A oposição aberta de um grupo de bispos e organismos alemães financiados pela Conferência Episcopal Alemã à diretriz do Vaticano que nega a possibilidade de bênçãos para casais homossexuais acaba de aumentar. Neste sábado, 27, o Bispo Helmut Dieser da diocese de Aachen, conhecido defensor das bênçãos para homossexuais afirmou que o "não" de Roma era apenas uma "opinião" que só serviu para causar "raiva e irritação” entre os católicos em um evento no qual acolheu um abaixo-assinado contra a decisão do Vaticano.

De acordo com um comunicado de imprensa do Caminho Sinodal Alemão, Dom Dieser esteve acompanhado no evento de Birgit Mock, vice-presidente da Associação de Mulheres Católicas Alemãs (KDFB) e co-presidente do fórum sobre sexualidade do Caminho sinodal alemão.

Eles receberam e agradeceram conjuntamente pela coleção de mais de 2.600 assinaturas "de pastores", que incluía tanto ministros e agentes de pastoral católicos como não-católicos, que são a favor da existência de um ritual de bênçãos para casais homossexuais e pedem que o Vaticano volte atrás na sua reflexão.

Uma bênção para casais homossexuais – que de acordo com o esclarecimento do Vaticano aprovado pelo Papa Francisco não é possível por parte da Igreja Católica – deve "continuar a ser discutida", demandaram o bispo Dieser e a vice-presidente da KDFB, Birgit Mock.

A lista de assinaturas foi apresentada por dois sacerdotes católicos comprometidos com o movimento LGBT. Trata-se do Padre Burkhard Hose da Universidade Católica de Würzburg e o Padre Bend Mönkebüscher da Arquidiocese de Paderborn. O evento foi realizado sob duas bandeiras hasteadas: a bandeira do arco-íris do movimento LGBT e uma bandeira do ZdK (Comitê Central dos Católicos Alemães).

Vale esclarecer que Birgit Mock e o bispo Dieser lideram juntos o Fórum sobre Sexualidade do "Caminho Sinodal". Mock é uma influente católica alemã e conhecida por sua oposição a Roma. Ela é a atual porta-voz da política familiar do ZdK, órgão que já manifestou-se contra a reflexão da Congregação para a Doutrina da Fé. Mock ficou mundialmente conhecida por ter enviado contribuições para a exortação apostólica Amoris Laetitia, fato que tornou-se notícia de destaque no jornal L'Osservatore Romano, uma publicação do Vaticano.

Ainda de acordo com um comunicado da assessoria de imprensa do "Caminho Sinodal", enviado posteriormente pela Conferência Episcopal Alemã, Mock disse no evento do sábado que "forçar casais em relacionamentos amorosos e que vivem em fidelidade e estima mútua a negar sua sexualidade como casal não corresponde à nossa imagem de homem e de Deus".

Portanto, uma "reavaliação oficial da sexualidade da igreja" é necessária, asseverou Birgit Mock, "para que, no futuro, os ministros não tenham que decidir apenas de acordo com sua consciência se devem ou não abençoar casais do mesmo sexo". A ZdK está comprometida em "projetar um ritual de bênção para todas as dioceses alemãs", revelou.

Na verdade, o Vaticano não só rejeitou um "ritual de bênção" mas afirmou a doutrina católica asseverando que a “Igreja não abençoa o pecado”.

De acordo com o padre e especialista em direito canônico Professor Stefan Mückl da Pontifícia Universidade de Santa Croce em Roma, este "não" da parte da Congregação para a Doutrina da Fé é  absolutamente definitivo.

“Quem acha que isso é só uma opinião (da Santa Sé) para contribuir num debate” e que o documento “será lido, discutido e depois arquivado" não está tomando o peso desta decisão vaticana, alertou Mückl no jornal semanal católico Die Tagespost.

A recusa de bispos alemães, belgas e austríacos em tomar este "não" como definitivo tem causado escândalo e confusão entre os fiéis em nível mundial, não só na Alemanha.

Além de Dom Helmut Dieser, o Cardeal Reinhard Marx e os bispos Franz-Josef Bode, Franz-Josef Overbeck, Georg Bätzing, Peter Kohlgraf e Heinrich Timmerevers se manifestaram a favor de uma bênção para parceiros homossexuais. Por parte dos austríacos o Cardeal Christoph Schönborn, um dos teólogos envolvidos na redação do Catecismo da Igreja Católica promulgado por S. João Paulo II, surpreendeu ao mostrar-se descontente com a decisão do Vaticano. Por parte do episcopado belga, o bispo de Antuérpia Dom Johan Bonny, declarou-se “envergonhado” pela negativa.

Em compensação, outros bispos alemães, saudaram explicitamente a norma do Vaticano e, por sua vez, confirmaram que não realizarão bênçãos para homossexuais em suas dioceses.

Este grupo inclui o Cardeal Rainer Maria Woelki de Colônia e os bispos Stephan Burger de Freiburg, Ulrich Neymeyer de Erfurt, Gregor Maria Hanke de Eichstätt, Wolfgang Ipolt de Görlitz, Stefan Oster de Passau, e Rudolf Voderholzer de Regensburg.

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