"Como podemos professar a fé em Cristo se fechamos os olhos a todas as feridas infligidas por abuso?". Com esta pergunta, o Cardeal Luis Antonio Tagle, Arcebispo de Manila (Filipinas) e primeiro conferencista a participar do Encontro sobre a Proteção de Menores na Igreja, que está sendo realizado no Vaticano de hoje até o próximo domingo, 24 de fevereiro, falou sobre a necessidade de um maior compromisso da Igreja na cura das vítimas de abusos sexuais por parte dos membros do clero.

Em sua conferência para os 114 presidentes de Conferências Episcopais e demais participantes do encontro, o Cardeal Tagle reconheceu "a nossa má gestão desses crimes" e destacou que "nosso povo precisa que nos aproximemos de suas feridas, que reconheçamos os nossos pecados se quisermos dar um testemunho autêntico e crível de nossa fé na ressurreição".

"Isso significa que cada um de nós, bem como nossos irmãos e irmãs que estão em casa, devemos pessoalmente assumir a responsabilidade de curar esta ferida infligida no Corpo de Cristo, que devemos assumir o compromisso de fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para garantir a segurança das crianças em nossas comunidades".

O Cardeal assinalou que a obrigação da Igreja é cumprir seu dever de justiça, mas afirmou que, uma vez cumprida esta obrigação, a preocupação deve ser a de "ajudar as vítimas a curar as feridas de abuso".

"Porque a justiça é necessária, mas por si só não cura, não cura o coração humano quebrado, as emoções profundas que se encontram nos corações tão gravemente afetados. Devemos ser conscientes de que as vítimas sobreviventes sofrem um grande estresse e sofrimento, aumento da ansiedade e da depressão, baixa autoestima, sofrem conflitos interpessoais que surgem devido a essa ruptura interior que têm”, explicou.

Portanto, "devemos, ao falarmos de perdão das vítimas, deixar muito claro que não estamos pedindo que as vítimas esqueçam, nem que deixem passar o que aconteceu, nem, muito menos, que se justifiquem o abuso e que sigam adiante".

"Devemos alcançar uma cura mais profunda e sabemos que o perdão é o caminho poderoso, inclusive demonstrado cientificamente, que este é o caminho para a cura do coração. Devemos construir a confiança, proporcionando um amor incondicional, pedindo perdão repetidamente, reconhecendo plenamente que nós não merecemos este perdão, que não temos o direito ao perdão em ordem de justiça, mas que o perdão é um dom, um presente no processo de cura".

Finalmente, "preocupa-nos que em alguns casos os bispos e superiores religiosos são tentados, às vezes até sob pressão, a escolher entre vítima e abusador. A quem ajudar?”.

O Purpurado ressaltou que a chave é colocar o foco na justiça e no perdão. "A reflexão sobre a justiça e o perdão nos leva à resposta: os dois. Quanto às vítimas, devemos ajudá-las a manifestar suas feridas profundas e curá-las. Quanto aos abusadores, é necessário aplicar a justiça, ajudá-los a encarar a verdade sem racionalização e, ao mesmo tempo, não negligenciar seu mundo interior".

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