O jovem Facundo levou um mês para cruzar quase toda a América Latina, horizontalmente – de sua cidade natal Jujuy, na Argentina até o Rio de Janeiro – para fazer parte da 28° edição da JMJ e a primeira de Francisco como Sumo Pontífice. Sem ter dinheiro para pagar a passagem, o adolescente viajou quase três mil quilômetros a pé (2.943 km).

“Eu queria ter vindo com as pessoas de Jujuy, mas não pude porque teria que pagar 7,000 pesos (R$ 2.883) e isso é muito dinheiro”, disse Facundo ao Grupo ACI.

Facundo, que se formou no ensino médio ano passado, foi guiado apenas por uma rota que o padre local mapeou para ele.

“Eu estava realmente perdido na Argentina e só comecei a me guiar sozinho quando cheguei ao Brasil”, falou. “Mas eu me perdi mesmo nas grandes cidades, como São Paulo, porque eu nunca tinha saído da minha cidade natal e nunca havia andado de metrô.”

O adolescente foi tocado pela angústia meses atrás, quando se sentiu chamado a ir para a JMJ Rio2013, mas estava com medo de viajar sozinho.

“Não, eu não posso porque não tenho dinheiro o suficiente”, ele relembra em voz alta.
Entretanto, em 19 de maio, “Eu entrei em uma igreja para orar, no meu aniversário”, ele disse. Um “padre estava lá e eu comecei a chorar muito, mas não sei por que”.

Quando o padre perguntou a Facundo a razão de ele estar chorando, Facundo não sabia o que responder e então disse que queria se confessar. “Depois da confissão ele me perguntou se eu gostaria de ir a Jornada Mundial da Juventude, eu olhei para cima e vi uma foto do Papa Francisco com os braços abertos e então, eu disse ‘sim, eu vou! ’”.

Alertando-o dos perigos, o padre disse que estranhos poderiam roubá-lo. “Eu respondi ‘não importa’”, Facundo recorda.

O padre estava relutante, porque não sabia onde o garoto dormiria e o que ele iria comer, e sua mãe dizia que estava louco. Facundo disse que deixou Jujuy “muito animado” em 1° de julho, comunicando seus familiares apenas um dia antes. “Minha família perguntou por que eu estava saindo tão cedo e quem iria viajar comigo e eu disse que viajaria com Jesus”, ele relatou.

“Minha família começou a chorar porque eles estavam realmente assustados, especialmente a minha avó, que ficou doente por causa disso”.

A mãe dele, contudo, deu 600 pesos (R$ 248) e ele começou a andar a caminho do Rio. “Um mochileiro depende do dinheiro, eu me tornei um peregrino de verdade porque peregrinos apenas dependem da fé”, observou Facundo.

“Eu poderia entrar nas igrejas e todos poderiam me olhar, mas eu não me importava, porque eu apenas queria encher-me com mais fé.”

Facundo disse que quando alcançou a fronteira com o Brasil, tinha apenas 100 pesos (R$ 40), então ele decidiu “não depender mais de dinheiro, apenas das orações”.

Ele passou pela estátua de Nossa Senhora em Itatí e sempre repetia para si mesmo “Nossa Senhora me proteja e Jesus me acompanhe”.

“O maior desafio foi entrar no Brasil com apenas R$ 30, com fome e sem saber a língua”, disse Facundo.

Um motorista de ônibus deu a ele um presente, levando-o até a Catedral de Iguaçu, onde ele ouviu a primeira missa em português e dormir em uma escola franciscana.

Na escola, ofereceram a ele um voo direto, mas ele decidiu ir junto com outros monges, que haviam chegado de Boston. E foram andando ao Rio, porque ele pensou que seria melhor e uma peregrinação “mais bonita”.

Ele viajou dia e noite e quando estava assustado rezava o rosário, constantemente. “Em um momento, eu senti que não podia mais fazer isso e não parava de chorar e rezar para Jesus proteger a todos e que sua vontade fosse feita”, contou Facundo.

Depois de dois dias passando fome e com os dedos dos pés machucados e com bolhas, um homem que estava viajando para São Paulo deu a ele, e aos monges, uma carona. “Isso foi muito perigoso, porque nós não tínhamos um lugar para dormir, mas eu continuei rezando o rosário”, disse ele.

Um dia antes da JMJ Rio2013, ele chegou ao santuário de Maria, em Aparecida. “Havia um festival acontecendo e eu percebi o quão perto eu estava, então comecei a chorar”.

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“Eu conheci outro padre argentino e continuamos, mesmo com fome, mas finalmente chegamos ao Rio de Janeiro”, ele disse. “Eu estava com fome, mas estava feliz”.

O Papa, ele disse, sempre diz que um cristão é feliz acrescentando que “dinheiro não vale nada, ele só dá a você segurança, mas Jesus lhe dá verdade e esperança”.

Facundo encontrou um voluntário da Jornada que o enviou a um convento em frente à praia, para ele dormir. “Mas antes de ver a praia, eu prefiro ver o Papa”, ele disse. “E não consegui vê-lo quando ele passou de papamóvel, no outro dia”.

“Eu tive que escolher entre vê-lo um dia e ir para a missa, mas eu escolhi a eucaristia”, ele contou.

O jovem salientou que espera contar ao Papa que ele está certo, “nós devemos deixar Jesus nos guiar e eu fiz isso”.

 “Eu gostaria de me encontrar com o Papa por que padres e Papas não notam pessoas pobres e ele viveu diretamente com os pobres, como se fosse seu irmão”.

“Vale a pena ver um Papa que repara nas pessoas pobres e esta é a razão pela qual eu gostaria de encontra-lo”, ele disse. “Eu gostaria, de verdade, de contar a ele quão bom é seguir Jesus e que ele está certo.”