Os bispos e líderes da Igreja na África advertiram que a nomeação de Samantha Power como a nova diretora da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), levaria esta entidade a priorizar uma agenda pró-aborto e pró-LGBT no continente, indo contra os valores da cultura africana.

No dia 13 de janeiro, dias antes de assumir a presidência dos Estados Unidos, Joe Biden anunciou a nomeação de Samantha Jane Power como a próxima administradora da USAID, entidade responsável por diversos programas de desenvolvimento em todo o mundo, inclusive na África.

Samantha Power apoia a agenda pró-aborto e é a favor dos chamados “direitos” LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros).

ACI África, agência do Grupo ACI, entrevistou no dia 17 de janeiro líderes da Igreja Católica na África, que expressaram sua preocupação de que durante a administração de Power na USAID ocorrerá um ataque cultural, ideológico e contra a comunidade cristã africana devido à provável priorização da agenda pró-aborto.

O Bispo da Diocese de Oyo (Nigéria) e líder do Comitê Episcopal Pan-Africano para a Comunicação Social (CEPACS), Dom Emmanuel Badejo, disse que a nomeação de Power complica ainda mais a má situação atual, porque embora Joe Biden se diga católico, poderia se tornar "o presidente mais radicalmente pró-aborto e pró-LGBT da história dos Estados Unidos".

Sob a administração Biden, “é quase certo que a Igreja sofrerá ataques por suas opiniões contrárias a essas políticas estranhas. As pessoas deveriam pelo menos saber a verdade”, disse. “Não surpreende que ele tenha colocado Samantha Jane Power no comando da USAID. Sob o seu comando, a USAID irá, sem dúvida, tentar atacar ideológica e culturalmente os valores religiosos e culturais africanos”, acrescentou.

Para conter o impacto da agenda pró-aborto de Samantha na África, o Prelado recomenda fortalecer a educação cristã, bem como "rezar, organizar, comunicar e cooperar".

“A fé deve se fortalecer para sobreviver ao conflito que ocorrerá quando a crença se enfrentar cara a cara com a exigência. Hoje, mais do que nunca, os católicos em particular e os africanos em geral, precisam de uma educação para a conscientização, para saber o que realmente está acontecendo sobre o direito à vida e a guerra ideológica de gênero”, afirmou.

“Precisamos de uma educação focada, precisamos de uma catequese apropriada, precisamos de uma denúncia profética e verdadeira do veneno que será oferecido à África na forma de ajuda e desenvolvimento! Os governos africanos [precisam] ser persuadidos a rejeitar corajosamente algumas das ofertas de ajuda prejudiciais que seguramente farão aos países necessitados!”, acrescentou.

“Hoje, mais do que nunca, devem promover agentes e estruturas de evangelização para limitar os danos à santidade da vida humana, que já parece iminente nesta nomeação. Deus nos ajude!”, assinalou.

Por sua vez, o diretor nacional das Pontifícias Obras Missionárias (POM) no Quênia, Pe. Bonaventure Luchidio, teme que a ajuda humanitária a continentes carentes como a África possa ter laços imorais.

“Embora precisemos de fundos para apoio ao desenvolvimento e ajuda humanitária, pode parecer antiético e imoral formar laços que cortem o tecido moral e a consciência das pessoas por uma ajuda humanitária e de desenvolvimento”, disse.

Assinalou que é necessário “separar real e verdadeiramente” a ajuda humanitária e o apoio aos países em desenvolvimento, como um tema de importância ética e solidária, das agendas ideológicas. Isso criará as condições "para que todos participem nas áreas necessitadas apoiadas pela USAID", indicou.

“Em especial, nos setores da saúde dos programas de conscientização sobre HIV/AIDS, aquisição de medicamentos de vacinação, geração de empregos por meio do apoio das ONGs e doenças relacionadas à pressão arterial, sem esquecer a erradicação de doenças tropicais”, acrescentou.

Nesse sentido, o sacerdote reza para que Power não convença ou influencie as consciências e mentes de outras pessoas propondo uma agenda pró-aborto "para ajudar os países necessitados", pois isso "seria antiético e imoral ao mesmo tempo".

“Que a dignidade humana e as opções preferenciais pelos pobres sejam os princípios orientadores e as preocupações que prevaleçam em toda a ajuda prestada aos países necessitados, sem condicionar a ajuda a algumas práticas que ferem a nossa consciência”, afirmou. “Deixemos que as pessoas sintam a presença de Deus através da ajuda que recebem, não para que as pessoas tenham que escolher entre o bom e o mau”, acrescentou.

