O arcebispo de Granada, na Espanha, dom Javier Martínez disse que a lei da eutanásia, já em vigor, e a lei trans, que tramita no parlamento, levam a uma nova ditadura porque “leis que vão contra o bem comum estão sendo impostas”. A lei trans “converte o sentimento em categoria jurídica”, disse o arcebispo na missa de domingo 4 de julho, e não é a primeira vez que isso acontece, já que “nos anos 30 e 40 do século passado, o sentimento de superioridade da raça ariana deu lugar a milhões de mortos ao converter-se em lei” durante o regime nazista na Alemanha. Para dom Martínez, a lei da eutanásia e a lei trans são “uma ofensa à razão humana”.

Segundo o arcebispo, as duas leis são “uma falta de respeito imensa a um povo que acaba de sair de uma pandemia”, e que estão sendo aprovadas “aproveitando as circunstâncias, para que esse povo não possa reagir, nem se manifestar, nem expressar seu sentimento, independentemente de que seja uma maioria ou uma minoria”. Para o arcebispo, são leis “iníquas, em certo sentido criminosas e diante das quais a Igreja não pode se calar”.

O arcebispo de Granada afirmou que nossa sociedade “não se rege pela razão”, e sim por “critérios de interesses humanos, de interesses grupais, de interesses de poder, ou por relações pura e simplesmente de poder”.

“A liberdade, convertida em um absoluto onde cada um pode fazer o que quer, voltando-se contra si mesma, gerou as ditaduras mais terríveis”, disse. Para o arcebispo, o fato de que “uma pessoa possa ser castigada pela lei por ter dito que só há homem e mulher significa que as evidências caíram”. Afirmar isso “não significa nenhum julgamento sobre nenhuma pessoa, de nenhum tipo, nem transexual... de nenhum tipo. Mas a realidade é a realidade”, afirmou. O arcebispo disse que, desde o século XIX, acreditamos que somos os “criadores e donos da criação, acreditamos que era possível mudar. Não se pode mudar. Quem nasceu homem será sempre homem; quem nasceu mulher será sempre mulher. Por mais que se tratem com hormônios, por mais que façam operações. Existe uma história oculta de suicídios relacionados a isso. Houve uma época, nos Estados Unidos, que essa prática foi realizada com crianças recém-nascidas durante dez anos e logo foi proibida. Foi proibida porque muitas dessas crianças terminavam em instituições de saúde mental ou suicidando-se”.

Para o arcebispo, o “despotismo esclarecido” do século XVIII surgiu como a “primeira forma de totalitarismo” após a separação histórica entre o humanismo e o cristianismo. Desde então, “a sociedade em que vivemos foi se tornando, cada vez mais, uma sociedade pós-cristã, não cristã”, afirmou. “Jesus Cristo levou o ser humano à plenitude de sua vocação”, disse, mas “a razão se escurece” quando Jesus Cristo deixa de ser “o centro da nossa vida, o centro de nossos desejos e de nossos pensamentos”, acrescentou.

Dom Martínez encorajou os fiéis a “não temer a objeção de consciência e inclusive a desobediência civil”, apesar das consequências que isso possa ter, e pediu “orar e amar a quem nos persegue, porque nos dão a possibilidade de dar testemunho de Jesus Cristo acima de tudo”. Para o arcebispo, “a liberdade não nos é dada pelo Estado. É o Senhor que nos fez livres e ninguém tem o poder de tirar essa liberdade de nós”.

Você pode ler a homilia do arcebispo (em espanhol) INTEIRA AQUI

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