Em sua habitual catequese das quartas-feiras, o Papa Bento XVI assinalou que o desejo de realmente conhecer Deus está em todos os homens, inclusive naqueles que se dizem ateus.

Diante dos milhares de fiéis presentes na Sala Pablo VI no Vaticano e em sua catequese dedicada à Revelação do Senhor, o Santo Padre assinalou que "o desejo de conhecer Deus realmente, isso é, de ver a face de Deus é inerente a todos os homens, também nos ateus. E nós temos talvez inconscientemente este desejo de ver simplesmente quem é Ele, o que é, quem é para nós. Mas este desejo se realiza seguindo Cristo".

Bento XVI ressaltou que " O importante é que sigamos Cristo não somente no momento no qual temos necessidade e quando encontramos um espaço nas nossas ocupações cotidianas, mas com a nossa vida enquanto tal. Toda a nossa existência deve ser orientada ao encontro com Jesus Cristo, ao amor por Ele; e, nisso, um lugar central deve ter o amor pelo próximo".

"Aquele amor que, à luz do Crucifixo, nos faz reconhecer a face de Jesus no pobre, no fraco, naquele que sofre. Isso é possível somente se a verdadeira face de Jesus tornou-se familiar para nós na escuta da sua Palavra, no falar interiormente, no entrar nesta Palavra de forma que realmente O encontremos, e naturalmente no Mistério da Eucaristia".

O Papa ressaltou que "no Evangelho de São Lucas, é significativa a parte dos dois discípulos de Emaús, que reconhecem Jesus ao partir o pão, mas preparados pelo caminho com Ele, preparados pelo convite que fizeram a Ele de permanecer com eles, preparados pelo diálogo que fez arder os seus corações; assim, ao fim, veem Jesus".

Bento XVI se referiu também à Revelação de Deus no Antigo Testamento aonde o Senhor, "depois da criação, apesar do pecado original, apesar da arrogância do homem de querer colocar-se no lugar do seu criador, oferece novamente a possibilidade da sua amizade, sobretudo através da aliança com Abraão e o caminho de um pequeno povo, aquele de Israel, que Ele escolhe não com critérios de poder terreno, mas simplesmente por amor".

"É uma escolha que permanece um mistério e revela o estilo de Deus que chama alguns não para excluir outros, mas para que faça uma ponte que conduza a Ele: eleição é sempre eleição para o outro. Na história do povo de Israel podemos refazer os passos de um longo caminho no qual Deus se faz conhecer, se revela, entra na história com palavras e com ações".

“Em Jesus de Nazaré, Deus visita realmente o seu povo, visita a humanidade de um modo que vai além de todas as expectativas: manda o seu Filho Unigênito; faz-se homem o próprio Deus. Jesus não nos diz qualquer coisa sobre Deus, não fala simplesmente do Pai, mas é a revelação de Deus, porque é Deus, e nos revela assim a face de Deus", destacou também o Pontífice.

"Deus está certamente acima de todas as coisas, mas se dirige a nós, escuta-nos, vê-nos, fala, estabelece aliança, é capaz de amar. A história da salvação é a história de Deus com a humanidade, é a história deste relacionamento de Deus que se revela progressivamente ao homem, que faz conhecer a si próprio, a sua face".

O Santo Padre afirmou que "o esplendor da face divina é a fonte de vida, é isso que permite ver a realidade; a luz da sua face é o guia da vida. No Antigo Testamento tem uma figura à qual está conectado de uma forma muito especial o tema da "face de Deus"; trata-se de Moisés, aquele que Deus escolhe para libertar o povo da escravidão do Egito, doa-lhe a Lei da aliança e o conduz à Terra prometida".

Depois de descrever que entre Moisés e Deus, o Papa assinalou que por um lado existe “o diálogo face a face como entre amigos”, mas do outro “a impossibilidade, nesta vida, de ver a face de Deus, que permanece escondida; a visão é limitada. Os Padres dizem que estas palavras, “tu me verás por detrás”, querem dizer: tu podes somente seguir Cristo e seguindo vês por trás o mistério de Deus; Deus pode ser seguido vendo as suas costas".

"Algo de completamente novo acontece, porém, com a Encarnação. A busca da face de Deus recebe uma mudança incrível, porque agora esta face pode ser vista: é aquela de Jesus, do Filho de Deus que se faz homem. Nele encontra cumprimento o caminho da revelação de Deus iniciado com o chamado a Abraão, Ele é a plenitude desta revelação porque é o Filho de Deus, é ao mesmo tempo “mediador e plenitude de toda a Revelação”".

O Papa sublinhou deste modo que "Nele o conteúdo da Revelação e o Revelador coincidem. Jesus nos mostra a face de Deus e nos faz conhecer o nome de Deus”.

“Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, não é simplesmente um dos mediadores entre Deus e o homem, mas é “o mediador” da nova e eterna aliança (cfr Eb 8,6; 9,15; 12,24); “um só, de fato, é Deus – diz Paulo – e um só o mediador entre Deus e os homens, o homem Cristo Jesus” (1 Tm 2,5; cfr Gal 3,19-20). Nele nós vemos e encontramos o Pai; Nele podemos invocar Deus com o nome de “Abbá Pai”; nele nos é doada a salvação.

“Também para nós a Eucaristia é a grande escola na qual aprendemos a ver a face de Deus, entramos em relacionamento íntimo com Ele; e aprendemos, ao mesmo tempo a dirigir o olhar para o momento final da história, quando Ele irá nos satisfazer com a luz da sua face. Sobre a terra nós caminhamos para esta plenitude, na expectativa alegre que se realiza realmente no Reino de Deus”.