“Não parece que o papa Francisco vá se demitir. De fato, seu dinamismo e seu desejo de fazer as coisas, trabalhando para aproximar a Igreja do povo, deve ser apreciado”, disse o arcebispo de Bolonha, Itália, cardeal Matteo Zuppi. O cardeal respondia a um jornalista que perguntou se a era do papa Francisco estava prestes a chegar ao fim.

Zuppi paticipava da apresentação do livro Cosa Resta del Papato? Il futuro della Chiesa dopo Bergoglio (O que resta do papado? O futuro da Igreja depois de Bergoglio, em tradução livre), do vaticanista italiano Francesco Antonio Grana.

O livro examina o que é a instituição do papado e o que ele pode se tornar depois da renúncia de Bento XVI e do pontificado do papa Francisco.

Grana reconstrói a última parte do pontificado de Bento XVI, revelando que entre as poucas pessoas que sabiam da renúncia estava o então presidente da Itália, Giorgio Napolitano. O livro também dá uma visão de como poderia ser o próximo conclave.

Quando voltava da Eslováquia em setembro, o papa Francisco reclamou que já estavam procurando identificar seu sucessor. Por isso, a presença do cardeal Zuppi no lançamento de um livro que também fala da a sucessão papal corre o risco de ser vista como "campanha eleitoral ". Zuppi é visto por muitos como um dos possíveis papáveis em um futuro conclave.

Zuppi tem um papel de liderança a Comunidade de Sant'Egidio, e é conhecido internacionalmente por seu papel como mediador da paz em Moçambique. Ele sempre teve um perfil discreto e ascético, o que fez dele um pároco querido, primeiro na igreja de Santa Maria de Trastevere em Roma e depois em uma paróquia na periferia da cidade.

Sua ascensão hierárquica começou com sua nomeação como bispo auxiliar de Roma, em 2012. Ele foi escolhido pelo papa Francisco em 2015 para ser arcebispo de Bolonha, uma grande sede episcopal italiana, recebendo o chapéu vermelho de cardeal em 2019.

A presença de Zuppi no lançamento do livro foi ainda mais marcante porque ele é um cardeal querido pelo papa Francisco, que dá poucas indicações de querer se desligar do legado do papa reinante e sempre defende suas atividades pastorais. A única exceção talvez seja sua decisão de não se reprimir severamente a missa tradicional em sua arquidiocese seguindo o motu proprio Traditionis custodes.

A fala do cardeal de 66 anos de idade no lançamento do livro foi cautelosa. Ele começou por refletir sobre o título do livro. Ele então se concentrou na Statio Orbis de 27 de março de 2020: a oração solitária na praça de São Pedro na qual o papa Francisco pediu o fim da pandemia. Zuppi disse que naquela ocasião, "pela primeira vez, o eclesiastiquês - a língua falada entre nós padres - tornou-se a língua comum".

Falando da crise na Igreja, Zuppi disse que "podemos passar uma vida inteira discutindo entre nós, alimentando um conflito interno". Mas a questão é que é uma crise, geradora de algo novo".

João XXIII era considerado "um simplório, que parecia empobrecer a grandeza da Igreja", e que Bento XVI "se definiu como um humilde trabalhador na vinha do Senhor". Em resumo, Francisco não está, segundo Zuppi, diminuindo a importância do papado. Ao contrário, ele está dando-lhe um novo impulso. Tanto assim, que neste papado há "tudo menos um ar de resignação", disse. "Nas muitas decisões que tomou, e nos processos que iniciou, há uma grande consciência e sentido do futuro".

"O papa Francisco nos diz que há muito a fazer agora, e ele nos ajuda a não ter uma atitude de renúncia, de uma minoria que se retira. Sua reforma significativa é a conversão pastoral e missionária".

"Ele nos permite colocar-nos de maneira evangélica, direta, próxima ao povo, e nos mostra algumas prioridades para uma Igreja que fala ao coração. Ele nos ajuda a ser mais Igreja, em um mundo que faz desaparecer a identidade".

A assembleia geral da Conferência Episcopal Italiana está atualmente discutindo quem deve ser seu próximo presidente. Zuppi é um dos principais candidatos a suceder o cardeal Gualtiero Bassetti, arcebispo de Perugia-Città della Pieve.

Confira também: