O Movimento dos Focolares “confiará a um órgão independente” a investigação dos casos de abusos sexuais - e possíveis encobrimentos - que um ex-integrante teria cometido décadas atrás e que teriam afetado cerca de 30 menores na época.

O anúncio foi feito pelo Movimento dos Focolares, em um comunicado no dia 22 de outubro. Na sexta-feira, 16, a imprensa francesa informou que Jean-Michel M., quando foi membro consagrado dos Focolares, teria cometido agressões e abusos sexuais desde os anos 1970.

Jean-Michel M., que foi separado dos Focolares em 2016, teria abusado de cerca de 30 menores que atualmente têm entre 30 e 70 anos.

Em seu comunicado, o movimento informou que começará uma investigação extraordinária sobre estes fatos "que será confiada a um Órgão independente, cuja composição será divulgada em breve".

“A função desse Órgão será a de escutar as supostas vítimas e, posteriormente, recolher depoimentos, bem como investigar eventuais omissões, encobrimentos ou silêncios por parte dos responsáveis do Movimento. Na conclusão das investigações, o Órgão independente manifestará publicamente o seu relatório final”, afirmou.

Por isso, “a fim de permitir o completo desenvolvimento das investigações e garantir a sua total transparência, a Presidente dos Focolares, Maria Voce, aceitou na quarta-feira, dia 21 de outubro, as demissões das respectivas funções de Bernard Bréchet e Claude (Christiane-Marie) Goffinet, corresponsáveis dos Focolares na França, e de Henri-Louis Roche, corresponsável do Movimento para a Europa Ocidental”.

Maria Voce, presidente do Movimento dos Focolares, disse que “o único caminho a seguir é oferecer às vítimas uma plena escuta e reconhecimento dos danos sofridos” e reiterou “a plena e incondicionada colaboração do Movimento, para que seja feito um total esclarecimento sobre os fatos e justiça às vítimas”.

Cronologia do caso

Em seu comunicado, o Movimento dos Focolares afirma que “em 1994 uma vítima apresentou denúncia, constituindo-se parte civil, por assédios sexuais cometidos por J.M.M. em 1981 e 1982 quando tinha 15 e 16 anos. Em seguida à denúncia, J.M.M. foi afastado das suas responsabilidades com os jovens. A investigação se concluiu e não prosseguiu por elementos incompletos; não existiam provas suficientes para o crime de estupro e o crime de assédio foi prescrito”, afirmou.

No entanto, “em dezembro de 1996 J.M.M. foi submetido a um processo civil no qual admitiu os assédios (mas não a tentativa de estupro), pelos quais, em 1998, foi condenado a pagar indenização”.

“A convite dos responsáveis do Movimento, J.M.M. seguiu um caminho psicoterapêutico por alguns anos”, indicou os Focolares.

Depois, “em 2015, após um ulterior pedido da vítima aos responsáveis do Movimento dos Focolares na França e ao bispo, Dom Pansard (ex-presidente do Conselho nacional para os movimentos da Conferência episcopal francesa), que enviou tal pedido ao Dicastério para os Leigos no Vaticano, o caso foi examinado pela Comissão Central para a Proteção integral e garantia dos direitos fundamentais de crianças e adolescentes (CO.BE.TU.) do Movimento dos Focolares, constituída em 2014. Após atento exame do caso, em 2016 a Comissão propôs aos dirigentes do Movimento as demissões de J.M.M. da seção dos focolarinos, e membros consagrados. Tais demissões se efetivaram no mesmo ano", afirmou.

Segundo o comunicado, "em novembro de 2019 a Comissão independente sobre abusos sexuais na Igreja na França (CIASE) recebeu denúncias de outras supostas vítimas de J.M.M sobre o tema em questão".

Na sessão de 16 de novembro de 2019, a Comissão Central para a Promoção do Bem-Estar e a Proteção dos Menores dos Focolares “reabriu o arquivo sobre J.M.M. com o objetivo de contatar as vítimas já identificadas, recolher o depoimento delas e dar a cada uma o total reconhecimento”.

A pedido de uma das vítimas, no dia 18 de setembro de 2020, um encontro com algumas vítimas foi realizado em Nantes (França) na presença do copresidente do Movimento dos Focolares, Jesús Morán, coordenador da CO.BE.TU., o advogado Orazio Moscatello e os líderes do Movimento dos Focolares na França. Na ocasião, Jesús Morán expressou a dor e a vergonha pelos abusos sofridos pelas vítimas “bem como pelo silêncio e falta de providências mantidos durante anos por parte dos diversos responsáveis”.

O comunicado assegura que os membros do movimento na França foram “informados imediatamente sobre este encontro e convidados a assinalar todo tipo de informação útil do seu conhecimento, tal como foi indicado na carta de 26 de março de 2019 (lettera), endereçada pela Presidente dos Focolares e pelo Copresidente a todos os membros do Movimento no mundo”.

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