Os bispos brasileiros, reunidos por meios eletrônicos para a 58ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, divulgaram na sexta-feira,16 de abril, a Mensagem ao Povo Brasileiro com que tradicionalmente se encerram as assembleias gerais.

Assinada por Dom Walmor Oliveira de Azevedo, arcebispo de Belo Horizonte e presidente da CNBB, pelos vice-presidentes da entidade, Dom Jaime Spengler, OFM, arcebispo de Porto Alegre, e Dom Mário Antônio da Silva, Bispo de Roraima, e por Dom Joel Portella Amado, bispo-auxiliar do Rio de Janeiro e Secretário-Geral da CNBB, a carta faz fortes críticas à condução “da grave crise sanitária, econômica, ética, social e política, intensificada pela pandemia”.

Encabeçada pela frase “Esperamos novos céus e uma nova terra, onde habitará a justiça. (2Pd 3,13)” a mensagem diz que “é cada vez mais necessário superar a desigualdade social no país. Para tanto, devemos promover a melhor política, que não se submete aos interesses econômicos, e seja pautada pela fraternidade e pela amizade social, que implica não só a aproximação entre grupos sociais distantes, mas também a busca de um renovado encontro com os setores mais pobres e vulneráveis”.

Tanto a mensagem quanto a própria assembleia geral foram profundamente marcadas pelo temor causado pela pandemia de Covid-19.

“Somos pastores e nossa missão é cuidar”, afirmam os bispos. “Nosso coração sofre com a restrita participação do Povo de Deus nos templos”, fechados por ordem de bispos ou de governadores e prefeitos em várias partes do país para evitar aglomerações. “Contudo, a sacralidade da vida humana exige de nós sensatez e responsabilidade”, alegam os bispos na mensagem. “Por isso, nesse momento, precisamos continuar a observar as medidas sanitárias que dizem respeito às celebrações presenciais.”

Depois de expressar “solidariedade aos enfermos, às famílias que perderam seus entes queridos e a todos os que mais sofrem as consequências da Covid-19”, e manifestar “profunda gratidão aos profissionais de saúde e a todas as pessoas que têm doado a sua vida em favor dos doentes, prestado serviços essenciais e contribuído para enfrentar a pandemia”, os bispos não poupam críticas.

“Sempre que assumimos posicionamentos em questões sociais, econômicas e políticas, nós o fazemos por exigência do Evangelho. Não podemos nos calar quando a vida é ameaçada, os direitos desrespeitados, a justiça corrompida e a violência instaurada”.

Lembrando que os poderes da República têm “a missão de conduzir o Brasil nos ditames da Constituição Federal”, os bispos afirmam que “isso exige competência e lucidez”.

“São inaceitáveis discursos e atitudes que negam a realidade da pandemia, desprezam as medidas sanitárias e ameaçam o Estado Democrático de Direito”, escreve a CNBB, ecoando o teor de críticas que são feitas frequentemente por políticos e meios de comunicação ao governo federal.

“É necessária atenção à ciência, incentivar o uso de máscara, o distanciamento social e garantir a vacinação para todos, o mais breve possível. O auxílio emergencial, digno e pelo tempo que for necessário, é imprescindível para salvar vidas e dinamizar a economia”.

A conferência dos bispos acredita que “é preciso assegurar maiores investimentos em saúde pública e a devida assistência aos enfermos, preservando e fortalecendo o Sistema Único de Saúde – SUS”. Em seguida afirma que “são inadmissíveis as tentativas sistemáticas de desmonte da estrutura de proteção social no país. Rejeitamos energicamente qualquer iniciativa que intente desobrigar os governantes da aplicação do mínimo constitucional do orçamento na saúde e na educação”, alusão ao projeto da PEC Emergencial do governo que previa alterar esses percentuais. A EC 109 aprovada em março passado não contemplou essa medida pretendida pelo governo federal.

Os bispos falaram também da necessidade de “um eficiente projeto educativo nacional”.

Sobre o “grave problema das múltiplas formas de violência disseminada na sociedade, favorecida pelo fácil acesso às armas” os bispos observam que “a desinformação e o discurso de ódio, principalmente nas redes sociais, geram uma agressividade sem limites”.

A mensagem fala ainda do meio ambiente, dizendo que “a casa comum”, está “submetida à lógica voraz da ‘exploração e degradação’.”

“A travessia rumo a um novo tempo é desafiadora, contudo, temos a oportunidade privilegiada de reconstrução da sociedade brasileira sobre os alicerces da justiça e da paz, trilhando o caminho da fraternidade e do diálogo”, dizem os bispos.

“Constatamos, com pesar, o uso da religião como instrumento de disputa política, justificando a violência e gerando confusão entres os fiéis e na sociedade”, esclarece a mensagem dos bispos católicos do Brasil.

Ao final, o documento lembra a “fé em Cristo Ressuscitado, fonte de nossa esperança”, para invocar “a benção de Deus sobre o povo brasileiro, pela intercessão de São José e de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil”.

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