Da mesma forma, o secretário-geral do Secretariado Católico da Nigéria, Pe. Zacharia Samjumi, expressou sua preocupação de que a ajuda entre as entidades seja distribuída de forma injusta, dependendo do tipo de lealdade que têm com a agenda pró-aborto e pró-LGBT.

"As organizações que promovem os valores tradicionais e a ética primitiva não têm apoio financeiro para seus programas culturais e de conscientização, enquanto aquelas que se concentram em estilos de vida aberrantes, contracepção e aborto recebem um financiamento considerável", disse o Pe. Samjumi para a ACI África.

Para o sacerdote nigeriano, há um "subterfúgio político mais descarado" orquestrado por agências como a USAID em administrações que "se atrevem a fazer oposição a sua coerção e incentivo”.

Um exemplo é o ex-presidente da Nigéria, Goodluck Jonathan, que “foi literalmente rejeitado pelo governo Obama por assinar a lei contra o casamento gay, apesar dos esforços conjuntos das forças estrangeiras para que ele fizesse o contrário. Perdeu a guerra contra a insurgência islâmica e perdeu sua candidatura à reeleição”, disse.

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Para o sacerdote, “a guerra da indústria da abominação na África é firme, decisiva e feroz, tanto a nível ideológico como pragmático”.

Explicou que “na esfera ideológica, os currículos educacionais estão sendo modificados e as minas terrestres legais são furtivamente colocadas através de uma redação eufemística das leis, para que assim o público desprevenido não perceba as armadilhas que espreitam em seu interior".

Sobre o segundo caso, “os programas de socialização e entretenimento estão sendo remodelados para promover os objetivos ocultos dos imperialistas culturais 'antivida', que incluem, mas não se limitam, a tentar confundir as mentes impressionáveis ​​das crianças em idade escolar sobre sua própria sexualidade”.

Os ideais propagados pela civilização ocidental por meio de agências humanitárias estrangeiras como a USAID deixaram muitos católicos na África "vivendo em um estado de turbulência mental e social", destacou o Pe. Samjumi.

“A confusão que isso gera pode ser alucinante. Como podemos aceitar agora que matar bebês no útero é uma opção melhor do que tê-los e criá-los como pessoas criadas à imagem e semelhança de Deus?”, perguntou.

O secretário-geral dos Bispos Católicos da República Centro-Africana (CAR), Pe. Joseph Tanga-Koti, disse que as ações propagadas por Power a favor do aborto são "parte de um plano para reduzir a população da África".

O sacerdote destacou que algumas agências estrangeiras "visam realmente promover o aborto" e denunciou as "terríveis consequências" que tais ações causam nas mulheres, como "morte, dificuldade de ter filhos, promiscuidade, prostituição, confusão sobre a dignidade humana".

“As pessoas e instituições a favor do aborto e dos homossexuais devem levar em consideração que não existe um nome para o aborto e a homossexualidade nas línguas africanas. O principal motivo é a ausência dessas realidades nas culturas africanas”, explicou a irmã Paule Valérie Mendogo, da Congregação das Irmãs Servas de Maria, Arquidiocese de Doula (Camarões), à ACI África.

A religiosa disse que “a opinião das pessoas pró-aborto e pró-gays não é um meio teológico, nem uma fonte de Revelação”. Além disso, lembrou que o desejo dos fiéis na África é "ver o fim da manipulação organizada durante anos pelos meios de comunicação e lobbies, que promovem e procuram meios para obrigar os africanos a embarcarem em uma revolução radicalmente anticristã".

Dom John Oballa Owaa, Bispo de Ngong no Quênia, disse à ACI África que é hora de que o povo de Deus na África e "todos aqueles que se preocupam pelos valores morais religiosos sejam a bússola da sociedade humana". Os africanos devem estar "alertas para reconhecer e abordar estratégias diretas e sutis em publicações e discussões sobre temas familiares".

“É necessário estar interessado em reconhecer qualquer forma de promoção da mentalidade abortista, do comportamento homossexual e da sexualização das crianças”, frisou o também líder da Comissão Católica para Justiça e Paz da Conferência dos Bispos Católicos do Quênia (KCCB).

Por fim, o Prelado dirigiu-se aos defensores dos valores morais religiosos e recomendou que cada um "esteja preparado para ser insultado [e tachado de] discriminatório, intolerante, insensível e de fomentar o ódio".

O Bispo também encorajou os defensores da vida citando o Livro dos Provérbios das Sagradas Escrituras. Os pró-vida “estão inspirados pelo profundo amor de Deus e pelo crescimento da família humana. Um pedaço de pão seco em paz é melhor do que uma casa bem abastecida onde há brigas”, concluiu.

Publicado originalmente em ACI África.

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