude de 2013, Michele Magalhães foi para a Polônia em 2015, para a fundação da Comunidade Shalom em Cracóvia. “Foi uma experiência muito fecunda. Hoje, eu já tenho a Polônia como outra terra minha, eu me sinto uma brasileira-polonesa”.

A missionária recordou que o “cardeal Stanisław Dziwisz, que foi secretário de são João Paulo II e era arcebispo de Cracóvia, esteve no Rio de Janeiro e assistiu a um espetáculo da comunidade chamado Lolek, sobre João Paulo II”. Ele estava ao lado do fundador da Shalom, Moysés Azevedo, que lhe contou como a comunidade “surgiu aos pés de são João Paulo II”, em 1980, quando o papa esteve no X Congresso Eucarístico Nacional, em Fortaleza (CE). “Então, o cardeal perguntou: ‘Como assim a comunidade nasceu aos pés de são João Paulo II e não está presente na cidade de são João Paulo II?’. Ali ele fez o convite não formal, digamos assim”.

O desejo de fundar a missão Shalom na Polônia se uniu à possibilidade de servir na Jornada Mundial da Juventude de Cracóvia, de 2016. “Foi quando a comunidade discerniu cinco jovens e eu fui enviada para ser responsável da missão de Cracóvia e trabalhei na JMJ”.

“Para mim, foi um período de grande graça, a primeira vez que fui em missão fora do Brasil, para uma cultura diferente, idioma diferente. Fui aberta a conhecer, evangelizar, poder entrar nos corações”, disse. Segundo Michele, na Polônia, encontrou “uma nova família, como promessa de Deus”. “Foi uma experiência muito boa colaborar com a igreja, com a evangelização. Hoje, lá na paróquia há vários grupos de oração, vocações, poloneses que entraram na comunidade e estão em missão no Brasil. É bom ver os frutos desses sete anos de missão”, concluiu.

Há cerca de três semanas, Michele Magalhães chegou à Alemanha, como responsável pela missão na cidade de Arnsberg. “A experiência missionária é a de lançar sementes e deixar que Deus faça”, disse sobre a expectativa para esta sua nova missão.

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