As Missionárias da Caridade, congregação fundada por santa madre Teresa de Calcutá, estão sendo acusadas judicialmente por fundamentalistas hindus de forçar conversões ao catolicismo de meninas que vivem em um orfanato mantido por elas. As religiosas negam a acusação.

As meninas órfãs resgatadas do trabalho infantil vivem no orfanato gerido pela congregação de santa Teresa de Calcutá na zona de Makapura.

O nacionalismo hindu, em ascensão desde que, em 2014 o partido nacionalista hindu Bharatiya Janata chegou ao poder, acusa sistematicamente os cristãos de forçar conversões por causa do atendimento que esses cristãos dão aos párias, os intocáveis do sistema hindu de castas.

Os fundamentalistas dizem que, durante uma fiscalização feita em 9 de dezembro pelo gerente distrital de serviços sociais, Mayank Trivedi, e o presidente do Comitê de Defesa da Criança, constataram que as meninas da casa foram "forçadas" a usar uma cruz, ler textos religiosos cristãos e participar de orações.

Segundo Asia News, agência de notícias católica da Ásia, no processo judicial as religiosas são acusadas de participam em “atividades que ofendem intencional e rancorosamente os sentimentos religiosos dos hindus”.

A polícia iniciou uma investigação, seguindo a lei anticonversão que vigora em Gurajat desde 2003.

A missionária da caridade da casa em Vadodara, irmã Clarissa, disse a Asia News que elas estão em estado de choque pela denúncia, que diz ser falsa.

A superiora das Missionárias da Caridade, “Irmã Prema nos telefonou para dizer que está rezando por nós. Todas rezam por nós e nos consolam, inclusive muitas pessoas de outras religiões”, destacou.

O arcebispo de Vasai e secretário-geral da Conferência Episcopal da Índia (Cbci), dom Felix Machado, disse à Asia News que está "profundamente consternado com esta notícia". “Não nos esqueçamos das cenas do funeral de madre Teresa com todas as honras do Estado, ou do Bharat Ratna, a maior homenagem do país que foi concedida a ela em 1980. Será possível apagar a sua história junto com tudo o que fez pela Índia?”

Dom Machado disse que “servir aos pobres é parte integral da nossa fé cristã, estar ao lado dos últimos, dos órfãos, dos esquecidos. Onde este país terminará se negarmos o respeito por todas as religiões e continuarmos a espalhar suspeitas contra os demais?”

“É hora de uma reflexão séria, de retornar às gloriosas tradições da Índia, não à exploração política”, disse ele.

O ex-porta-voz da Cbci, padre Babu Joseph, disse a UCA News que este processo parece ser parte de uma "campanha bem orquestrada para atingir o grupo minoritário cristão na Índia sob o pretexto de impedir as chamadas conversões religiosas".

O padre Joseph esclareceu que os cristãos dirigem um grande número de orfanatos e organizações que fornecem assistência social à população sem qualquer "discriminação religiosa".

“É direito fundamental dos cristãos administrar essas instituições e praticar sua fé sem obstáculos. De forma alguma impõem sua fé aos outros”, destacou.

O padre destacou a possibilidade de que esse "fantasma da conversão" tenha se originado "deliberadamente para criar uma brecha social e provocar ressentimentos entre os amantes da paz de diferentes religiões no país".

Segundo UCA News, os cristãos na Índia representam 2,3% dos 1,3 bilhão de habitantes do país, mas os fundamentalistas hindus acusam os cristãos de converter pessoas em grande escala.

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